Marcando o Dia Mundial de Luta contra a Aids, o município de Lauro de Freitas abriu oficialmente a Campanha do Dezembro Vermelho, nesta sexta-feira (1/12).
A campanha destaca a conscientização e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, disponibilizando testagem rápida e orientações sobre o Protocolo de Prevenção Pré-Exposição (PREP) na unidade do Centro de Testagem e Aconselhamento e Serviço de Atendimento Especializado (CTA), juntamente com a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que deve ser administrada em até 72 horas após a exposição.
O coordenador do CTA, Djair de Deus, destaca que a campanha reforça o estímulo da população para a construção de uma comunidade mais saudável. "Neste sábado (2), a ação do Dezembro Vermelho se une ao encerramento do Novembro Azul, onde juntos faremos uma caminhada, do fim de linha do Centro até a Praça da Matriz, para chamar atenção sobre os diversos cuidados com a saúde", informou.
As atividades do CTA na campanha de prevenção e mobilização se estenderão ao longo do mês de dezembro, com dias "D" dedicados às Unidades de Saúde da Família (USFs), sempre das 8h às 14h. Confira a programação:
- 06/12 - Irmã Dulce
- 12/12 - Vida Nova, Jambeiro, Cidade Nova
- 13/12 - Pq São Paulo, São Judas Tadeu, Tarumã, Chafariz, Capelão
- 14/12 - Vila Nova, Antônio Carlos Rodrigues
- 15/12 - Santa Barbara, Noel Alves
- 18/12 - Israel Moreira, Jardim Independência
- 19/12 - Espaço Cidadão
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Como forma de adapta&ccedil;&atilde;o &agrave; vida, a consci&ecirc;ncia, representada pelo ego, detecta os perigos reais e psicol&oacute;gicos que porventura ameacem a nossa integridade. Quando real, podemos cham&aacute;-lo de medo, uma prote&ccedil;&atilde;o que nos mobiliza diante da possibilidade de uma agress&atilde;o. H&aacute;, inclusive, uma dimens&atilde;o de natureza biol&oacute;gica: diante do perigo, uma descarga de adrenalina &eacute; lan&ccedil;ada na corrente sangu&iacute;nea, permitindo ao organismo condi&ccedil;&otilde;es de luta ou fuga.

Partindo para a ang&uacute;stia neur&oacute;tica, verificamos que esta ocorre muito devido ao conflito eg&oacute;ico entre a realidade e os desejos instintivos, quando as necessidades da alma n&atilde;o est&atilde;o sendo atendidas. J&aacute; a ang&uacute;stia moral pode ser tida como um sentimento acusat&oacute;rio, vindo de dentro de n&oacute;s mesmos, no qual sentimos que erramos, que somos incompletos, imperfeitos, e que nada poder&aacute; ser feito para aplacar essa dor. Desta rigidez &eacute; que se origina, ent&atilde;o, o sentimento de culpa. Este implac&aacute;vel juiz, ao condenar at&eacute; mesmo os nossos pensamentos e desejos, passa a nos punir permanentemente, como se a transgress&atilde;o j&aacute; houvesse ocorrido.&nbsp;

A verdade &eacute; que, seguindo a linha de pensamento de James Hollis, em seu livro &ldquo;Os pantanais da alma&rdquo;, &ldquo;a culpa se senta como um grande p&aacute;ssaro negro nos ombros de quase todos n&oacute;s&rdquo;. Volta e meia, quando estamos nos desenrolando no fluir da vida, libertos do passado, este sentimento parece nos perseguir, corroendo a espontaneidade e trazendo-nos cada vez mais medo e vergonha. Para se debru&ccedil;ar sobre a an&aacute;lise deste sentimento t&atilde;o prevalente, &eacute; necess&aacute;rio separardidaticamente a culpa por responsabilidade, como defesa neur&oacute;tica e a culpa existencial.

A culpa como responsabilidade ocorre em um n&iacute;vel em que o indiv&iacute;duo precisa reconhecer e aceitar as consequ&ecirc;ncias das suas escolhas, por mais inconscientes ou imaturas que tenham sido. H&aacute; que se perceber, no entanto, que dentro de cada um de n&oacute;s, ou at&eacute; mesmo dentro da cultura, existem for&ccedil;as que concorrem para que fa&ccedil;amos escolhas que possam causar danos ou levar outros ao sofrimento, consequ&ecirc;ncias estas que muitas vezes n&atilde;o puderam ser previstas. Neste tipo de culpa, &eacute; poss&iacute;vel obter reden&ccedil;&atilde;o quando, atrav&eacute;s do arrependimento, reconhecemos e reconstitu&iacute;mos o caminho, refazendo os la&ccedil;os. Como essa compensa&ccedil;&atilde;o, geralmente, s&oacute; &eacute; poss&iacute;vel no per&iacute;odo em que o evento ocorreu, n&atilde;o &eacute; rara a busca pela reden&ccedil;&atilde;o atrav&eacute;s do refazimento e do benef&iacute;cio em outros meios de mesma tem&aacute;tica. Estaria a&iacute; inserida grande parte das &ldquo;despretensiosas&rdquo; boas a&ccedil;&otilde;es do planeta?

Talvez este caminho seja n&atilde;o somente uma demonstra&ccedil;&atilde;o de maturidade, mas tamb&eacute;m uma condu&ccedil;&atilde;o &agrave; liberta&ccedil;&atilde;o da ang&uacute;stia e da ansiedade que ela acarreta. Nas religi&otilde;es onde se pratica a confiss&atilde;o como forma de remiss&atilde;o dos pecados, os fi&eacute;is muitas vezes encontram a oportunidade de se libertar dos fardos do passado, que paralisam e prejudicam a capacidade de progredir nas novas escolhas. Como aspecto negativo, no entanto, esta pr&aacute;tica pode fazer com que o devoto deixe de elaborar a sua pr&oacute;pria sombra, uma vez que, nas palavras de C. G. Jung, &ldquo;tem sempre ao seu dispor uma confiss&atilde;o e absolvi&ccedil;&atilde;o para equilibrar um excesso de tens&atilde;o&rdquo;.

Na culpa neur&oacute;tica, a ang&uacute;stia ocorre como uma defesa devido &agrave; n&atilde;o permiss&atilde;o para sermos quem somos. Isso porque fomos condicionados, desde a inf&acirc;ncia, a reprimir nossos mais puros instintos: precis&aacute;vamos nos adequar &agrave; vida em sociedade. Sentir-se culpado por dizer n&atilde;o, por exemplo, &eacute; um sentimento que ocorre devido ao medo de que o outro fique aborrecido conosco. Essa culpa n&atilde;o &eacute; aut&ecirc;ntica, pois n&atilde;o reflete a admiss&atilde;o de termos realmente causado mal aos outros. Para que n&atilde;o nos enveredemos em uma eterna &ldquo;montanha-russa emocional&rdquo;, precisamos refletir que as escolhas o tempo todo necessitam ser feitas e que,invariavelmente, desagradaremos a uma parcela.

Por fim, a culpa existencial, inerente &agrave; condi&ccedil;&atilde;o humana, talvez seja a mais dif&iacute;cil de carregar e a menos pass&iacute;vel de ser por n&oacute;s absolvida. Como exemplo da nossa cumplicidade com o mal no mundo, podemos reconhecer que matamos animais para obtermos o alimento de cada dia, destru&iacute;mos vegetais e, se pararmos de comer, cometemos suic&iacute;dio. A verdade &eacute; que todos acabamos tendo que competir na arena da vida, e tomamos alguma coisa para n&oacute;s em detrimento de outras. Ao longo da hist&oacute;ria da humanidade, agredimos constantemente a natureza, destru&iacute;mos e exploramos povos em guerras e invas&otilde;es e, mesmo que de forma inconsciente, muitas vezes ficamos pouco &agrave; vontade no mundo que n&oacute;s mesmos criamos.

Pode-se dizer, portanto, que a culpa &eacute; um sentimento praticamente onipresente na vida moderna. Perdoar a n&oacute;s mesmos talvez seja a tarefa mais dif&iacute;cil de todas. N&atilde;o &eacute; uma a&ccedil;&atilde;o autom&aacute;tica nem uma simples resolu&ccedil;&atilde;o a ser estabelecida. O auto perd&atilde;o &eacute; um processo que exige viv&ecirc;ncia do seu significado mais profundo, sem o qual n&atilde;o alcan&ccedil;aremos o aprendizado necess&aacute;rio. Para lidarmos com este tipo de culpa, temos que admitir para n&oacute;s essa dualidade moral, pessoal e cultural, reconhecendo que somos respons&aacute;veis, n&atilde;o somente pelas decis&otilde;es que tomamos, mas pelas in&uacute;meras coisas que deixamos de fazer. Ao nos darmos conta de que somos inevitavelmente imperfeitos, certamente damos um grande passo rumo &agrave; autoaceita&ccedil;&atilde;o, recuperando a liberdade e a capacidade de escolher de forma consciente o nosso caminho.

*Otorrinolaringologista do NOOBA e do Hospital Aeroporto - P&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em Teoria Junguiana (Psicologia anal&iacute;tica)

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Problemas cl&iacute;nicos relacionados &agrave; redu&ccedil;&atilde;o da toler&acirc;ncia aos sons, como hiperacusia,&nbsp;misofonia e fonofobia, podem afetar bastante a qualidade de vida das pessoas, em fun&ccedil;&atilde;o da forte tend&ecirc;ncia a evitar intera&ccedil;&otilde;es sociais, familiares ou profissionais, at&eacute; mesmo nas situa&ccedil;&otilde;es mais comuns do cotidiano. H&aacute; algumas d&eacute;cadas foi observado, entretanto, que a percep&ccedil;&atilde;o do zumbido, embora fizesse parte do sistema auditivo, variava de forma expressiva entre os indiv&iacute;duos. Na depend&ecirc;ncia direta de fatores emocionais, ficou claro que, quando o paciente reage negativamente&nbsp;ao zumbido, h&aacute; um&nbsp;aumento da aten&ccedil;&atilde;o a ele, o que acarreta a sua amplifica&ccedil;&atilde;o. Com a repeti&ccedil;&atilde;o&nbsp;deste padr&atilde;o, h&aacute; um aprendizado associativo a essas respostas emocionais, retroalimentadas e&nbsp;perpetuadas por uma ampla gama de sistemas neurais.

Hiperacusia e misofonia s&atilde;o enfermidades relacionadas &agrave; redu&ccedil;&atilde;o de toler&acirc;ncia de&nbsp;som. A misofonia pode ser descrita como uma disfun&ccedil;&atilde;o cerebral que faz com que sons comuns espec&iacute;ficos provoquem uma resposta emocional intensa, proporcionando sintomas f&iacute;sicos atrav&eacute;s&nbsp;da libera&ccedil;&atilde;o de adrenalina, gerando sobrecarga de energia em resposta a uma suposta amea&ccedil;a.&nbsp;Ocorre uma padroniza&ccedil;&atilde;o de sons espec&iacute;ficos, independentemente do n&uacute;mero de&nbsp;decib&eacute;is, que &eacute; considerada insuport&aacute;vel. Alguns barulhos podem ser t&atilde;o perturbadores que se&nbsp;torna necess&aacute;rio usar fones de ouvido ou tamp&otilde;es auditivos rotineiramente para se proteger. O ru&iacute;do&nbsp;de algu&eacute;m mordendo uma ma&ccedil;&atilde;, a respira&ccedil;&atilde;o ou at&eacute; mesmo a digita&ccedil;&atilde;o no teclado podem ser&nbsp;insuport&aacute;veis, trazendo ang&uacute;stia ou evocando sentimentos de raiva e fuga. Os pacientes,&nbsp;muitas vezes crian&ccedil;as, em geral sofrem em sil&ecirc;ncio e sem o apoio adequado. Quando muito&nbsp;grave, esta condi&ccedil;&atilde;o acaba tendo efeitos socialmente devastadores, uma vez que os sons&nbsp;que provocam &ldquo;gatilho&rdquo; s&atilde;o bastante comuns no dia a dia.

Com exames audiol&oacute;gicos em&nbsp;geral sem altera&ccedil;&otilde;es, ainda hoje esta condi&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se apresenta categorizada em nenhuma classifica&ccedil;&atilde;o neurol&oacute;gica, audiol&oacute;gica ou psiqui&aacute;trica. Apesar de a misofonia&nbsp;poder ser observada em uma ampla gama de transtornos neurol&oacute;gicos e psiqui&aacute;tricos, n&atilde;o&nbsp;parece ser um fen&ocirc;meno que ocorre exclusivamente e especificamente em nenhum deles.&nbsp;Desta forma, pesquisas ainda s&atilde;o necess&aacute;rias para esclarecer se a misofonia gera&nbsp;condi&ccedil;&otilde;es neuro-psiqui&aacute;tricas, ou se estes transtornos que contemplam, entre os seus sintomas, a super responsividade aos est&iacute;mulos auditivos. Muito associada ao zumbido, a&nbsp;hiperacusia em geral &eacute; bastante omitida e subdiagnosticada, ocorrendo quando o som, geralmente&nbsp;em alto volume, &eacute; considerado insuport&aacute;vel, gerando at&eacute; mesmo dor f&iacute;sica. O diagn&oacute;stico&nbsp;baseia-se em uma hist&oacute;ria de intoler&acirc;ncia a diferentes tipos de som, juntamente com a diminui&ccedil;&atilde;o&nbsp;dos limiares de desconforto auditivo nos testes audiom&eacute;tricos. J&aacute; na fonofobia, muito presente&nbsp;na crise migranosa, as pessoas podem ter medo e crise de ansiedade associados a ru&iacute;dos&nbsp;altos e repentinos, n&atilde;o havendo rela&ccedil;&atilde;o com outros transtornos auditivos.

O enriquecimento sonoro com sons ambientais, conhecido como terapia de retreinamento do&nbsp;zumbido (TRT) pode ser empregado adequando-se &agrave;s especificidades individuais, pois, para quem&nbsp;sofre com intoler&acirc;ncia a sons, ouvir m&uacute;sica pode ser uma medida instintiva e at&eacute; natural de prote&ccedil;&atilde;o. A TRT consiste na exposi&ccedil;&atilde;o repetida a ru&iacute;do em baixo volume, favorecendo a habitua&ccedil;&atilde;o pela&nbsp;interfer&ecirc;ncia na atividade neural. Direcionada tamb&eacute;m para a misofonia, esta terapia pode ser &uacute;til&nbsp;atrav&eacute;s da exposi&ccedil;&atilde;o gradual a ru&iacute;dos &ldquo;gatilho&rdquo;. Conviver com estes problemas pode causar bastante isolamento, e n&atilde;o h&aacute; m&eacute;todo cient&iacute;fico reconhecido de tratamento, apesar de algumas possibilidades&nbsp;serem aplicadas em conjunto, destacando-se neste contexto, a psicoterapia. O acompanhamento multidisciplinar &eacute; padr&atilde;o ouro, e algumas medica&ccedil;&otilde;es tamb&eacute;m podem ser utilizadas a depender das comorbidades, mostrando benef&iacute;cios concretos. Apesar de o uso constante de protetor auricular ser uma tentativa de preven&ccedil;&atilde;o do desconforto auditivo, &eacute; reconhecido que essa pr&aacute;tica pode, atrav&eacute;s da diminui&ccedil;&atilde;o da recep&ccedil;&atilde;o auditiva, induzir posteriormente uma maior sensibilidade aos sons. Desta forma, os pacientes devem ser orientados a usar protetor auricular apenas quando houver real necessidade.

*Otorrinolaringologista do NOOBA e do Hospital Aeroporto - P&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em Teoria Junguiana (Psicologia anal&iacute;tica)

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Eu sempre fico encantada quando encontro algu&eacute;m que, seja assistindo a uma aula ou durante uma consulta, exp&otilde;e suas ideias de forma clara, pr&aacute;tica e acess&iacute;vel. Nunca me esquecerei de uma professora muito querida que, h&aacute; muitos anos atr&aacute;s, comentou sobre a paix&atilde;o com que devemos lidar nas coisas mais simples da consulta (e porque n&atilde;o, da vida?).

&ldquo;Uma remo&ccedil;&atilde;o de cerume, por exemplo, trar&aacute; al&iacute;vio imediato e far&aacute; muito feliz o seu paciente&rdquo;. O que mais o encanta &eacute; a empatia com que atuamos durante o atendimento: a aten&ccedil;&atilde;o, o interesse genu&iacute;no por qualquer problema, do mais simples ao mais complexo. Quando isso acontece, o paciente geralmente consegue absorver as determina&ccedil;&otilde;es, sente-se motivado, esperan&ccedil;oso, e nunca mais esquece.&nbsp;

Quando os ensinamentos se debru&ccedil;am em condutas palp&aacute;veis, tang&iacute;veis, com objetivos pr&aacute;ticos e bem definidos, sentimos que finalmente conseguimos colocar em pr&aacute;tica, inserindo no nosso &ldquo;card&aacute;pio&rdquo;.

O que estamos falando &eacute; sobre dan&ccedil;ar pelo &ldquo;caminho do meio&rdquo;, o que est&aacute; bem distante de &ldquo;ficar em cima do muro&rdquo;. &nbsp;Trata-se de uma tentativa constante de buscar o equil&iacute;brio entre as tend&ecirc;ncias e modismos, fazendo com que a medicina realmente seja um bem ao alcance de todos. Decepciona e frustra um sistema de sa&uacute;de cada vez mais sofisticado e para poucos: uma matem&aacute;tica onde a conta n&atilde;o fecha. Admiro quem consegue discordar da massa de forma elegante, expressando uma opini&atilde;o assertiva, trazendo maior experi&ecirc;ncia, diversidade e riqueza.

Acredito que o conhecimento est&aacute; muito acess&iacute;vel a todos, sobre isso n&atilde;o resta d&uacute;vida: s&oacute; n&atilde;o aprende quem n&atilde;o quer. Contudo, informa&ccedil;&otilde;es sobre relacionamento interpessoal e humaniza&ccedil;&atilde;o do atendimento, sobre simplificar e esclarecer as coisas, sobre o que n&atilde;o fazer ou como posso disseminar o que aprendi, oportunidades como essas n&atilde;o temos assim com tanta frequ&ecirc;ncia. &Eacute; mais ou menos como ouvi certa vez dizer o c&eacute;lebre fil&oacute;sofo M&aacute;rio Cortella: &ldquo;O conhecimento serve para encantar as pessoas, n&atilde;o para humilh&aacute;-las&rdquo;. Independente da &aacute;rea de atua&ccedil;&atilde;o, quando estamos comprometidos no cuidar, inspiramos e irradiamos confian&ccedil;a, momento em que j&aacute; &eacute; iniciado o processo de melhora.

*M&eacute;dica Otorrinolaringologista do NOOBA e do Hospital Aeroporto

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Pode-se dizer que as altera&ccedil;&otilde;es do olfato, de forma geral, atingem cerca de 20% da popula&ccedil;&atilde;o. As pessoas privadas de um olfato considerado normal invariavelmente tamb&eacute;m apresentam altera&ccedil;&otilde;es no paladar e, por conta disso, podem demonstrar dificuldade em realizar atividades di&aacute;rias, como cozinhar, degustar as refei&ccedil;&otilde;es ou cuidar bem da sua higiene.&nbsp;

Considerando que saborear os alimentos consiste em um dos maiores prazeres humanos, e que estes sentidos nos ajudam na conex&atilde;o com o mundo externo, &eacute; relatado tamb&eacute;m na literatura que pessoas com altera&ccedil;&atilde;o no olfato e no paladar tornam-se mais suscet&iacute;veis &agrave; depress&atilde;o, a acidentes por vazamentos de g&aacute;s e intoxica&ccedil;&atilde;o alimentar.

Pesquisadores identificaram que as viroses comuns e, agora mais particularmente, o novo coronav&iacute;rus, figuram entre as principais causas desta disfun&ccedil;&atilde;o. Entretanto, n&atilde;o se pode deixar de lado as demais possibilidades que contribuem para a anosmia/hiposmia, como as sinusites, processos inflamat&oacute;rios e obstrutivos, traumas, envelhecimento natural e at&eacute; mesmo doen&ccedil;as neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer.

Sabemos que um dos sintomas sugestivos de Covid-19 &eacute; a perda de olfato, e consequentemente, a perda do paladar. A febre, ao lado da tosse seca e da falta de ar, v&ecirc;m sendo importantes par&acirc;metros para ajudar a identificar uma poss&iacute;vel infec&ccedil;&atilde;o, mas foi observado, j&aacute; no in&iacute;cio da pandemia, que havia outros sintomas tamb&eacute;m muito prevalentes e, entre eles, a redu&ccedil;&atilde;o ou perda do olfato.

Esse sintoma, inclusive, est&aacute; relacionado muitas vezes aos casos mais leves da doen&ccedil;a. As c&eacute;lulas do bulbo olfat&oacute;rio encontram-se na parte mais superior do nariz, j&aacute; bem pertinho do c&eacute;rebro, e j&aacute; ficou demonstrado que elas possuem enzimas que se ligam a uma prote&iacute;na do v&iacute;rus, permitindo a entrada e a replica&ccedil;&atilde;o do v&iacute;rus na c&eacute;lula. Desta forma, visto que &eacute; um problema devido a um comprometimento neurol&oacute;gico, confirmado at&eacute; mesmo atrav&eacute;s de exames de imagem, &eacute; muito caracter&iacute;stico que o paciente apresente altera&ccedil;&atilde;o aguda do olfato sem sintomas obstrutivos que o justifiquem. Esse contato acaba gerando uma les&atilde;o nas c&eacute;lulas olfat&oacute;rias, que pode ser desde um edema at&eacute; a sua destrui&ccedil;&atilde;o.&nbsp;

Quando h&aacute; dificuldade em identificar a altera&ccedil;&atilde;o, especialmente nas crian&ccedil;as menores, pode-se fazer o teste do olfato de forma bem simples em casa, por exemplo, utilizando uma bola de algod&atilde;o com algumas gotas de &aacute;lcool 70%. Pede-se para a pessoa que vai ser avaliada fechar os olhos, e o examinador vai aproximando muito lentamente o artefato, a cada respira&ccedil;&atilde;o. Desta forma, pode-se supor uma altera&ccedil;&atilde;o quando s&oacute; &eacute; poss&iacute;vel sentir o cheiro a uma dist&acirc;ncia menor que uns 15 cm.&nbsp;

At&eacute; o momento, para as causas gerais, ainda n&atilde;o existem tratamentos eficazes bem estabelecidos para os problemas do olfato, exceto nas causas objetivas, obstrutivas, como tumores e inflama&ccedil;&otilde;es. Entretanto, &eacute; sabido que o tecido olfativo apresenta certa capacidade de regenera&ccedil;&atilde;o, e &eacute; sobre esse fato que se debru&ccedil;am algumas propostas de melhoria da fun&ccedil;&atilde;o, atrav&eacute;s de um processo chamado treinamento olfativo. Quando h&aacute; outros sintomas nasais associados, pode ser recomendado o tratamento com medica&ccedil;&otilde;es de forma t&oacute;pica, oral, ou at&eacute; mesmo uma suplementa&ccedil;&atilde;o alimentar. Mas o fato &eacute; que o treinamento da fun&ccedil;&atilde;o olfativa consiste simplesmente em experimentar diferentes odores diariamente, por alguns segundos, de forma continuada e perseverante, durante meses.

H&aacute; na literatura algumas tentativas de padroniza&ccedil;&atilde;o para este treinamento, com subst&acirc;ncias facilmente encontradas no nosso dia a dia. Estes &ldquo;kits&rdquo; v&atilde;o desde o uso de ess&ecirc;ncia de cravo, lim&atilde;o e eucalipto, at&eacute; o uso de p&oacute; de caf&eacute;, suco artificial, vinagre, creme dental de menta, ess&ecirc;ncia de baunilha e mel. E quanto maior o dano causado &agrave;s c&eacute;lulas nervosas, mais tempo e menor a probabilidade de recupera&ccedil;&atilde;o espont&acirc;nea. Sendo assim, faz-se necess&aacute;rio que o paciente com altera&ccedil;&otilde;es do olfato procure o seu m&eacute;dico otorrinolaringologista, assim que poss&iacute;vel, para que seja feito o diagn&oacute;stico e o tratamento mais adequados para cada caso.&nbsp;

*&Eacute; otorrino do NOOBA e do Hospital Aeroporto

Hoje em dia &eacute; muito comum andar pelas ruas e ver pessoas utilizando fones de ouvido, ou at&eacute; mesmo em fam&iacute;lia, na mesa de jantar. Este h&aacute;bito vem aumentando cada vez mais e os aparelhos eletr&ocirc;nicos v&ecirc;m se transformando em acess&oacute;rios indispens&aacute;veis para o dia a dia. Encontrado em diferentes formas e tamanhos, o uso excessivo desse acess&oacute;rio pode causar danos irrevers&iacute;veis &agrave; nossa sa&uacute;de auditiva.&nbsp;

Listada como uma das cinco prioridades para este s&eacute;culo, uma estimativa da Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial de Sa&uacute;de (OMS) &eacute; que cerca de 1,1 bilh&atilde;o de pessoas dos 12 aos 35 anos de idade correm o risco de terem perdas auditivas irrevers&iacute;veis porque escutam m&uacute;sica muito alta em fones de ouvido. Isso ocorre especialmente nos pa&iacute;ses de m&eacute;dia e baixa renda, onde cerca de 50% da popula&ccedil;&atilde;o nesta faixa et&aacute;ria escutam m&uacute;sica em intensidade e dura&ccedil;&atilde;o consideradas perigosas para a audi&ccedil;&atilde;o.&nbsp;

Diante desse quadro, pesquisas apontam que o uso excessivo e a exposi&ccedil;&atilde;o a sons intensos s&atilde;o respons&aacute;veis pela perda de audi&ccedil;&atilde;o em cerca de 35% dos casos. Alguns aparelhos de som t&ecirc;m pot&ecirc;ncia de at&eacute; 130 dB, que &eacute; quase a mesma pot&ecirc;ncia de uma turbina de avi&atilde;o. Principalmente nos mais jovens, este h&aacute;bito muito comumente prejudica o sono, causa irritabilidade, transtornos emocionais e diminui&ccedil;&atilde;o do rendimento escolar. Os n&iacute;veis de ru&iacute;do s&atilde;o medidos em decib&eacute;is (dB). Quanto mais elevado, maior o volume.

Os sons que normalmente encontramos em casa e nos ambientes de trabalho est&atilde;o na faixa de 50 a 80 dB. J&aacute; os que passam de 120 dB causam um desconforto ao sistema auditivo, trazendo sensa&ccedil;&atilde;o dolorosa quando chegam a 140 dB. De acordo com a Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Otorrinolaringologia, o ouvido humano tem mecanismos de prote&ccedil;&atilde;o contra sons altos para breves per&iacute;odos de exposi&ccedil;&atilde;o. Por&eacute;m, sons acima de 60 a 65 dB tornam-se desconfort&aacute;veis e, acima de 80 dB s&atilde;o potencialmente lesivos para a audi&ccedil;&atilde;o. Estudos apontam que, dependendo do n&uacute;mero de horas que voc&ecirc; passa com o fone no ouvido, pode acabar tendo problemas de audi&ccedil;&atilde;o a longo prazo.&nbsp;

O uso de fones que s&atilde;o inseridos no canal auditivo leva o som diretamente &agrave; membrana timp&acirc;nica, sem nenhuma barreira de prote&ccedil;&atilde;o &agrave;s estruturas da orelha interna. Por sua vez, os fones tipo concha s&atilde;o menos agressivos, porque eles est&atilde;o mais longe das estruturas do ouvido. Ansiedade, tontura, aumento da sensibilidade no ouvido, estresse e dor de cabe&ccedil;a s&atilde;o outros sintomas vistos com certa frequ&ecirc;ncia na pr&aacute;tica cl&iacute;nica. O fato &eacute; que os aparelhos de som frequentemente ultrapassam o limite de 100 dB. Como n&atilde;o temos, geralmente, como medir este n&iacute;vel de volume no dia a dia, existe um c&aacute;lculo simplificado que ajuda a evitar problemas: o interessante &eacute; deixar sempre em no m&aacute;ximo 60% da capacidade do aparelho.&nbsp;

Para utilizar os fones &eacute; preciso ter bom senso e escutar em um volume que seja capaz de compreender a fala e outros ru&iacute;dos externos. Tamb&eacute;m &eacute; importante n&atilde;o utilizar por muito tempo seguido, mas com algumas horas de descanso, respeitando o limite de at&eacute; quatro horas por dia. Pois &eacute; bem prov&aacute;vel que, em um futuro pr&oacute;ximo, tenhamos mais idosos com problemas de audi&ccedil;&atilde;o do que nas gera&ccedil;&otilde;es anteriores, justamente por causa do 
h&aacute;bito da exposi&ccedil;&atilde;o a ru&iacute;dos intensos. A surdez causada por essa exposi&ccedil;&atilde;o vai acumulando ao longo dos anos, e a preven&ccedil;&atilde;o ainda &eacute; a melhor forma de evitar a perda auditiva.&nbsp;

*&Eacute; otorrino do NOOBA e do Hospital Aeroporto

Todos os textos de Cristiane Teixeira

Campanha Dezembro Vermelho é aberta em Lauro de Freitas; confira a programação

Artigo: Um tratado sobre a angústia e o sentimento de culpa

Artigo: Quando os sons nos afetam...

Artigo: Um ensaio sobre a paixão na prática clínica da medicina

Artigo: as alterações do olfato em tempos de Covid-19

Artigo: o uso do fone de ouvido e os problemas com a audição