Cultura

“O QUE ESTÁ EM JOGO, AFINAL?”: Os reais significados do turbante para a cultura negra

“O QUE ESTÁ EM JOGO, AFINAL?”: Os reais significados do turbante para a cultura negra

Por Heloísa Gomes

“O QUE ESTÁ EM JOGO, AFINAL?”: Os reais significados do turbante para a cultura negraReprodução

O turbante, torço ou gelé não é um simples pedaço de pano com até 45 metros de comprimento enrolado na cabeça. Faz parte de uma indumentária milenar riquíssima de história e significados múltiplos. A sua origem ainda é uma incógnita. Há primeiros relatos de sua existência no ano 570 DC (Depois de Cisto) relacionados à fé islâmica. No Brasil, o uso do adereço foi herdado pela influência do povo africano, trazido acorrentado para ser escravo nos engenhos da Colônia.


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Para os países africanos, o turbante tem um significado social, cultural, religioso e também está relacionado à moda. O ojá é utilizado em religiões de matrizes africanas no Brasil, como Candomblé, Umbanda e Xangô do Nordeste. Há uma variedade diretamente ligada ao número de abas, correspondentes a determinado orixá. O gelé serve como um símbolo de proteção para os filhos de santo, em especial para as mulheres.


Jovem Thauane se envolveu numa polêmica pelo uso do turbante em Curitiba, no Paraná


Recentemente, o turbante virou alvo de polêmica no Brasil por conta de uma postagem no facebook de uma jovem, branca, do Paraná. Thauane Cordeiro contou que foi reprimida por uma negra por estar de turbante no metrô de Curitiba. Segundo ela, fazia uso do adereço como forma de esconder a calvície provocada pelo tratamento de quimioterapia para combater uma leucemia da qual está acometida. O movimento negro usou o termo “apropriação cultural” para avalizar a crítica à jovem. Outros tantos ficaram do lado de Thauane e minimizaram a importância do turbante para a cultura afro.


Signo de resistência, o uso do turbante é um código de linguagem quepode indicar a posição social, tribo a qual o individuo pertence e até mesmo o humor de quem ostenta o adereço. ?Usar turbante é empoderar-se, mas, além disso, é provocar no outro a necessidade de mudar, de crescer e de se assumir. Ostentar o turbante é uma maneira de dizer: se ligue. Tire onda. Bote banca?, afirma Bárbara Rocha, sócia da marca Turbanque (que produz os adereços inspirados em amarrações práticas).


VEJA VÍDEO:



Com a necessidade de provocar um resgate cultural e principalmente a tomada de consciência sobre sua história, o turbante é o instrumento mais empoderador da moda afro. Vai além do embelezamento e do contexto estético. “Toda mulher negra se sente rainha quando usa um turbante. Ele não serve para esconder nossos cabelos crespos. Pelo contrário, ele é instrumento de valorização de um povo, de identidade e de resistência que deve ser preservado e continuado?, acredita Bárbara.


Reprodução Instagram @Turbanques


Nas religiões de matriz africana, hindu e islâmicas, a cabeça deve ser protegida, resguardada e ornada. Daí vem a necessidade de utilizar o gelé. É do ori (“cabeça”, em yorubá) que vem nosso discernimento entre certo e errado, bem e mal. Deste modo, a proteção é fundamental.


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Reprodução Instagram @Turbante.se


O corpo tem significado político. Usar um turbante nas ruas é muito mais do que se imagina. É deixar clara sua origem, sua essência e uma representação da consciência. É ato político e luta contra a discriminação racial. Uma quebra do padrão estético da moda que migra para tendências étnicas fora do eixo eurocêntrico e agrega à cultura africana. Por isso, o preconceito associado ao uso do turbante vem diminuindo, enquanto pessoas de diferentes culturas e etnias também se apropriam do ornamento, tornando-o cada vez mais popular.


Cada corpo dará um significado à peça. No ori negro ele é poder, fortaleza, moda, resistência e proteção. Com respeito aos signos que envolvem a peça e consciência de sua representatividade, o uso é livre.


Quanto mais turbantes, mais resistência vestida de beleza.


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