Cultura

Carlos Prazeres x Ricardo Castro: entenda a polêmica em torno da administração da Osba

Nesta quarta-feira (12/7), foi publicado no Diário Oficial do Estado que a Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves não vai mais administrar a Osba após a empresa ter sido desclassificada da licitação por "incapacidade técnica"

Por Da Redação

Carlos Prazeres x Ricardo Castro: entenda a polêmica em torno da administração da Osba

Nesta quarta-feira (12/7), foi publicado no Diário Oficial do Estado que a Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA) não vai mais administrar a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) após a empresa ter sido desclassificada da licitação por "incapacidade técnica". A partir de agora, quem deve gerenciar a Osba é o Instituto de Desenvolvimento Social pela Música (IDSM), mesma instituição que administra o Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), orquestra que também é mantida com recursos públicos na Bahia. Ainda cabe recurso, que deve ser encaminhado em até 5 dias úteis, contando desde quarta-feira (12).


O Aratu On entrou em contato com a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult) para ter acesso ao parecer técnico público que desclassificou a ATCA do edital, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve resposta.


A mudança de mãos, porém, causou polêmica, já que não é só a administradora que será substituída: o maestro Carlos Prazeres, que esteve à frente da Osba por 12 anos, deixará o grupo. Isso porque o também maestro Ricardo Castro, do Neojiba, por ser ligado à IDSM, poderia participar da administração da Osba, e Prazeres e Castro já demonstraram ter uma relação conflituosa nas redes sociais.


Em dezembro do ano passado, Ricardo criticou a Osba por realizar o "Osbrega", concerto formado por canções do brega brasileiro, como "Fogo e Paixão" e "Moça" (do repertório de Wando), "Homem Não Chora" (conhecida na voz de Pablo), "Morango do Nordeste" (popularizada com Lairton e seus Teclados), "Garçom" (de Reginaldo Rossi), "Infiel" (de Marília Mendonça), entre outras. À época, Ricardo disse, em suas redes sociais, que o espetáculo representava um "círculo do inferno nunca Dantes visto neste país".


"Quando uma orquestra sinfônica estadual, depois de conquistar milhões inéditos para seu orçamento e poder contratar músicos excelentes, escolhe esse título para promover um concerto que poderia ser tocado melhor por Lairton e seus teclados, estamos certamente entrando em um círculo do inferno nunca Dantes visto neste país", escreveu ele.


Em outro momento, Carlos Prazeres também se manifestou publicamente sobre esses desentendimentos, e disse que, caso a IDSM vencesse a licitação, não poderia continuar na Osba. “Seria impossível, porque a proposta ligada ao maestro Ricardo Castro já tem um novo maestro previsto. Caso realmente venha outra gestão, me restará desejar sorte, afinal, eu jamais iria torcer contra a orquestra que tanto amo”.


Em nota, IDSM informou que, confirmada a gestão da empresa, o novo diretor artístico e regente da Osba será Cláudio Cruz, maestro e violinista. Desde 2012, Cruz é regente e diretor musical da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, com a qual participou de festivais como o Festival MDR Musiksommer, na Alemanha, o Festival Young Euro Classic, também na Alemanha, o Festival Berlioz, na França, e o Grachtenfestival, na Holanda.


REAÇÃO DO PÚBLICO


Desde que a mudança foi publicada no Diário Oficial, grande parte do público passou a se manifestar a contra a saída de Carlos Prazeres da orquestra. Na segunda-feira (10), foi criado um abaixo assinado a favor da gestão da ATCA e do regente. No momento em que esta matéria foi publicada, o documento estava com 4.912 assinaturas.


Em suas redes sociais, Carlos Prazeres também se manifestou sobre o assunto. Na publicação, ele agradeceu o carinho do público e disse que amou a experiência que teve com a Osba.


Meu público crush querido, eu sequer encontro palavras para agradecer a todas as manifestações de carinho que tenho recebido. Me perdoem por ainda não me pronunciar sobre os acontecimentos. Quero respeitar o rito jurídico e os ritos internos do meu coração. Só digo que eu tenho o que há de mais precioso nesta vida: o carinho e o reconhecimento de vocês. A Bahia foi o que de mais importante aconteceu na minha vida, seja como profissional, seja como pessoa. Aqui foi onde mais amei e recebi amor. Eu serei grato até o último dia de minha vida”.





Nos comentários da postagem, além de apoio a Prazeres, também há críticas a Ricardo Castro. "O preconceito com a palavra 'brega'. Me poupem", reclamou um usuário do Instagram. A produtora e empresária Paula Lavigne também se manifestou: "Ah, não! Poxa, fiquei triste agora". Astrid Fontenelle, que também comentou na publicação, questionou: "Saiu? Sairá? Foi saído? Não!".


Enquanto o resultado final do processo de licitação não for publicado, o IDSM não irá se manifestar sobre o caso. Porém, em nota, o instituto falou sobre a desclassificação da ATCA do processo e apresentou o novo regente da orquestra, Cláudio Cruz.


Confira a nota do IDSM na íntegra:


O Instituto de Desenvolvimento Social pela Música (IDSM) tem a única proposta classificada para gerir a Orquestra Sinfônica da Bahia, OSBA, segundo o edital de seleção 001/2023 da Secretaria de Cultura. O resultado da etapa classificatória foi publicado no Diário Oficial do Estado nesta quarta (12) e agora o processo passa para uma segunda fase de habilitação. A Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA), que participava da licitação, foi desclassificada por incapacidade técnica.


Confirmada a gestão do IDSM, o novo diretor artístico e regente da OSBA será Cláudio Cruz. Conheça mais sobre o músico:


Cláudio Cruz é maestro e violinista, filho de João Pereira Cruz, fabricante baiano de violinos nascido em Andaraí, na Chapada Diamantina. Iniciou seus estudos musicais ainda na infância, com seu pai, e posteriormente estudou com grandes nomes como Erich Lehninger, Maria Vischnia, Olivier Toni, Chaim Taub, Josef Gingold, Kenneth Goldsmith, entre outros. Graduou-se em filosofia pela UNIFRAN (Universidade de Franca) e atualmente cursa o Doutorado em Música na UNESP (Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho).


Cruz começou a se apresentar como solista com apenas 13 anos e aos 15 tornou-se um dos spallas (primeiro-violino) da Orquestra Jovem da FUNARJ (Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro). Aos 18, ingressou na OSESP (Orquestra do Estado de São Paulo), a convite do Maestro Eleazar de Carvalho. Com apenas 22 anos, tornou-se spalla da orquestra, cargo que ocupou até 2014. Ao longo da sua carreira, recebeu importantes prêmios, como o Grammy Awards, Prêmio Carlos Gomes, Prêmio Bravo e o Prêmio APCA, da Associação Paulista de Críticos de Artes.


Seu primeiro cargo como Regente e Diretor Musical foi em 2001, na Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. Com a orquestra, gravou diversos álbuns e realizou montagens de óperas e balés. Com o apoio da diretoria e de importantes patrocinadores, também criou diversos projetos educacionais, numa verdadeira reestruturação da orquestra nos oito anos em que esteve à frente do grupo como gestor. Cruz também foi Regente e Diretor Musical da Orquestra Sinfônica de Campinas, Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e da Orquestra de Câmara Villa-Lobos.


Desde 2012, Cruz é regente e diretor musical da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, com a qual participou de importantes festivais, como o Festival MDR Musiksommer, na Alemanha, o Festival Young Euro Classic, também na Alemanha, o Festival Berlioz, na França, e o Grachtenfestival, na Holanda. Em 2015, a orquestra realizou grandes concertos no Lincoln Center, em Nova York, e no Kennedy Center, em Washington, nos Estados Unidos.


Seu trabalho com os jovens o aproximou do NEOJIBA. Cruz conheceu o programa há alguns anos, quando esteve em Salvador regendo a OSBA. Na ocasião, foi convidado pelo maestro Ricardo Castro a acompanhar um ensaio da Orquestra 2 de Julho. Imediatamente, percebeu que se tratava de um programa sério e bem estruturado. Ao longo dos anos, acompanhou com admiração o crescimento do NEOJIBA em várias cidades da Bahia, além da realização das turnês pela Europa e a participação em importantes festivais internacionais. Em 2020, foi convidado a reger a orquestra, e ficou novamente surpreso com a seriedade, o respeito e a dedicação aos jovens e ao ensino profissional da música, possibilitados pela eficiente administração do programa.


Cruz aceitou prontamente o convite do IDSM para participar como Diretor Artístico e Regente da OSBA na proposta submetida ao edital aberto pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. O maestro teve imediatamente a certeza de que poderiam, ele e o IDSM, construir juntos uma boa gestão, que causará impactos importantes na cultura local.


Em São Paulo, o modelo das Organizações Sociais (OS) foi criado no final da década de 1990, e Cruz já trabalha há muitos anos com algumas dessas organizações. Ele considera que este modelo foi transformador na cultura local, tornando os equipamentos culturais melhor gerenciados. A Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, onde Cruz atua como Diretor Musical e Regente, é gerenciada pela Santa Marcelina Cultura.


Na Bahia, Cruz espera poder realizar um trabalho musical amplo, contemplando diversos repertórios e estilos musicais, além de desenvolver parcerias e projetos pedagógicos, ampliando o raio de ação cultural da orquestra. O maestro acredita que a riqueza cultural da Bahia poderá ser um grande veículo para a gestão artística. Ele foi um dos idealizadores do SIDE, o Setor de Integração, Diversidade e Educação na Orquestra Sinfônica da Bahia, importante iniciativa que poderá integrar ainda mais a OSBA à sociedade, fomentando intercâmbios e troca de conhecimentos.


Cruz espera apresentar uma programação rica, com a inclusão de concursos para jovens solistas e compositores, comissionamento de novas obras de estilos variados, além de séries de música de câmara e concertos em outras cidades e estados. Posteriormente, o maestro também espera programar óperas, balés e concertos com grande coro e, futuramente, pensa em criar coros comunitários.


A marca pessoal de Cruz é o foco na excelência musical. Ele acredita que a inclusão de repertórios com grandes compositores, como Mahler, Richard Strauss e Stravinsky, além de compositores contemporâneos, poderá ampliar o nível artístico da orquestra, por exigir um maior número de ensaios e a intensificação do estudo pessoal.


Cruz também vê com bons olhos a criação do Conselho Curador, por acreditar que esse instrumento permite caminhos mais inclusivos e abrangentes, como já acontece atualmente em grandes orquestras do mundo. Ele defende que é importante pensar a OSBA das próximas décadas, para além das demandas do dia a dia. O Conselho Curador poderá ser uma ferramenta importante nesta discussão.


O maestro espera dedicar um bom tempo da sua vida a este projeto, contribuindo com todos os músicos, administradores e a comunidade, para que tenhamos uma orquestra conectada com a Bahia e alinhada com as políticas públicas do Estado.


Veja a nota da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia sobre o caso:


A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBa) informa que o processo de seleção de Organização Social responsável pela Gestão dos Serviços de Produção e Divulgação da Música de Concerto da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) encontra-se em andamento. O resultado final acontecerá após a fase de habilitação jurídico-fiscal e qualificação econômico e financeira, seguida pelo parecer final da Comissão Julgadora e emissão do Ato de Homologação. As entidades Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA) e Instituto de Desenvolvimento Social pela Música (IDSM), participantes do processo de seleção, iniciado em 11 de maio de 2023, passaram por um processo de análise das propostas e dos planos de trabalhos realizado por uma Comissão Julgadora. O resultado dessa etapa foi publicado no Diário Oficial do Estado da Bahia, no dia 12 de julho de 2023.


A avaliação das propostas de trabalho foi efetuada pela Comissão Julgadora, especialmente constituída para este fim, composta por cinco servidores do quadro permanente do órgão contratante, sendo um deles, obrigatoriamente, integrante da Comissão Permanente de Licitação (COPEL). A Comissão Julgadora atribuiu pontuações para todos os critérios de avaliação dispostos no edital, chegando ao parecer final de que a Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA) não atingiu a Nota Técnica mínima apta para chegar à fase seguinte do processo de seleção, sendo, portanto, desclassificada.


A partir de agora, contam-se cinco dias úteis para interposição de recursos. Após essa etapa, inicia-se a fase de habilitação jurídico-fiscal e qualificação econômica e financeira. Somente após essa fase, a SecultBa, conjuntamente com a Diretoria Geral da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb/SecultBa), divulgará parecer final da Comissão Julgadora e emitirá Ato de Homologação, declarando o resultado final.


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