O papel das redes sociais nos massacres nas escolas
A recente onda de violência nos espaços escolares tem preocupado toda a sociedade e causado medo em crianças e pais de estudantes. Essa série de ataques, classificada pelo ministro da justiça Flávio Dino como uma epidemia, tem convidado à reflexão sobre as suas causas para que seja possível pensar maneiras de prevenir novos casos.
Nesse contexto, as redes sociais costumam ser apontadas como responsáveis, porque é possível rastrear toda a movimentação nas comunidades virtuais que levaram aos casos de violência.
Inicia-se daí tentativas de diálogo e regulamentação das empresas para impedir novos ataques. Contudo, para que isso funcione é necessário compreender o motivo da internet ser um terreno fértil para a criação do discurso de ódio que está por trás desses atentados.
Primeiramente é importante destacar os efeitos psicológicos nos usuários das redes sociais. Como os algoritmos tendem a juntar pessoas que pensam de forma parecida, formam-se bolhas em que as pessoas ficam presas em conteúdos que confirmam sua visão de mundo.
Nessas bolhas, o indivíduo sente que finalmente encontrou seu lugar no mundo onde ele é compreendido e reconhecido. O problema é que esse tipo de agrupamento possui características nocivas, como a diminuição do senso crítico e o aumento da agressividade.
É possível pensar essas comunidades virtuais com o auxílio do conceito de psicologia das massas, cunhado pelo psicólogo francês Le Bom e aprimorado por Freud no texto A psicologia das massas e a análise do eu. Nessa obra, o psicanalista explica como os indivíduos tornam-se mais violentos e submissos quando estão em grupo.
O que as redes sociais fazem é potencializar essas características. Isso acontece por dois motivos. Primeiramente pode-se afirmar que contemporaneamente as pessoas podem estar todo tempo conectadas as suas comunidades através do uso do smartphone.
Em segundo lugar é importante destacar o fato de que é possível se conectar com pessoas que estão muito distantes. Assim, é possível formar grupos muito específicos que não se formariam sem o auxílio das novas tecnologias.
Esses dois fatores permitem que conteúdos extremistas possam ser encontrados com facilidade e a presença constante nas comunidades virtuais faz com que os participantes se tornem cada vez mais extremados.
Além disso, é importante negritar o fato de que as grandes empresas de tecnologia que controlam as redes sociais conhecem a importância do ódio e da violência para manter as pessoas em suas plataformas.
Conteúdos envolvendo teorias da conspiração, pensamento da extrema direita e demais produções pautadas no medo e na raiva são frequentemente oferecidos no YouTube, no Twitter e em demais plataformas.
Por esse motivo, por mais que se tente procurar e punir os responsáveis por criar e compartilhar esse tipo de conteúdo, a tarefa é muito difícil porque as próprias redes sociais se encarregam de alavancar outros influenciadores com o mesmo perfil.
O jornalista italiano Giuliano da Empoli, em seu livro Os engenheiros do caos, nos mostra como a ascensão da extrema direita foi impulsionada por essas características do mundo virtual. Em busca da atenção dos usuários as empresas bombardeiam conteúdos que despertem medo e raiva. Como efeito surgem comunidades de ódio como as que realizam ataques a escolas.
Dessa forma, para tratar essa questão de forma mais profunda, é preciso questionar o funcionamento dos algoritmos. Ainda que buscar e punir os incitadores de crimes de ódio seja necessário, não é suficiente.
É preciso levar a sério a proposta de regular as redes sociais. Se todos os serviços da sociedade possuem regulação, a internet não poder ser uma exceção, sobretudo quando já se conhece os efeitos nocivos que pode produzir.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.