Um te&oacute;logo ingl&ecirc;s criou uma nova tese que diz que Jesus Cristo foi v&iacute;tima de abuso sexual antes de ser crucificado. Para sustentar o argumento, ele relaciona os maus-tratos a prisioneiros da era romana e pr&aacute;ticas de ditaduras latino-americanas e estuda a dimens&atilde;o sexual da tortura, propondo uma nova postura das igrejas crist&atilde;s. As informa&ccedil;&otilde;es s&atilde;o da Folha de S. Paulo.

David Tombs, 57, radicado na Nova Zel&acirc;ndia, come&ccedil;ou a se perguntar sobre alguns momentos pouco descritos na B&iacute;blia: o que significam os tr&ecirc;s momentos em que Jesus Cristo &eacute; publicamente despido, antes da crucifica&ccedil;&atilde;o? O te&oacute;logo &eacute; seguidor da religi&atilde;o anglicana e publicou em 1999 seu primeiro artigo sobre o tema, intitulado &quot;Crucifica&ccedil;&atilde;o, terrorismo de Estado e abuso sexual&quot;. Hoje, n&atilde;o est&aacute; mais sozinho: outros te&oacute;logos j&aacute; abordam o aspecto sexualizado do mart&iacute;rio de Cristo.

&quot;Ent&atilde;o Pilatos, querendo satisfazer a multid&atilde;o, soltou-lhe Barrab&aacute;s e, a&ccedil;oitado Jesus, o entregou para ser crucificado. E os soldados o levaram dentro &agrave; sala, que &eacute; a da audi&ecirc;ncia, e convocaram toda a coorte [unidade militar romana com 500 soldados]. E vestiram-no de p&uacute;rpura, e tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabe&ccedil;a. E come&ccedil;aram a saud&aacute;-lo, dizendo: Salve, Rei dos Judeus! E feriram-no na cabe&ccedil;a com uma cana, e cuspiram nele e, postos de joelhos, o adoraram. E, havendo-o escarnecido, despiram-lhe a p&uacute;rpura, e o vestiram com as suas pr&oacute;prias vestes; e o levaram para fora a fim de o crucificarem&quot;, diz a B&iacute;blia, em Marcos 15:15-20.

Para Tombs, tudo isso retrata que Cristo foi v&iacute;tima de um abuso sexual: exposto em sua nudez, espancado e humilhado enquanto nu, em uma recrea&ccedil;&atilde;o s&aacute;dica que contou com 500 soldados, entre participa&ccedil;&otilde;es diretas e olhares curiosos.

&quot;S&atilde;o dois aspectos: o primeiro &eacute; o que o texto realmente fala. Vejo a nudez for&ccedil;ada de Cristo como uma forma de viol&ecirc;ncia sexual, o que justifica cham&aacute;-lo de v&iacute;tima de abuso sexual. Embora muitas pessoas tenham dificuldade de chamar a nudez for&ccedil;ada de viol&ecirc;ncia sexual, tendo a crer que elas est&atilde;o sendo desnecessariamente resistentes ao que o texto afirma&quot;, diz Tombs, por videochamada, &agrave; Folha.

Ele tamb&eacute;m imagina o que pode ter ocorrido depois de tirarem as roupas de Cristo. &quot;N&atilde;o sabemos ao certo, mas podemos levantar uma quest&atilde;o que n&atilde;o &eacute; meramente especulativa nem leviana, porque temos evid&ecirc;ncias de maus-tratos a prisioneiros da era romana e tamb&eacute;m perspectivas trazidas pelo contexto de outras torturas modernas, na documenta&ccedil;&atilde;o das ditaduras em El Salvador, Brasil, Argentina, Chile, Sri Lanka e Abu Ghraib (pris&atilde;o do Ex&eacute;rcito americano no Iraque), por exemplo&quot;, argumenta.

A ideia do abuso de Cristo surgiu exatamente ao investigar esse tipo de ditaduras, especialmente na cidade de El Salvador. &quot;Fiquei chocado pelo fato de que tinha estudado aquilo e nunca tinha focado o tema da sexualidade. Comecei a tentar entender mais por que os soldados fazem isso com as pessoas. Li relat&oacute;rios de tortura, de direitos humanos e de comiss&otilde;es da verdade e ficou absurdamente n&iacute;tido para mim como o abuso sexual &eacute; comum na tortura, ainda que n&atilde;o seja a primeira coisa em que as pessoas pensam quando se fala de tortura&quot;, explica.

De acordo com Tombs, &eacute; comum que as popula&ccedil;&otilde;es saibam de viola&ccedil;&otilde;es sexuais em per&iacute;odos autorit&aacute;rios de seus pa&iacute;ses: o desnudamento for&ccedil;ado, o uso da picana (bast&atilde;o de choques el&eacute;tricos usado para guiar o gado, comum na ditadura argentina) e a eletrocuss&atilde;o dos genitais. Por&eacute;m, poucos se d&atilde;o conta do papel central que essas pr&aacute;ticas t&ecirc;m na humilha&ccedil;&atilde;o de prisioneiros.

DEUS

Teologicamente, o professor reconhece que a hip&oacute;tese do abuso sexual do corpo de Cristo eleva a tens&atilde;o sobre o papel de Deus em seu sofrimento. Em muitas interpreta&ccedil;&otilde;es crist&atilde;s, Deus &eacute; o agente que permite que todo o mart&iacute;rio de Cristo ocorra.

Tombs, no entanto, prefere focar outro aspecto. &quot;&Eacute; poss&iacute;vel perceber que algumas pessoas rejeitam essa leitura por acharem que tal sofrimento diminui Cristo, o que &eacute; parte do estigma que os sobreviventes do abuso sexual vivem. &Agrave;s vezes, o que se percebe &eacute; que algumas pessoas dizem amar Cristo, mas n&atilde;o querem realmente saber do que ele sofreu. Adultos que dizem amar Cristo deveriam ter vontade de conhecer o que ele sofreu. Al&eacute;m disso, h&aacute; tamb&eacute;m o aspecto de que Deus compartilha do sofrimento humano at&eacute; nas suas piores inst&acirc;ncias. Recebi mensagens de sobreviventes de abuso sexual que admitiam sentir uma dist&acirc;ncia de Deus, como se Deus n&atilde;o entendesse a dor deles. Ao tomarem conhecimento dessa interpreta&ccedil;&atilde;o, essas pessoas me dizem que encontraram um advogado em Jesus&quot;, critica.

O pesquisador acredita que assumir esse abuso como poss&iacute;vel pode ajudar outras v&iacute;timas deste crime a superarem o trauma. &quot;Posso afirmar que n&atilde;o inventei o que escrevi, mas ser verdadeiro n&atilde;o basta. &Eacute; preciso perguntar: como uma interpreta&ccedil;&atilde;o do texto pode ajudar as pessoas? O que me importa &eacute; a teologia que tem efeitos, e n&atilde;o aquela que anda em c&iacute;rculos&quot;, diz.

A pastora Odete Rosalina da Costa, de 79 anos, foi morta com golpes de uma barra de ferro na manh&atilde; desta sexta-feira (14/1), dentro da igreja que pregava. O suspeito, que estava pelado, pulou o muro do templo disparando mensagens de &oacute;dio contra evang&eacute;licos e foi preso.

A v&iacute;tima era m&atilde;e do cantor gospel Delino Mar&ccedil;al, ganhador do Grammy Latino Melhor &Aacute;lbum de M&uacute;sica Crist&atilde; em L&iacute;ngua Portuguesa de 2019. De fam&iacute;lia crist&atilde;, uma das grandes incentivadoras da carreira foi justamente a m&atilde;e,&nbsp;Odete. Foi na igreja pastoreada por ela que Delino come&ccedil;ou a tocar e a cantar louvores.

Ao que tudo indica, o suspeito, identificado pelo prenome de&nbsp;Thiago, estava em um surto psic&oacute;tico. Antes do assassinato, ele j&aacute; tinha&nbsp;brigado com familiares, e, ap&oacute;s matar Odete, saiu atirado pedras em &ocirc;nibus.

&quot;O autor teria se envolvido em uma briga com parentes e logo ap&oacute;s saiu para rua. Ele entrou na igreja e iniciou uma briga com um homem e, logo ap&oacute;s, teria acertado a v&iacute;tima com v&aacute;rios golpes com um objeto de metal&rdquo;, diz um trecho do boletim de ocorr&ecirc;ncia que o Portal Metr&oacute;poles teve acesso.

Testemunhas contaram que Odete estava com um fiel, em momento de ora&ccedil;&atilde;o na Igreja Assembl&eacute;ia de Deus, quando Thiago chegou na porta chamando por uma pessoa, j&aacute; sem roupas. O fiel disse que n&atilde;o havia ningu&eacute;m ali com esse nome, o que fez ele se irritar, pular o muro, arrombar uma porta de vidro e iniciar uma luta corporal com os dois crist&atilde;os, quebrando cadeiras e mesas de pl&aacute;stico.

Pouco depois, o suspeito fugiu. Odete, ferida, saiu para a rua em busca de socorro, at&eacute; que Thiago voltou, munido com a barra de ferro, e a golpeou na cabe&ccedil;a. Ele fugiu novamente, at&eacute; ser encontrado pela Pol&iacute;cia Militar jogando pedras nos &ocirc;nibus.

As investiga&ccedil;&otilde;es da Pol&iacute;cia Civil apontam ainda que, antes de sair de casa, ainda na madrugada, o suspeito teria se envolvido em uma confus&atilde;o dentro de casa. Ele teria acordado por volta das 2h e tentado atacar a pr&oacute;pria esposa e a enteada dela com uma faca. Mas o suspeito foi contido por um tio da mulher. Depois disso, ele teria sa&iacute;do para a rua.&nbsp;

O suspeito foi encaminhado para a Central de Flagrantes, em Goi&acirc;nia.

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