Filmes e séries

Com caminhos óbvios, 'Ninguém Quer' só é salva pelo casal protagonista

Enoe Lopes Pontes
Colunista On: Enoe Lopes PontesPesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries
Série Ninguém QuerDivulgação

Uma comédia romântica, em formato de série, com Kristen Bell e Adam Brody? Essa parece ser uma ideia perfeita! Mas, em sua totalidade, Ninguém Quer peca por deixar toda a responsabilidade do entretenimento para o casal central e trazer subplots e coadjuvantes sem graça ou antipaticos. 

Apostando na rivalidade feminina como condutor, o tom de disputa entre a família de Noah (Brody) com Joanne (Bell) remete à uma estrutura ultrapassada de comédia. O seriado é uma espécie de Entrando numa fria em 2024, mas sem o carisma do elenco do filme.

Ao mesmo tempo, o jogo de cena dos protagonistas envolve o espectador. Acompanhar o desenvolvimento da relação entre Joanne e Noah é o ponto alto aqui. A timidez e a retenção do rabino com a extravagância e leveza da podcaster agnóstica equilibra o tom da narrativa. 

Ainda que os conflitos não engajem e que a trama seja previsível, é também agradável rir do tempo cômico de Bell. A atriz é sempre competente no uso de jogo de palavras. Kristen sabe como se valer das pausas e dos respiros para elevar as piadas - que nesta produção não são tão engraçadas assim, mas o trabalho da intérprete ajuda.

Em relação às subtramas, falta uma coesão entre elas para que as mesmas se conectem com o plot principal. Ou, pelo menos, que sejam menos óbvias. Ou, pelo menos, que possuíssem personagens mais carismáticas. Entre os papéis descentralizados, apenas Morgan, irmã de Joanne, gera uma empatia.

Contudo, o espectador não sabe nada sobre ela, além do fato de que ela é irmã de Joanne e descolada. Desta forma, a sua história e o que a rodeia ficam superficiais. E o mesmo pode ser dito dos seus quesitos técnicos. A direção é morna. 

Não há nem inventividade e nem um uso inteligente da norma. A encenação é básica, não sendo ruim, mas reforçando um tanto da obviedade. Somente em alguns trechos que a direção tenta enganar o público com certos movimentos de câmera e enquadramentos, criando algumas gags.

Em termos sonoros, talvez a situação seja a mesma da mise-en-scène. Pouca inventividade, recursos um tanto 1990 e um espaço considerável para a frustração. Imagem e som podem elevar o impacto de uma produção. Mas aqui não interferem para melhorá-la ou piorá-la.

Em uma história de romance, a suspensão também é necessária. E as sonoridades poderiam trabalhar essa atmosfera de tensão e relaxamento de maneira mais expressiva. Recursos como música incidental e ruídos são maneiras de convocar alguma inventividade. No entanto, som, encenação e história são mais do mesmo. 

Não há Kristen Bell que salve a obra! No entanto, é necessário pontuar que este é um tipo de produção que agrada o público em geral. Quase neutra e com um humor suave, Ninguém Quer pode cativar justamente por sua simplicidade e seu lugar de comédia romântica “tipo anos 1990”. 

Desta maneira, ela não é em si uma perda de tempo, porém pode ser frustrante para quem espera algo mais elevado dela. 

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Enoe Lopes Pontes

Enoe Lopes Pontes

Doutoranda e mestre em Comunicação, formada em Artes Cênicas e em Comunicação Social, Enoe Lopes Pontes é pesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries. É membro da ABRACCINE e do Coletivo Elviras. Cinéfila desde os 6 anos, sempre procurou estar atenta para todo tipo de produção, independentemente do gênero, classificação ou fama. Do cult ao pipoca, busca observar as projeções com cuidado e sensibilidade. Filmes preferidos: Hiroshima Mon Amour e Possession.

Enoe integra a equipe do Coisas de Cinéfilo, como crítica.

Instagram: @enoelp

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