Com Covid e varíola dos macacos em voga, virologista defende que Carnaval de Salvador não seja realizado em 23; "vai aparecer nova variante"
O virologista Gúbio Soares defende a opinião da não ocorrência da Festa de Momo. Para ele, o risco de letalidade poderá ser maior, porque a vacina protege contra o vírus original, mas não contra as variantes.
Em pauta, uma discussão reúne personagens de vários setores da sociedade soteropolitana relacionadas com a realização do Carnaval. O fato é a probabilidade da criação de um novo circuito oficial para a festa, que poderá funcionar, já em 2023, na orla da Boca do Rio.
Com a adoção do local, as principais atrações do Circuito Dodô seguem para a nova passarela da folia, próximo ao Centro de Convenções de Salvador. Assim, o glamoroso Barra-Ondina passa a ser palco de atrações alternativas.
A proposta tem dividido opiniões entre artistas, empresários, trabalhadores informais e moradores do bairro da Barra. Todos defendem interesses particulares, em sua maioria, motivados por razões econômicas.
Uma questão fundamental, talvez, está sendo esquecida. Existe segurança sanitária para a ocorrência do Carnaval nesse momento da pandemia? Para o doutor em virologia Gúbio Soares Campos, a resposta é não.
Paralelamente, a Covid-19 segue fazendo vítimas, ainda que o processo de imunização contra a doença esteja caminhando em sua segunda fase de reforço, na capital baiana. Apesar de todo esforço das autoridades da área da saúde pública, a situação tende a continuar fora do controle.
Na Bahia, atualmente, existem mais de 4 mil casos de pessoas infectadas. No último mês de abril, esse número, segundo boletim publicado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), havia, finalmente, baixado de 1 mil, após dois anos seguidos, permanecendo em patamar mais elevado.
Após as festas de São João na capital e interior do estado, as ocorrências ligadas à pandemia apresentaram números preocupantes. Em julho, 325 pessoas morreram por causa da doença na Bahia. O número de mortes é bem maior que os registrados em maio (82) e junho (89), os dois meses anteriores.
Doutor em virologia e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gúbio Soares é enfático ao dizer que, "com certeza", o aumento de casos está relacionado com o período de festas juninas. "Quanto mais [haja] aglomeração, mais o vírus vai ter facilidade de infectar as pessoas", disse à nossa reportagem.
Questionado sobre o Carnaval, ele salientou que a festa sempre foi um "local" de muitas infecções. "Em anos anteriores você via gripe e conjuntivites, entre outras enfermidades, por causa das aglomerações. As doenças transmissíveis pelo aparelho respiratório e pelo contato físico, sempre estiveram presentes", comentou.
No caso da Covid-19, segundo Soares, há um grande problema, porque a doença não foi extinta e, além disso, as vacinas que estão aí não vão resolver a situação, pois as novas variantes escapam ao processo de imunização.
O especialista defende a opinião da não ocorrência da Festa de Momo. Para ele, o risco de letalidade poderá ser maior, porque a vacina protege contra o vírus original, mas não protege contra as variantes.
"Elas aprenderam a escapar e vão estar com os indivíduos que vão voltar pra suas casas, onde vão encontrar pessoas vacinadas, [algumas] idosas ou portadoras de comorbidades, que vão contrair [a doença], podendo ir a óbito", considerou.
Gúbio avalia que o Carnaval será uma fonte experimental para o próprio vírus e alerta que as vacinas atuais não estão resolvendo o problema mais grave, que é a eliminação do vírus. Além disso, o virologista salienta que existem pessoas que não tomaram a vacina, alguns só receberam uma dose e outras, apenas, duas.
“Vai haver pessoas que vêm de fora, infectadas, com variantes que circulam no seu país [...] Esse vírus tem uma facilidade de fazer mutações e tendo outros vírus presentes, eles vão trocar informações, através do material genético, e vai aparecer uma nova variante e novas linhas de defesa pra que ele não morra”, explicou o professor.
VARÍOLA DOS MACACOS
Como se não bastasse a preocupação com a pandemia do coronavírus, o surto de uma nova doença começou a tomar proporções continentais. A varíola dos macacos, transmitida pelo vírus monkeypox, é uma enfermidade com sintomas muito semelhantes aos observados em pacientes com varíola, embora seja clinicamente menos grave.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o período de incubação da doença é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias. Os sintomas mais frequentes são febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, linfonodos, calafrios e exaustão. Erupções na pele geralmente se desenvolvem no período de um a três dias após surgimento da febre.
De acordo com Gúbio Soares, a doença está atingindo a população mais jovem, por ser mais propícia a manter contatos físicos com maior número de pessoas e por estar mais vulnerável às relações sexuais sem a devida proteção. "Já existe trabalho publicado, mostrando que o vírus está presente no sêmen e as pessoas estão facilitando muito. Imagine no Carnaval como não vai ser essa transmissão?", questionou.
Na Bahia, a Secretaria da Saúde (Sesab) já tem registro de 19 pessoas infectadas: 13 ocorrências na capital, além de dois casos em Santo Antôno de Jesus e os demais em Cairu, Conceição do Jacuípe, Ilhéus e Mutuípe.
Em Salvador, na última quarta-feira (3/8), foi implantado um Plano de Contingência para lidar com possíveis infecções. A iniciativa tem como objetivo promover ações de detecção, tratamento, resposta, monitoramento e mitigação, diante da suspeição e confirmação de casos no município.
Ao Aratu On, o professor da Ufba informou, porém, que os indivíduos com idades acima de 40 anos tiveram a oportunidade de tomar a vacina contra a varíola que foi aplicada até o ano de1980, quando a enfermidade foi dada como extinta no mundo. “Essas pessoas, provavelmente, não vão adquirir essa doença, porque já foram vacinadas [...] O pessoal mais jovem, possivelmente, através do contato físico e do beijo correm o risco de se contaminarem", alertou.
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