AFRODENGO: Conheça o ‘Tinder baiano’ em que apenas negros podem fazer parte
AFRODENGO: Conheça o ‘Tinder baiano’ em que apenas negros podem fazer parte
Dona Ivone Lara já dizia, desde 1981, que ?um abraço negro, um sorriso negro, traz felicidade (…)?. Cantada pela banda Ilê Aiyê até hoje no Carnaval de Salvador, colecionando versões também na voz de artistas como Daniela Mercury, Olodum e o grupo Fundo de Quintal, a canção se encaixaria bem como descrição do grupo ?Afrodengo?, criado há cerca de um mês, no Facebook.
O fórum foi gerado com o objetivo de ser um espaço para promover a interação, flerte, construção de relações saudáveis, saídas casuais e até mesmo namoro apenas entre negros.
Quando a criadora do grupo, jornalista e empreendedora, Lorena Ifé, de 28 anos, teve a ideia de produzir um espaço para reunir pessoas negras interessadas em namorar, não imaginava que em menos de uma semana chegariam mais de 500 solicitações para aprovar.
?Eu sempre questionei o aplicativo Tinder, porque acho poucas pessoas negras quando acesso. Além disso, alguém em um outro grupo só para negros ? que faço parte ? fez uma postagem que continha a frase ?afrotinder, momento paquera?. Quando vi, pensei logo em criar um fórum maior. Fiquei surpresa porque não esperava que tivesse tanta gente querendo fazer parte, mas ao mesmo tempo feliz de ver essa corrente de amor preto crescendo?, afirma.
Veja vídeo sobre o afrodengo:
O nome do grupo é explicado já na descrição. ?Quem não gosta de um dengo? Palavra que vem do dialeto Quicongo, de origem africana e significa ?carinho?, ?agrado?. Tão presente no linguajar da população negra e no vocabulário brasileiro, expressa nossa forma de amar, dar colo, fazer um cafuné, um abraço, dar amor?.
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E ?a regra é clara?: O grupo é proibido para menores de 16 anos. Entre as regras de convivência está a proibição de publicação de textos, mensagens e imagens que reproduzam o racismo, machismo, homo-lesbo-bi-transfobia, xenofobia, intolerância religiosa e qualquer outro tipo de opressão.
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Lorena agora está organizando uma espécie de ?comitê? com mais oito administradores da página, que já conta com mais de 11 mil membros, para transformar o grupo em um aplicativo. Entre os colaboradores estão uma digital influencer e um jornalista cujo trabalho de conclusão de curso foi sobre aplicativos de paquera.
TIA AMA
A jornalista e conselheira amorosa do programa Encontro com Fátima, da TV Globo, Maíra Azevedo, opinou sobre o Afrodengo para o Aratu Online. Tia Má, como é popularmente conhecida, disse que ?se vê? muito em Lorena. ?Eu compreendo essa necessidade de colocar iguais em um mesmo grupo, especialmente para as mulheres negras que sempre são tratadas como pessoas fortes, que não precisam ser cortejadas e são sempre as últimas a serem escolhidas?.
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Maíra diz que também é a favor do relacionamento interacial, mas acha importante dizer o quanto é raro o amor entre negros ser abordado. ?Quando esse tipo de iniciativa parte do povo negro, as pessoas evidenciam essa exclusão, mas ninguém evidencia a exclusão que o povo negro sofre nas rodas sociais, na TV, nos grandes espaços sociais. Quando a gente vai lá e toma a iniciativa de fazer algo pra encontrar nossa cara metade que tenha a mesma cor da gente, as pessoas se assustam?.
A jornalista cita o ditado ?Preta é para cozinhar, mulata para fornicar e branca para casar? para dar apoio e parabenizar Lorena pela iniciativa. ?Quando um aplicativo desse é criado é pra diminuir essas estatísticas perversas que deixam a gente tendo a solidão como companheira?.
E PODE?
Páginas semelhantes já existem em outras cidades, como é o caso do grupo ?AfroLove? e ?AfroCupido?. Mas em Salvador, a ideia é pioneira.
Lorena conta que já criticaram o grupo e a acusaram de praticar racismo reverso. ?Quando eu publiquei em outro grupo que estava pensando em criar o Afrodengo, pra saber o que as pessoas achavam, teve gente que veio criticar e dizer que era segregador, além de questionar a legitimidade do fórum. Chegaram a dizer que iam criar um só para brancos também?, revela.
O advogado e militante do Coletivo de Entidades Negras, Luiz Paulo Bastos, afirma que há legitimidade no grupo e que racismo reverso não existe. ?Racismo é algo que foi construído ao longo da história, onde os oprimidos, os negros, eram afastados da elite e dos espaços de prestígio. Não tem como configurar o Afrodengo como ?racismo reverso?, uma vez que a criação do fórum tem o objetivo de levar essas pessoas a um espaço onde elas acreditam ser melhor para elas ou onde se sintam mais à vontade?.
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