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É contra o retorno das escolas? Leia antes de comentar

Colunista On: Priscila ChammasJornalista, mãe, empreendedora e ativista pela liberdade
É contra o retorno das escolas? Leia antes de comentar

Nesta semana, o Brasil chegou à triste marca de campeão no ranking mundial de escolas fechadas. A final foi disputada com o país africano Sudão do Sul, que acabou levando a melhor quando reabriu suas escolas na última segunda-feira (3/5). Sem greve! Será mesmo que o mundo inteiro está errado e apenas o Brasil está certo? Pior é ter que ouvir: “pra quê essa pressa?”, sobre uma atividade essencial que levou 411 dias para começar ser liberada na Bahia. Mas essa não é a única fake news que estão espalhando para amedrontar as pessoas. Tenho certeza que você já ouviu (ou até falou) alguma delas por aí. Vamos lá?


1) Surtos/ mortes em determinada escola, após a reabertura


O vírus tem um período de incubação que gira em torno de 5 dias após o contato. A partir daí, o tempo médio para uma pessoa ter seus sintomas agravados, ser internado, entubado e ir a óbito levaria mais 10 a 15 dias, em média. Ou seja: todas as notícias de surtos e mortes em escolas que você viu nesta semana são fake news, simplesmente porque ainda não deu tempo de tudo isso acontecer! Por enquanto, ainda não apareceu nenhuma variante de covid que cause morte fulminante.


2) “A vida do meu filho é mais importante”


Disso ninguém discorda. Mas se seu filho não tem nenhuma má-formação ou comorbidade grave, o risco de morte é quase nulo. “Quase”, porque a medicina não trabalha com risco zero. Uma simples visita aos dados oficiais do governo da Bahia mostra que, enquanto a taxa de letalidade de covid para idosos com mais de 80 passa de  27%, em crianças e jovens abaixo de 19 anos, não passa de 0,1%, a maior parte deles com doenças pré-existentes. A taxa real é ainda menor que 0,1%, pois essa é a faixa etária menos testada, por ficarem muitas vezes assintomáticos. O CDC americano estima 0,003% de letalidade na faixa de 0 a 19 anos. Outros vírus, como sarampo, bronquiolite, e a própria H1N1 (gripe comum) são mais agressivas em crianças do que o coronavírus, e as escolas nunca fecharam por causa deles. 


3) Criança pequena não segue protocolo


Muitas vezes, segue sim, melhor até que os adultos. Mas não precisamos depender disso numa escola infantil. O fato é que quanto menor a criança, menor é sua capacidade de transmissão deste vírus, o que acaba compensando o não uso de máscara e um contato mais próximo da professora ou do coleguinha. A maior parte dos países do mundo optou por iniciar o retorno pelo ensino infantil, justamente por ser o mais seguro. Uso de máscara por menores de 5 anos não fez parte dos protocolos, e não há notícia de nenhum surto causado por crianças nestas escolas. Corroborando com o que todos os estudos já apontavam, uma recente  pesquisa de OXFORD comparou as taxas de transmissão em ambiente domiciliar, que é onde uma pessoa infectada tem mais chance de contaminar outras pessoas. Chegaram à seguinte conclusão:


Adulto para criança - 73%


Criança para adulto -  8%


Criança para criança - 3%


Ou seja, mesmo sem protocolo algum (dentro de casa), as crianças oferecem muito pouco risco de contaminar adultos. Imagine numa escola, onde esses adultos (e mesmo as crianças) estão seguindo protocolos?  As chances de seu filho pequeno pegar covid de um coleguinha e passar para você ou outro adulto é pequena. Você sair para trabalhar é mais arriscado que mandar seu filho para a escola.


4) Meu filho pode trazer o vírus pra casa


Se seu filho for menor de 10 anos, ele se enquadra (em maior ou menor grau) na situação acima. Se for maior, a esta altura do campeonato, entende-se que já esteja relativamente acostumado aos protocolos e seja capaz de segui-los da mesma forma que os adultos. Além do mais, não podemos esquecer que a escola é um lugar acostumado a ensinar boas práticas, e é capaz dele começar a dar lição de moral em qualquer conhecido que ouse descumprir uma regra do protocolo. 


5) Escola é local de alto risco de contaminação


Não, não é. Escolas com protocolos simples são lugar de proteção, e não de contaminação. Um estudo feito pelo Instituto Insights For Education, com 191 países que reabriram escolas concluiu que a reabertura não teve qualquer relação com aumento de taxas de infecção. Mais do que isso, dados da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo mostraram que as taxas de contaminação em escolas (incluindo as públicas) são 33 vezes menores que na população em geral.


6) Educação se recupera depois


Muitas vezes, não. Existem janelas de oportunidades que precisam ser obedecidas no processo de aprendizado. Ou seja, existe idade certa para receber cada tipo de estímulo pedagógico, de ser apresentado a cada tipo de conteúdo... e a criança que tiver essa janela atropelada, possivelmente terá problemas de aprendizado pelo resto da vida.


Além disso, em se tratando de estudantes mais vulneráveis, muitos estão deixando a escola para entrarem no mercado de trabalho (em empregos de baixa qualificação) ou  – pior – no mundo do crime. E esses não voltarão mais a estudar.  O Brasil já regrediu duas décadas em evasão escolar, por conta do fechamento prolongado de escolas. Os efeitos disso durarão décadas.


7) Os professores ainda não estão imunizados


Estão. A primeira dose da Astrazeneca (vacina que os educadores tomaram) já garante imunidade maior que as duas doses da Coronavac (vacina que os idosos estão tomando). Enquanto os professores do mundo todo retornaram às salas de aula sem vacina, todos os profissionais da educação de Salvador já foram vacinados, e não há qualquer razoabilidade em esperar mais de três meses para aumentar a eficácia em 5 (cinco!) pontos percentuais.


Nenhum lugar do mundo atrelou retorno das escolas à vacina. E nenhuma outra profissão – muitas até mais expostas, continuaram trabalhando durante toda a pandemia, sem vacina. Professor não é uma atividade mais exposta que caixa de supermercado, atendente de farmácia, motorista de ônibus ou aeromoça (e quem diz isso é um estudo da UFRJ). Nenhum deles ficou 14 meses parado, esperando vacina.


8) Você quer se livrar do seu filho


Sabe aquela mãe que leva o filho pra adaptação na escola e só não entra na sala junto porque não a deixam? Somos nós. Somos mães (e pais) que perceberam a tristeza nos olhos de nossos filhos, que não acharam justo obriga-los a pagar sozinhos o preço da pandemia, mães e pais que observaram crianças regredindo, desaprendendo a falar, a ler, voltando a usar fraldas e chupetas, ficando deprimidas e até falando em suicídio. Somos mães e pais que não nos contentamos com a “solução” fácil de fechar escolas indefinidamente e fomos atrás de estudos, informações. Famílias que foram ouvir a tão falada CIÊNCIA. Por que ela não vale agora?


Há entre nós, sim, quem precise deixar o filho num local seguro para poder trabalhar. Mas quando você é atendido por uma mãe no supermercado, na farmácia, ou num hospital... se importa em saber com quem ela deixou os filhos para poder atendê-lo? Muitas mulheres deixaram de trabalhar para ficar com os filhos, e não foi à toa que a participação feminina no mercado de trabalho retrocedeu 30 anos. Mas boa parte precisa escolher entre “se livrar” do filho ou matá-lo de fome.


9) Todo país que abriu, fechou de novo


É mentira. No início da pandemia, não se sabia nada sobre o vírus e seus efeitos nas crianças, então todo o mundo optou por fechar temporariamente as escolas. Meses depois, a ciência descobriu que, de todas as medidas de isolamento, fechar escolas era a de menor bônus e maior ônus, e passaram a priorizá-las em detrimento de outras atividades. As últimas a fechar e as primeiras a reabrir. Esse foi um apelo feito pela Unicef, corroborado pela ONU, OMS e Unesco. E foi assim que os países civilizados trataram as escolas na segunda onda.


10) Por que voltar se meu filho está tão bem na aula online?


Você tem o direito de decidir se manda ou não o seu filho para a escola. Ninguém quer obriga-lo, só pedimos que não nos proíbam. Ensino remoto funciona para uma minoria de estudantes. Como alfabetizar uma criança por EAD? Não existe aula on-line para crianças de 2, 3 anos de idade. Os estímulos que elas precisam da escola não podem ser transmitido por uma tela. E as crianças com autismo, hiperatividade,  déficit de atenção, síndrome de down...Você acha mesmo que aula EAD está funcionando com elas?


Ainda tem os jovens que não tem acesso à internet, computador, tablet, ambiente propício em casa ou um adulto para acompanhar as tarefas. A rede estadual da Bahia ficou um ano inteiro sem qualquer tipo de aula, e foi “premiada” com a nota zero na pandemia, segundo um estudo da FGV. O pior estado em educação! Se seu filho está bem no on-line (e sugiro avaliar também a parte psicológica), que bom para ele. Mas é preciso ter empatia e acolher aqueles que não conseguem evoluir nesta modalidade.


11) Bônus: “Você nunca pisou numa escola pública”


Nesse item, posso falar por mim, que visitei algumas escolas municipais antes da reabertura e constatei que, sim, essas escolas estavam preparadas. São todas as escolas públicas que estão arrumadinhas? Claro que não. E um total de zero pessoas defende a reabertura de escolas sem protocolos. A luta foi bem árdua até aqui, e não temos nenhum interesse que a reabertura dê errado, e todo o nosso trabalho vá por água abaixo. Defendemos que:


As que estiverem preparadas (e os protocolos são bem simples) reabram imediatamente);

As que não estiverem sejam imediatamente adequadas;

As que forem impossíveis de adequar sejam desativadas e os alunos realocados para outras escolas;

A dúvida que fica é: os sindicatos tiveram absolutamente todas as suas solicitações atendidas nesta pandemia. Mas em suas exigências, nunca mencionaram a readequação das escolas aos protocolos. Por que essa falta de interesse?  


E aí? Mudou de ideia ou ainda está desconfiado? Se quiser ter acesso aos estudos, me envia um e-mail (priscila.chammas@gmail.com), identificando qual o material desejado, que mando pra você!


*Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Priscila Chammas

Priscila Chammas

Priscila Chammas é jornalista, mãe, empreendedora e ativista pela liberdade. Já trabalhou na grande mídia, foi candidata nas eleições e, atualmente, integra o movimento de famílias em prol da priorização da educação em Salvador.

Instagram: @priscilachammas

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