FOLIA POLITIZADA: Depois de polêmica com BaianaSystem, pequenos trios se posicionam sobre política
FOLIA POLITIZADA: Depois de polêmica com BaianaSystem, pequenos trios se posicionam sobre política
Não é difícil achar política no Carnaval de Salvador. Pouco antes do vulcão do Olodum transformar a Avenida Oceânica, na Barra, num tapete humano, na tarde deste domingo (26/2), podiam-se ver pequenas multidões seguindo trios mais modestos, que tinham a manifestação política como a marca mais expressiva. “A gente tem que aproveitar esse momento em que tá todo mundo na rua para se expressar”, defende Fernanda Del Rey, de 30 anos, que seguia o Microtrio Ivan Huol, liderado pela Banda Geleia Real e pela cantora Márcia Castro.
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A recente polêmica a respeito da banda BaianaSystem e o Conselho Municipal do Carnaval (Comcar) — que, em resposta ao grito de “Fora, Temer” provocado pelo vocalista Russo Passapusso, ameaçou retirar a banda do Carnaval de 2018 por “não ser permitida a manifestação política” no seu Código de Ética — não intimidou quem advoga por uma folia associada à política. No Microtrio Ivan Huol, que desfila timidamente na avenida desde 1996, as reivindicações das pessoas estão sempre em pauta. Neste ano, os protestos foram direcionados ao governo de Michel Temer (PMDB), chamado de “golpista” em diversas marchinhas e paródias. Confira o vídeo:
Para os foliões que acompanhavam a Banda Geleia Real e Márcia Castro — envolvida em uma diferente polêmica a respeito do Trio Respeita as Mina, que desfila na segunda-feira (27/2), no Campo Grande –, as críticas ao ex vice-presidente animavam tanto quanto um hit de Léo Santana. “Quase três milhões de pessoas na rua é uma das maiores manifestações políticas de todas”, explica Nadson Rodrigues, de 21 anos, cuja fantasia de vampiro não o impede de falar de política em termos complexos. Ele é presidente da Associação Baiana de Estudantes Secundaristas (Abes), categoria que ganhou o protagonismo dos movimentos sociais no ano passado com as ocupações às escolas em diferentes cidades do país.
Para deixar claro o teor das manifestações, o estudante advoga que cultura tem tudo a ver com política, salientando que uma das primeiras ações de Temer na liderança do Executivo foi a extinção do Ministério da Cultura. “Vivemos numa época em que nossos direitos vêm sendo ameaçados, precisamos trazer isso para a rua”, expõe. À seu lado, sua amiga Nádila Maria, de 23 anos, também estava disposta a falar. “Todo lugar é lugar de falar sobre política, não só em espaços institucionais”, problematiza a estudante, que também milita por causas estudantis, com uma tiara na cabeça e muita purpurina espalhada pelo corpo.
As manifestações do Minitrio Ivan Huol faziam coro com as feitas pelos seguidores do bloco Ilê Aiyé, neste sábado (25/2), na saída da Senzala do Barro Preto, na Liberdade, que vaiaram o prefeito da cidade, ACM Neto (DEM), xingando-o de “golpista”. Atrás dele, um trio em miniatura, com menos de dez pessoas ao seu encalço, decorado com protestos ao atual presidente.
Mas tem quem não morra de amores pela politização do Carnaval, festa profana e hedonista por natureza. Como o pernambucano Júnior Galvão, de 51 anos, que veio de Caruaru com a família com o único intuito de se divertir. “A gente vive tanta coisa ruim, tanto roubo, corrupção, no ano… O Carnaval tem que ser um descanso, um respiro. Não pode misturar essas p*** não”, fala, enquanto corre atrás do trio, usando a bandeira do estado do frevo como capa. Quando as manifestações políticas começam, o empresário finge que nada está acontecendo e se concentra na folia. “Não dá pra deixar de curtir”, justifica, após gentilmente se recusar a tirar uma foto para ilustrar sua participação nesta matéria.
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