CARNAVAL SEM CORDAS: Modelo é apontado como solução para salvar Carnaval de Salvador
CARNAVAL SEM CORDAS: Modelo é apontado como solução para salvar Carnaval de Salvador
Por Da Redação.
Todo mundo reparou: as cordas estão baixando. O número de trios independentes no Carnaval de Salvador saltou de 200, em 2016, para 300, neste ano. Artistas como Ivete Sangalo e Léo Santana já aderiram ao modelo e saem em blocos sem cordas em alguns dias, levando a crer que estamos diante de uma tendência da folia baiana.
?Foi a melhor semana da minha vida. Pela primeira vez, vi vários trios de perto. A festa ficou mais democrática e agregadora?, relata a estudante paulistana Sabrina Fiuza, de 20 anos. A opinião dela é popular: tanto artistas como Saulo, um dos primeiros do Axé a descerem as cordas, quanto Margareth Menezes já deram declarações semelhantes.
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Armandinho, herdeiro dos inventores do trio elétrico, deu a letra: ?Pra que corda? Se a pipoca tá com a corda toda??. A canção não chegou a concorrer em nenhuma das competições para decidir a música do Carnaval, mas ilustrou o movimento momesco de liberar a festa para o folião que não pagou por um abadá.
Questões econômicas foram o principal fator que motivaram a queda das cordas. Além disso, parte considerável do público tem preferido os camarotes montados ao longo dos circuitos, que contam com conforto, segurança e shows privados.
Pessoas com mais estrada de festa, como Ana Carolina Ribeiro, 24, que frequenta a folia desde que era criança, com a família, também aprovam os trios independentes. ?Quando o Carnaval fica muito caro, o folião que curte a rua perde espaço?, defende. ?Lembro que ficava com vergonha por ser pipoca. Hoje não tem mais isso.?
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Os abadás deram espaço às fantasias, enchendo a avenida de santinhas, índios e anjinhos, e deixando a festa de Salvador com uma aura de Carnaval à moda antiga.
AMBULÂNCIA
A institucionalização da pipoca, porém, também tem seus riscos. É o que pensa o jornalista Hugo Mansur. ?As pipocas é a ambulância para o modelo falido dos blocos. Não se confirma totalmente uma maior democratização do Carnaval?, diz, em entrevista ao Aratu Online.
O articulista acredita que o fim da separação entre bloco e pipoca não ajuda completamente a terminar o prometido fim da segregação social na folia, algo comumente trazido à discussão. Segundo ele, o governo continua afastando públicos diferentes, alocando as atrações para dias específicos. ?A pipoca institucionalizada pelos poderes municipal e estadual tem servido de palco para trazer pro carnaval a guerra dos blocos políticos na Bahia?, afirma.
O dramaturgo Gil Vivente Tavares também alerta para os problemas que envolvem a emancipação da pipoca. “Nenhum almoço é de graça, e quando as estrelas do Axé saem dos blocos para a pipoca, o gasto que era coberto por patrocinadores e associados passa a recair sobre o erário”, afirma.
Há poucos artistas que se voltam contra a tendência. Bell Marques é um deles. ?Ele [o artista que puxa trio sem corda] acha que atrai mais público. Eu não tenho esse problema?, disse, em entrevista ao UOL. Neste ano, ex-líder do Chiclete com Banana desfilou em cinco dias, em dois bloco diferentes.
Ao contrário dos blocos, os custos da pipoca são do Estado, que divide parte dos gastos com a iniciativa privada. Só o Governo desembolsou R$ 3 milhões em cachês.
Apesar disso, o prefeito ACM Neto (DEM) acredita numa boa convivência entre os dois modelos de festa. ?Não dá pra gente tratar os blocos de maneira preconceituosa. Eles geram emprego, eles geram renda. Agora, é importante harmonizar o lugar do bloco, da pipoca?, disse, em coletiva de imprensa, no último dia de Carnaval (27/2).
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