Podem saber mais, usar terno... Mulheres ainda não têm o mesmo prestígio que os homens
Foto: ilustrativa/Pexels
Vou, de inicio, preparar vocês para me odiarem um pouquinho. O que publicando pode causar um certo desconforto, principalmente sendo dito por uma consultora de moda e imagem.
Vamos combinar? Nada que você vista vai te trazer o prestígio que os homens têm. Nós mulheres podemos vestir o mesmo terno, a calçar o mesmo sapato, ter o mesmo corte de cabelo e ainda assim não teremos o mesmo olhar para a nossa competência. Exemplo disso? Os homens trans.
Surpresa? No fundo não, né? Porque muitas de nós já passamos por isso! Sabia mais que ele, estava até mais bem vestida que ele, mas a promoção chegou para ele e não para ela.
No meu caso, mesmo tendo o estudo mais aprofundado sobre moda, já me deparei com homem de conhecimento raso com ousadia para não me deixar falar. Quem presenciou ouviu os despautérios ditos.
Diante tudo isso, eu, enquanto crítica do meu próprio trabalho, vinha me questionando se não reforço o prestígio dos signos e das roupas vestidas pelos homens. Principalmente quando eu prego sobre os significados de cada peça. Quando falo da formalidade versus a informalidade de cada roupa.
Tecido rígido? Formalidade!
Tecido fluido? Informalidade.
Pele mais coberta? Formalidade!
Mais pele à mostra? Informalidade.
Linhas retas? Formalidade!
Linhas curvas? Informalidade.
É cabível entender assim? Mais formal o que vem sendo, ou foi originado, pelo vestir dos homens?
Outro ponto: será que eu também não estou reforçando o abismo das diferenças de gênero? Quando digo que babado é lido como romântico, delicado, e a risca de giz como mais imponente. Isso não reforça a opressão sobre as mulheres?
Pois bem, ao ler o livro "A Moda e o Cérebro", de Nathalia Anjos, entendi que diante da neurociência você não consegue desconstruir os signos se não souber os seus significados. Eu não compreendia e me via indignada ao ver a ciência sendo usada para manutenção de opressões. Mas agora eu sei o porquê. Eu acredito no avanço da humanidade para um futuro melhor, e tenho enraizado em mim que a ciência pode - e deve - ser usada para isso.
Meu maior e melhor output este ano foi entender que para desconstruirmos as opressões através da moda precisamos "bugar o sistema". Como fazemos isso? Usando os diversos signos em camadas e não nos colocando em caixinhas.
Contem comigo enquanto consultora e militante feminista.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.