LGBTs e o mercado de trabalho
Quantas pessoas LGBTQIA+ você tem como colegas de trabalho? Quantas pessoas LGBT já te chefiaram? Quantas pessoas trans você já viu no mercado formal de trabalho? Muito pouca ou nenhuma, né?
Enquanto dados gerais apontam que cerca 14% da população estão desempregados, entre a comunidade LGBT esse número passa de 21%, mas pode ser ainda maior, já que o Instituto Brasileito de Geografia e Estatística (IBGE) se recusa a incluir dados sobre gênero e orientação sexual, para que a gente possa saber, de fato, um número mais correto de quantas pessoas são LGBT's no Brasil e, a partir disso, pensar na formulação de políticas públicas mais efetivas.
35% dos LGBT's alegam que já sofreram algum tipo de violência no trabalho, de forma indireta ou direta. 60% das pessoas LGBTQIA+ escondem sua orientação sexual no trabalho e, entre os que revelam, 49% não querem falar sobre o assunto.
Entre as pessoas trans esses dados são ainda mais graves. Para conseguir emprego, elas dependem de ações pontuais que são promovidas pelas empresas. 90% das pessoas trans chegam a recorrer à prostituição como meio de vida, porque não conseguem colocação no mercado de trabalho. Algumas têm currículos muito bons e estão desperdiçadas por serem trans.
Não é razoável que a gente viva em uma sociedade que alguém seja impedido de trabalhar e ganhar o seu sustento devido à sua condição de humanidade. Por isso, é importante que a gente reflita como a LGBTfobia afeta as relações de trabalho no nosso país e como isso também é uma burrice econômica,
porque a comunidade LGBT já se mostrou ser uma potência econômica, movimentando bilhões de reais por ano (só no Brasil). Uma pesquisa recente mostra que empresas preocupadas com diversidade são 21% mais lucrativas.
Às vezes, a violência começa na família, e é muito comum ouvirmos relatos de pessoas que foram postas para fora de casa. Outro lugar onde acontece essa violência é na escola, e aqui começa a desvantagem. Na medida que essas pessoas precisam abandonar o ambiente educacional por conta do nível de violência que elas sofrem, é evidente que, no futuro, elas tenham impactos. É importante que a gente reflita também sobre as pessoas trans, porque até o desrespeito ao nome social se configura uma violência que dificulte a presença delas no mercado de trabalho. O primeiro desafio pra uma pessoa LGBT começa, justamente, na contratação. Não há vagas, normalmente. Nesse caso, seu currículo pouco importa. Se alguém achar que você é LGBT, vão investigar sua vida e fazer com que você traga relatos que não deveriam constar em uma entrevista.
Quem consegue ter um mercado de trabalho, muitas vezes, não assumiu a sexualidade, mas o que assumem, ou já são assumidos quando entram, vão vivenciar episódios de piada, exclusão, perseguição, danos à saúde mental e um completo descaso por parte da maioria das empresas. Outra coisa muito comum é a demissão, depois que a empresa descobre que se trata de alguém LGBT, chegando até a manchar a imagem dessas pessoas.
Para vencer esse desafio não basta dizer que não é preconceituoso. É preciso combater o preconceito de forma efetiva. As empresas e o estado brasileiro precisam de posicionar. Abrir vaga específica, criar protocolos, capacitar o RH [área de recursos humanos], fazer campanhas, entre outras iniciativas que podem ser adotadas numa perspectiva de inclusão de pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho. Não dá para imaginar a superação das desigualdades e do preconceito sem garantir que elas cheguem ao mercado de trabalho.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.
Siga a gente no Insta, Facebook, Bluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).