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Isolamento social pode prejudicar fala das crianças; especialistas explicam como identificar e prevenir

A rotina dos pequenos em casa, sem o convívio com outras crianças, aumenta o uso de aparelhos eletrônicos, como tablets, celulares e computadores. O problema, no entanto, é que essas distrações visuais podem prejudicá-los.

Por Cássia Carolina

Isolamento social pode prejudicar fala das crianças; especialistas explicam como identificar e prevenir arquivo/Prefeitura de Guarulhos

Desde o começo da pandemia, em março de 2020, tivemos que nos adaptar a um "novo normal", que inclui um distanciamento social com o qual não estávamos acostumados. O isolamento trouxe uma série de impactos, e se já é difícil para jovens e adultos, é igualmente complicado para as crianças.


A rotina dos pequenos em casa, sem o convívio com outras crianças, aumenta o uso de aparelhos eletrônicos, como tablets, celulares e computadores. O problema, no entanto, é que essas distrações visuais podem prejudicá-los.


Amanda Silva, contadora de 36 anos, é mãe da pequena Heloíse, de dois anos e dois meses. Apesar de ser uma criança ativa, a genitora observou que a menina falava poucas palavras. Mãe de "segunda viagem", a contadora percebeu que, naquele período de desenvolvimento, Heloíse deveria estar mais adiantada na linguagem. 


"Logo no início da pandemia, foi quando ela completou um ano, e eu já percebi a dificuldade de fala dela. Ela falava pouquíssimas coisas", conta Amanda, que reside no município baiano de Capela do Alto Alegre. "Com um ano e oito meses, ao perceber a necessidade, eu procurei um pediatra, e, em conversa com ele, foi dito que até os dois anos seria normal, a questão da fala dela. Porém, ela necessitava ter contato com outras crianças da idade dela", explica.


A contadora, no entanto, ressalta que, por conta da pandemia, havia um certo "receio" em deixar a pequena ter contato com outras crianças. Heloíse, inclusive, já teve Covid-19, em junho do ano passado. A situação a obrigou a um isolamento ainda maior. 


"Eu percebo que a minha filha precisa de convívio com crianças, só que, com a questão da doença, não tem como", completa a mãe da pequena. Amanda esclarece, ainda, que pretende procurar um fonoaudiólogo, para que seja feito um tratamento que ajude a desenvolver a linguagem da menina. "Ela já tem dois anos e dois meses, já deveria estar formulando frases. Ela é bem esperta, porém pra falar, ela trava um pouco", diz.


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PEDIATRAS EXPLICAM


Com mais de um ano de pandemia, as crianças ficaram privadas de uma rotina escolar, que incluía o aprendizado e o contato com outras da mesma idade; além da privação de passeios em parques, clubes, praças e áreas de lazer, para evitar aglomerações. Em casa, muitos pais não possuem tempo para estimular o desenvolvimento dos filhos, através de brincadeiras e atividades. Além disso, ainda há pouco entendimento dos genitores sobre o papel fundamental desses estímulos.


Para a médica pediatra Stephanie Queiroz, que atua nos hospitais Teresa de Lisieux e Santa Izabel, os pequenos foram os mais prejudicados com o isolamento. "A gente percebeu uma regressão das crianças que estão agora dentro de casa, porque antes muitas tinham um vocabulário extenso e agora, sem esse estímulo de criança com criança e de professores com as crianças, o vocabulário começou a ficar reduzido. E no casos de crianças que ainda não frequentavam a escola, os pais estão tendo muita dificuldade de fazer esse estímulo", explica a médica.


A também pediatra Juliana Cabral de Oliveira afirma que o uso excessivo de telas é prejudicial para o desenvolvimento dos mais novos. A médica trabalha nas clínicas Crescer e Dr. Antônio Carlos Vieira Lopes.


"Até dois anos de idade, o uso de telas é proibido. Acima de dois anos, esse uso passa a ser permitido em um tempo muito restrito", destaca a profissional. Na pandemia, as crianças ficam expostas às telas por horas, e essa exposição faz com que elas desviem toda essa atenção ao que estão assistindo, e deixam de lado outras atividades próprias para a idade delas, e que ajudam a desenvolver uma série de coisas.


"A gente percebeu que algumas crianças que já tinham desenvolvido a fala passaram a estagnar e mesmo a retroceder nessa situação. Isso aconteceu porque a televisão não estimula, não interage com a criança. A criança não faz absolutamente nada, fica inerte, assistindo a algum vídeo, sem precisar falar, conversar ou se deslocar", esclarece.


A pediatra Aline Galy, professora da UniFTC que atua no Hospital Municipal de Salvador (HMS), salienta que a falta de interação social também tem grande impacto no atraso do desenvolvimento da fala e no retrocesso dos pequenos que já estavam aprendendo a falar. "A quarentena, e o fato da gente ficar isolado dentro de casa, privou essas crianças de interação social, que é muito importante para a aprendizagem, tanto para proteger nosso cérebro como para desenvolver habilidades", pontua.


COMO ESTIMULAR?


Como pontuado pelas pediatras, o estímulo feito pelas mães, pais ou responsáveis é extremamente importante para o pleno desenvolvimento das crianças. E não há segredo: brincadeiras e atividades em casa podem ser de extrema ajuda para o desenvolvimento. Cantar, contar histórias, ajudar a criança a nomear figuras, imitar sons de animais e meios de transporte, estimular a fala por meio da alimentação são coisas simples e praticáveis no dia a dia, que a longo prazo têm efeito positivo.


"Está todo mundo em casa, um pouco estressado, mas precisamos ter paciência com essa rotina", diz a médica Stephanie Queiroz. "Quando você for dar comido para o seu filho, dê um pouco de autonomia para ele. Deixa ele brincar com a comida, pegar na comida, sentir o cheiro, sentir o sabor. E naquele momento ali de alimentação, você [pai/mãe] pode falar sobre as cores, sobre os alimentos, e isso já ajuda a criança a desenvolver", relata.


Já Aline Galy reforça que é necessário haver uma interação entre pais e filhos, desde o nascimento. "Eu sempre oriento os meus pacientes: desde dias de vida, explicar tudo que os pais vão fazer com os bebês. Por exemplo: "Joãozinho, olha, agora a mamãe vai tirar sua fralda", "mamãe agora vai colocar de bruço", "mamãe vai ter dar banho, a água está quentinha". Então, desde sempre, explicar para os bebês o que estamos fazendo já é um grande estímulo. A grande forma de os pais estimularem a fala das crianças é conversando, interagindo. Já que elas não podem ir pra escola, não podem interagir com outras crianças, vamos interagir dentro de casa", assegura Galy.


No caso de os pais perceberam que a criança está com dificuldades na fala, atraso, ou mesmo estão em dúvida se a fala está adequada para a idade ou não, a médica Juliana Cabral explica que é necessário procurar imediatamente um pediatra. "Pode ser necessária uma investigação, ou uma orientação de estímulo adequado. Não deixe isso se estender. Se perceber que tem algo errado, procure um profissional, converse, grave vídeos da criança falando e interagindo no ambiente dela, para que o pediatra tenha noção. Isso ajuda bastante a entender como é essa criança no ambiente dela. Ou, avalie a possibilidade de um atendimento domiciliar, onde o pediatra pode ser inserido no ambiente da criança e consiga avaliar outras situações que no consultório, às vezes, a gente fica limitado", afirma.


LEIA MAIS: Vamos falar sobre capacitismo?


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