A sexta-feira na Bahia &eacute; sin&ocirc;nimo de comida baiana no prato. Seja por f&eacute; ou por paix&atilde;o gastron&ocirc;mica, o costume tem ra&iacute;zes religiosas e ganhou for&ccedil;a na cultura popular. Mas agora, com a amplia&ccedil;&atilde;o de dietas veganas e restritivas, surge um novo espa&ccedil;o &agrave; mesa: <a href="https://aratuon.com.br/saude/xuxa-diz-que-veganos-tem-erecoes-mais-fortes-e-sao-melhores-no-sexo-sera-nutricionista-comenta">vers&otilde;es veganas dos pratos tradicionais</a>, como vatap&aacute;, acaraj&eacute; e caruru. &nbsp;
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/0c00fa2f-463b-4a90-8ff4-c7db80fd82df.jpeg?width=4032&amp;height=3024" alt="No &ldquo;Sa&uacute;de na Panela&rdquo;, o vatap&aacute; &eacute; de inhame e o acaraj&eacute; &eacute; assado: comida baiana reinventada para todos os p&uacute;blicos. / Foto: Murilo Motta - Aratu On">
No bairro da Pituba, em Salvador, o restaurante &ldquo;Sa&uacute;de na Panela&rdquo; &eacute; um dos pioneiros nesse movimento. Com mais de 28 anos de hist&oacute;ria, o local &eacute; conhecido pela comida com sabor de casa de v&oacute; &mdash; s&oacute; que sem gl&uacute;ten, sem lactose e com molhos artesanais.
"A gente queria atender primeiro o nosso p&uacute;blico vegetariano e depois as pessoas que tem alergia a camar&atilde;o e amendoim. S&atilde;o dois produtos que a gente n&atilde;o utiliza em nossa comida baiana." Comenta Luciana Fontenele, propriet&aacute;ria e idealizadora do projeto "Sa&uacute;de na Panela".
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/40766877-23c5-4dba-8e89-c709baafdad2.jpeg?width=4032&amp;height=3024" alt="Luciana e L&eacute;o Rosa (cozinheiro). / Foto: Murilo Motta - Aratu On">
&nbsp;Na Sexta-feira Santa, o card&aacute;pio especial ganha adapta&ccedil;&otilde;es criativas. "N&oacute;s temos dois tipos de vatap&aacute;s, um de inhame para quem &eacute; intolerante a gl&uacute;ten e o outro com p&atilde;o, n&oacute;s produzimos aqui mesmo o p&atilde;o. ambos sem camar&atilde;o. Al&eacute;m da gente n&atilde;o usar amendoim, s&oacute; castanha, tamb&eacute;m s&oacute; adicionamos o azeite no final, para n&atilde;o saturar", afirma Luciana.
Al&eacute;m de agradar <a href="https://aratuon.com.br/saude/qual-o-diferencial-e-quais-os-beneficios-dos-cosmeticos-veganos-o-aratu-on-explica-pra-voce">veganos (que n&atilde;o consomem nenhum alimento de origem animal, como carnes, ovos, leite e derivados) e vegetarianos&nbsp;</a> (que excluem carnes, mas ainda podem consumir latic&iacute;nios e ovos), as vers&otilde;es adaptadas tamb&eacute;m s&atilde;o ideais para quem tem alergia a frutos do mar ou est&aacute; em busca de refei&ccedil;&otilde;es mais leves e saud&aacute;veis. O restaurante aposta na reinven&ccedil;&atilde;o dos sabores sem perder a ess&ecirc;ncia, oferecendo uma experi&ecirc;ncia inclusiva e afetiva. Uma op&ccedil;&atilde;o que alimenta corpo, alma e tradi&ccedil;&atilde;o com um toque contempor&acirc;neo.&nbsp;
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/1599729f-05ed-42d1-a912-f0d78e673c2f.jpeg?width=4032&amp;height=3024" alt="Vatap&aacute; de Inhame. / Foto: Murilo Motta - Aratu On">
Mas ser&aacute; que &eacute; poss&iacute;vel reinventar pratos t&atilde;o simb&oacute;licos sem desrespeitar a tradi&ccedil;&atilde;o? Conversamos com Rita Ventura, presidente da ABAM &ndash; Associa&ccedil;&atilde;o Nacional das Baianas de Acaraj&eacute;, para ouvir sua opini&atilde;o sobre as mudan&ccedil;as de ingredientes:
&ldquo;Se voc&ecirc; n&atilde;o pode comer o camar&atilde;o, n&atilde;o coma (o vatap&aacute;). O acaraj&eacute;, por ele s&oacute;, j&aacute; &eacute; vegano. Ele &eacute; feito com feij&atilde;o, sal e cebola, frito no dend&ecirc;. Se acrescentar a salada, fica ainda mais vegano. Ent&atilde;o, n&atilde;o precisa dizer que est&aacute; fazendo acaraj&eacute; vegano.&rdquo;
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/0af08acc-d357-4bab-adde-61b9a0d22dac.jpeg?width=4032&amp;height=3024" alt="Acaraj&eacute; Assado. / Foto: Murilo Motta - Aratu On">
A fala de Rita pontua a import&acirc;ncia de preservar a ancestralidade presente nos pratos t&iacute;picos, mesmo em tempos de inova&ccedil;&atilde;o. O &ldquo;Sa&uacute;de na Panela&rdquo;, <a href="https://aratuon.com.br/curiosidades/voce-sabe-a-diferenca-entre-vegano-vegetariano-e-ovolactovegetariano-conheca-cada-dieta">por sua vez, aposta em releituras que respeitam o sabor</a> e a mem&oacute;ria, sem pretender substituir ou apagar as origens. Afinal, na Bahia, sexta-feira &eacute; de comida baiana para todos os gostos.
LEIA MAIS: &nbsp;<a href="https://aratuon.com.br/curiosidades/voce-sabe-a-diferenca-entre-vegano-vegetariano-e-ovolactovegetariano-conheca-cada-dieta">Voc&ecirc; sabe a diferen&ccedil;a entre vegano, vegetariano e ovolactovegetariano? Conhe&ccedil;a cada dieta</a>

Imagina estar trabalhando no seu restaurante, tranquila, e a&iacute;, ningu&eacute;m mais, ningu&eacute;m menos do que Anitta faz um pedido? Isso aconteceu no &uacute;ltimo domingo (4/7) com a baiana Mariele G&oacute;es, 34, propriet&aacute;ria e chef do restaurante La Bahianaise, em Paris.

Era um dia comum de trabalho at&eacute; que a cantora, que est&aacute; na Europa h&aacute; algumas semanas fazendo shows em v&aacute;rias cidades diferentes, postou no Instagram que estava com vontade de comer comida brasileira na Fran&ccedil;a. Ali, come&ccedil;ou um mutir&atilde;o nas redes sociais para que Anitta notasse o La Bahianaise, que serve comida baiana e brasileira h&aacute; quatro anos. E ela notou.

&ldquo;A Anitta postou durante o servi&ccedil;o de almo&ccedil;o do domingo. A&iacute;, comecei a receber algumas notifica&ccedil;&otilde;es no meu telefone, sou eu quem cuido das redes sociais do restaurante. A gente viu que ela estava procurando um restaurante de comida brasileira, as pessoas avisaram para a gente. A gente s&oacute; repostou, n&atilde;o deu para fazer muita coisa porque a gente estava atendendo as pessoas, inclusive, eu estava vendendo acaraj&eacute;. Mas, a gente fez um ou dois stories pedindo para as pessoas marcarem ela e falarem que a gente existia.&nbsp;Mandei um &lsquo;inbox&rsquo; para ela&rdquo;, disse,&nbsp;em entrevista ao Aratu On, Mariele G&oacute;es, que mora na capital francesa desde 2016.&nbsp;

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Quando a movimenta&ccedil;&atilde;o come&ccedil;ou, como relata a chef, Anitta estava entrando num jatinho na Holanda rumo &agrave; Fran&ccedil;a. Assim que pousou, viu as men&ccedil;&otilde;es ao La Bahianaise nas redes sociais, e mandou um &aacute;udio para o Instagram do restaurante.

&ldquo;Falando: &lsquo;Gente, quero sim, comida&rsquo;. Ela pediu comida sem frescura:&nbsp;feijoada, arroz, farofa normal. Ela chamou de &lsquo;farofa de farofa&rsquo;, e falou que estava com muita saudade de comer isso. O nosso trabalho &eacute; para que os brasileiros que est&atilde;o fora do Brasil tenham uma experi&ecirc;ncia honesta com a comida. E foi isso o que aconteceu. Na hora que ela respondeu, a gente estava fechando o restaurante. E foi o tempo de correr, pegar a comida e levar&rdquo;.

A hist&oacute;ria toda aconteceu no domingo (3/7), mas a ficha de Mariele ainda est&aacute; caindo. &ldquo;A sensa&ccedil;&atilde;o &eacute; muito doida, &eacute; uma mistura de responsabilidade com alegria, com empolga&ccedil;&atilde;o&rdquo;.&nbsp;

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&ldquo;O Alexandre e o Victor [que trabalham com a&nbsp;baiana] s&atilde;o muito &lsquo;Anitters&rsquo;. E eu tamb&eacute;m gosto muito, admiro muito a Anitta n&atilde;o s&oacute; como artista, mas pela maneira como ela gerencia a carreira dela, eu acho incr&iacute;vel. Para mim, &eacute; um exemplo de pot&ecirc;ncia da mulher brasileira. Eu estou at&eacute; agora assim: &lsquo;Nossa, como foi que isso aconteceu?&rsquo;. Enquanto a gente estava arrumando as marmitas e entrando no carro para ir para o hotel em que ela estava para levar a comida, parecia que era um sonho. Mas&nbsp;n&atilde;o era um sonho, e Anitta matou a vontade de comer feij&atilde;o&rdquo;, brincou&nbsp;ela.

Quando Mariele, Alexandre e Victor chegaram ao hotel, Anitta estava fazendo uma troca de figurino para um desfile, e foi a equipe dela quem recebeu as marmitas. Logo depois da entrega, a chef baiana mandou uma mensagem para a cantora: &ldquo;Anitta, a comida est&aacute; entregue, a gente espera que voc&ecirc; goste, uma pena que a gente n&atilde;o pode se conhecer&rdquo;. No ato, a artista respondeu com um &aacute;udio.

&ldquo;Ela respondeu no &aacute;udio: &lsquo;N&atilde;o, voltem aqui, subam aqui no quarto, venham c&aacute; falar comigo&rsquo;. E ela respondeu a gente realmente com muita empolga&ccedil;&atilde;o, deu para ver que ela estava precisando comer feij&atilde;o, e ela foi super simp&aacute;tica. &Eacute; uma pessoa, assim, incr&iacute;vel. Uma artista do tamanho dela e da pot&ecirc;ncia dela dedicar esse tempo que passou com a gente, tirou foto, ouviu. Estava todo mundo muito emocionado, e ela foi muito legal com a gente. Ela tem uma energia incr&iacute;vel, muito sorridente, muito feliz&rdquo;.

ONDE TUDO COME&Ccedil;OU

Antes de estudar gastronomia, Mariele se formou em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia. Durante o curso, ela fez um interc&acirc;mbio de um ano em Paris, e nunca mais esqueceu da cidade. Depois do jornalismo, a baiana foi para S&atilde;o Paulo estudar gastronomia, e ao fim do curso, decidiu ir para a Fran&ccedil;a se especializar em comida francesa. L&aacute;, ela estudou na &Eacute;cole Gr&eacute;goire-Ferrandi, uma das institui&ccedil;&otilde;es mais reconhecidas do pa&iacute;s. &ldquo;E acabou que por sorte do destino, eu fiquei aqui. E estou aqui at&eacute; hoje&rdquo;, contou.

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Mariele come&ccedil;ou vendendo acaraj&eacute; em Paris - e deu certo. O pr&oacute;ximo passo, em 2018, foi abrir o restaurante, que fica em um mercado municipal da capital francesa. &ldquo;A gente &eacute; um lugar bem pequeno, tem 23m&sup2;. O restaurante &eacute; de comida brasileira com um sotaque baiano muito forte. Tento resgatar muito da minha mem&oacute;ria afetiva, da mem&oacute;ria afetiva dos clientes. Tento muito trazer pratos que fazem parte do cotidiano das pessoas&rdquo;.

O card&aacute;pio do La Bahianaise, como explica a cozinheira, muda toda semana. O motivo? Para ter sempre uma boa variedade de pratos t&iacute;picos do Brasil. &ldquo;Como o lugar &eacute; muito pequeno, eu n&atilde;o iria conseguir ter v&aacute;rias op&ccedil;&otilde;es ao mesmo tempo por uma quest&atilde;o de log&iacute;stica, a cozinha &eacute; bem pequena. Eu mudo toda semana os pratos justamente para poder oferecer uma variedade grande de pratos&rdquo;.

Como toda grande cidade do mundo, Paris &eacute; cheia de restaurantes brasileiros. &Eacute; por isso que Mariele e a equipe, que tamb&eacute;m &eacute; toda formada por brasileiros, tenta n&atilde;o focar apenas nos pratos mais famosos, mas tamb&eacute;m trazer op&ccedil;&otilde;es diferentes, como o acaraj&eacute;.

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&ldquo;Todo mundo faz feijoada, todo mundo faz moqueca. Eu tamb&eacute;m fa&ccedil;o, porque s&atilde;o pratos ic&ocirc;nicos, s&atilde;o pratos conhecidos, importantes, mas eu tento fazer outros. Somos o &uacute;nico restaurante de Paris faz acaraj&eacute;, que &eacute; um prato dif&iacute;cil e muito importante, representativo da cultura baiana. Eu tento o m&aacute;ximo poss&iacute;vel apresentar para os franceses o que &eacute; a comida brasileira. Mas, tamb&eacute;m, ser fiel aos brasileiros, que foi o que aconteceu com a Anitta. A gente que mora aqui h&aacute; muito tempo, sente saudade. E a comida &eacute; um lugar que fala muito com o cora&ccedil;&atilde;o. A gente sente aquele quentinho quando come uma comida gostosa&rdquo;.

Com a repercuss&atilde;o do pedido de Anitta, o La Bahianaise (@labahianaise) saiu de 9 mil seguidores para 13,7 mil em 24 horas. &ldquo;Subiu muito r&aacute;pido. A mesma coisa &eacute; a quantidade de mensagens. Est&aacute; at&eacute; dif&iacute;cil para mim, que lido com isso praticamente sozinha, est&aacute; dif&iacute;cil para a gente responder as pessoas&rdquo;.

Pessoas de Paris e de cidades pr&oacute;ximas, como aponta a baiana, j&aacute; est&atilde;o procurando a casa. A partir de agora, comemora Mariele, muito mais trabalho vai vir pela frente. &ldquo;A gente tem disposi&ccedil;&atilde;o para trabalhar, sim, para fazer feij&atilde;o para todos os brasileiros que estiverem nessa Europa&rdquo;.

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