Coreógrafa baiana denuncia racismo após ser expulsa de hotel em São Paulo
Professora teve reserva encerrada e pertences colocados em sacos de lixo por funcionário de hotel
Fonte: Franciano Gomes*
A coreógrafa, bailarina e professora baiana Ângela Cheirosa usou as redes sociais para denunciar um caso de racismo do qual foi vítima no último fim de semana, durante participação no Festival AncestraliDança, na cidade de Paraibuna, em São Paulo. Após retornar ao hotel onde estava hospedada, ela foi surpreendida com a notícia de que sua reserva havia sido encerrada, ao contrário da hospedagem da colega, que seguia normalmente. Para piorar, os pertences de Ângela foram recolhidos sem autorização e colocados em sacos de lixo.
O festival, que promovia workshops, palestras e apresentações de dança do ventre, havia convidado Ângela para atuar como mestra do evento. Entre suas atribuições, estavam aulas práticas, apresentações artísticas e palestras. Um dos destaques foi a discussão sobre pautas raciais, área em que a artista se especializou ao longo de sua trajetória.
A Fundação Cultural de Paraibuna, responsável pela organização do festival, também cuidou das reservas no Hotel Vila di Luca, que incluíam quartos separados para Ângela e sua colega de trabalho, com check-in previsto para sábado, às 12h, e check-out programado para segunda-feira, no mesmo horário.
'Ele me comunicou que eu não tinha mais quarto'
No domingo, após almoçar e concluir as atividades no evento, Ângela foi informada por um funcionário do hotel que a reserva havia sido encerrada, enquanto a da colega permanecia inalterada. Ao questionar o motivo, descobriu que não houve qualquer tentativa de contato com os organizadores do festival. Sem autorização prévia, os pertences da artista foram retirados do quarto, colocados nas malas, e o que não coube foi separado em sacos de lixo.
Roupas foram colocadas em sacos plásticos. Foto: Arquivo pessoal
'Não sou racista, tenho uma irmã negra'
A situação gerou grande repercussão entre os participantes do festival, levantando suspeitas de discriminação racial, já que Ângela, mulher negra, foi tratada de maneira diferente da colega. O proprietário do hotel, em resposta à polêmica, alegou: "não sou racista, tenho uma irmã negra".
Apesar do episódio, Ângela seguiu com os compromissos no festival, apresentou-se no evento e contou com o apoio da produção e da Fundação Cultural, que providenciou a mudança para outro hotel.
A coreógrafa registrou um boletim de ocorrência online e aguarda os próximos trâmites para formalizar um processo contra o estabelecimento.
A reportagem solicitou um posicionamento do hotel e aguarda retorno.
Malas da coreógrafa foram retiradas do quarto. Foto: Arquivo pessoal
Uma vida de resistência
Residente em Camaçari, na Região Metroplitana de Salvador, Ângela Cheirosa é idealizadora do movimento Bellyblack, que visa promover o protagonismo de mulheres negras na dança do ventre, lutando por uma arte inclusiva e democrática. Com uma trajetória marcada por desafios, a artista já apresentou seu trabalho em diversas cidades brasileiras e participou de programas como Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo.
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*Colaboração para o Aratu On