Por que Silva é o sobrenome mais comum do Brasil? Origem está ligada à escravidão
De acordo com o historiador Pedro Issa, a ampla difusão do sobrenome Silva está relacionada ao período da escravidão
Por Bruna Castelo Branco.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta terça-feira (4), pela primeira vez na série histórica, o levantamento dos sobrenomes mais usados no país. O Silva lidera com folga, presente em 34.030.104 registros, o que corresponde a 16,76% da população brasileira. Em seguida aparecem Santos e Oliveira.
A pesquisa, baseada em dados do Censo 2022, revela não apenas a popularidade dos nomes, mas também as marcas da formação social e racial do Brasil. Com informações do SBT News.
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Herança da escravidão
De acordo com o historiador Pedro Issa, professor do Mackenzie Tamboré, a ampla difusão do sobrenome Silva está relacionada ao período escravocrata e à imposição de nomes portugueses a pessoas negras escravizadas.
Durante o tráfico transatlântico de africanos, iniciado no século 17 e encerrado oficialmente apenas com a Lei Áurea, em 1888, cerca de 5 milhões de africanos foram trazidos ao Brasil — o equivalente a 40% de todos os escravizados nas Américas.
“O Estado colonial não reconhecia os nomes africanos das pessoas escravizadas, que eram tratadas como propriedade. Como resultado, muitos receberam sobrenomes portugueses, especialmente ‘Silva’, como forma de controle e poder social”, explica Issa.

Em alguns casos, pessoas libertas por meio da alforria também adotavam o sobrenome, voluntariamente ou não, o que ajudou a expandir seu uso. “Isso reforçava um ambiente mental de dominação e a persistência da história escravista”, acrescenta o professor.
Racismo estrutural e identidade nacional
A imposição de sobrenomes europeus é um exemplo da subversão de identidades provocada pela escravidão e pelo racismo estrutural, segundo a historiadora Ynaê Lopes dos Santos, autora do livro “Racismo Brasileiro: Uma História da Formação do País”.
Na obra, Ynaê mostra que o racismo é um elemento central na formação política, social e econômica do Brasil. A abolição, embora tenha encerrado legalmente o regime escravista, não garantiu inclusão social: sem acesso a terra, educação ou trabalho, a população negra liberta foi deixada à margem.

A autora destaca que o racismo deve ser entendido como um sistema histórico de poder, que se adapta e perpetua desigualdades. O sobrenome Silva, disseminado entre diferentes grupos sociais, tornou-se também um símbolo da mistura e das contradições que marcam a identidade brasileira.
Outros sobrenomes e influências culturais
Depois de Silva, os mais comuns são Santos (21.367.475) e Oliveira (11.708.947). Segundo Issa, ambos os nomes também refletem aspectos religiosos e étnicos da colonização portuguesa.
“Santos e Oliveira são nomes associados a cristãos-novos — judeus que se converteram ao cristianismo após a proibição do judaísmo em Portugal. Esses nomes aparecem em dicionários de judeus sefarditas e estão especialmente ligados à história do Brasil”, explica o professor.
Ele acrescenta: “Esses nomes são um testemunho de aspectos fundamentais da história luso-brasileira — o antissemitismo, o catolicismo pujante e a imigração. Tudo isso reforça o peso e a persistência da presença portuguesa no Brasil”.

Os 30 sobrenomes mais comuns no país
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Silva – 34.030.104
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Santos – 21.367.475
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Oliveira – 11.708.947
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Souza – 9.197.158
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Pereira – 6.888.212
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Ferreira – 6.226.228
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Lima – 6.094.630
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Alves – 5.756.825
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Rodrigues – 5.428.540
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Costa – 4.861.083
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Sousa – 4.797.390
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Gomes – 4.046.634
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Nascimento – 3.609.232
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Araujo – 3.460.940
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Ribeiro – 3.127.425
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Almeida – 3.069.183
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Jesus – 2.859.490
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Barbosa – 2.738.119
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Soares – 2.615.284
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Carvalho – 2.599.978
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Martins – 2.576.764
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Lopes – 2.337.914
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Vieira – 2.102.389
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Rocha – 2.044.495
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Dias – 2.035.387
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Gonçalves – 2.028.298
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Fernandes – 1.835.974
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Santana – 1.815.982
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Andrade – 1.707.452
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Batista – 1.703.130
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