Pornografia infantil: caso na Bahia reacende alerta sobre jovens na internet

O caso de um adolescente apreendido em Maracás, no sudoeste da Bahia, trouxe à tona preocupações sobre o comportamento de jovens em ambientes digitais. A operação, denominada "Brilho do Amanhã", investiga produção, armazenamento e compartilhamento de pornografia infantil, além de crimes envolvendo abuso sexual, estupro e extorsão.

Segundo a Polícia Civil, o adolescente mantinha um vasto acervo ilegal em plataformas digitais e participava da produção e transmissão de imagens com conteúdo sexual envolvendo menores, induzindo vítimas à automutilação durante transmissões ao vivo. Durante buscas, foram apreendidos celulares e mídias digitais que servem como evidência. Após a apresentação ao Judiciário, foi determinada a internação provisória em unidade da Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac).

Pais têm mais medo de falar de internet do que de sexo

O caso reacende a discussão sobre como adolescentes interagem na internet. Para o pediatra Michael Rich, professor associado da Escola de Medicina da Universidade Harvard, não é possível “blindar” os jovens da internet, mas é essencial que pais e responsáveis saibam orientar o uso das redes sociais.

Rich pontuou que muitos pais têm mais medo de falar com os filhos sobre internet do que sobre sexo. "Isso acontece porque, correta ou incorretamente, eles sentem que conhecem algo sobre sexo, mas se sentem inseguros ao falar sobre a internet porque acreditam que os filhos sabem mais sobre isso do que eles", explicou em entrevista à Folha de S. Paulo publicada no domingo (28).

Para o especialista, de certa forma, os pais não admitem o fato de estarem "mergulhados no celular" e acabarem ausentes para os filhos. Mas, como os celulares, redes sociais e internet não vão deixar de existir, o que pode ser feito é "apoiar os pais a criar seus filhos no mundo digital”. 

'Abordagem preventiva é urgente', diz educadora sexual

Para a educadora sexual Cris Arcuri, é urgente uma abordagem aberta e preventiva. “Hoje, os jovens que estão nas redes sociais, no YouTube e nos jogos online têm contato com pornografia. A internet é o lugar mais perigoso em que crianças e adolescentes podem estar sem orientação e supervisão”, destacou em entrevista ao Aratu On.

Arcuri ressalta ainda que “onde há crianças e adolescentes, há pedófilos focados em abuso e outros tipos de violência, como misoginia, bullying e desafios perigosos que ferem a integridade desses jovens, levando muitos à depressão e, em alguns casos, ao suicídio”.

Ela defende o uso de ferramentas de monitoramento e diálogo: “Pais: existem aplicativos de segurança para monitoramento de conteúdo [veja vídeo abaixo]. É preciso ter uma conversa aberta com os jovens sobre esse monitoramento. Isso não é invasão de privacidade, é cuidado redobrado”.

 

 

 

 

 

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Segundo Arcuri, é essencial explicar corretamente o que é abuso sexual. “O abuso pode ser, por exemplo, a exposição dos jovens à pornografia, que já configura crime mesmo sem contato físico. É preciso agir agora para evitar traumas psicológicos e danos ao desenvolvimento sexual dessas crianças e adolescentes”.

Cris Arcuri no Instagram: @crisarcuri e @projetoagoraoficial

Outras operações envolvendo pornografia infantil na Bahia

Em junho, um professor da rede municipal de ensino está sendo investigado pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) suspeito de armazenar mais de 700 arquivos de pornografia infantil, incluindo registros de extrema violência, como estupros de bebês e crianças. O conteúdo estaria salvo em uma conta de armazenamento em nuvem utilizada pelo investigado.

Já em maio, um outro professor, dessa vez de Feira de Santana, foi preso em flagrante  por armazenamento e produção de pornografia infantil. A prisão ocorreu durante uma ação da Operação Proteção Integral II, que mobiliza forças policiais em todo o país no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.

Mais recente, em agosto, um homem de 27 anos foi preso, na zona rural de Muquém de São Francisco, em cumprimento a mandado de prisão preventiva por suspeita de comercializar material de pornografia infantil.

No momento da abordagem, ele estava acompanhado de um adolescente de 16 anos e foi autuado também por corrupção de menores, após ser flagrado fazendo uso de entorpecentes.