Axé Music: 40 anos do gênero musical que mudou a história do Carnaval
Axé Music celebra 40 anos neste Carnaval; relembre a trajetória dos artistas que marcaram o gênero
Por Laís Machado.
"Eu sabia que estava fazendo diferente de tudo que tinha no mercado, porque era minha única chance de fazer sucesso. Não existia nada que eu pudesse copiar, esse disco é matriz", conta Luiz Caldas, o ‘Pai do Axé Music’. Ele se refere a 'Magia', obra considerada o marco inicial do sucesso do gênero, que transformou o mercado musical baiano. Completando 40 anos em 2025, a Axé Music surgiu de uma crítica, quando o jornalista Hagamenon Brito, em 1987, usou o termo para ironizar esse novo estilo, comparando-o a algo brega, que não faria sucesso.
Apesar das críticas, os artistas da época, com suas roupas coloridas e brincos exuberantes, deram um novo significado ao termo, tornando o gênero um dos mais conhecidos e respeitados do Brasil. A canção Fricote [Nega do Cabelo Duro], de 1985, uma das faixas mais populares do álbum de Luiz Caldas, ultrapassou as fronteiras da Bahia, levando o gênero musical a ser reconhecido em todo o país.
O Axé
Axé é um termo iorubá, que significa “energia positiva”. Já o ritmo musical surgiu da mistura do Samba Reggae, criado por Antônio Luís Alves, com o antigo Frevo baiano, que é diferente do Frevo de Pernambuco.
Antônio Luís, mais conhecido como ‘Neguinho do Samba’, foi o idealizador do Samba Reggae, uma das maiores influências da Axé Music. Mestre de percussão do Olodum, ele marca um dos sucessos mundiais do ritmo, que conquistou até o ‘Rei do Pop’, Michael Jackson. Em 1996, o cantor esteve no coração do Pelourinho para a gravação do icônico clipe de 'They Don't Care About Us', ou 'Eles não ligam para nós, em tradução livre, junto com o Olodum.
Para Luiz Caldas, é essa mistura que sustenta o gênero musical: "No caso dos arranjos que eu fiz para a canção, na Axé Music, no caso para o disco Magia, essa junção que eu fiz foi de música para música, entendeu? E cada música tinha ali todos esses elementos. De uma certa forma, o disco nasceu tocando os arranjos, a gente tocando tudo isso foi tomando um corpo bem legal, sonoramente falando. Essa fusão musical é toda a espinha dorsal que é o Axé Music", contou ao Aratu On.
Daniela Mercury- O Canto do Axé que conquistou São Paulo
"Tremeu o chão", foi a frase mais dita pelos veículos de imprensa, após o show de Daniela Mercury. Em 1992, a cantora se apresentou no Museu de São Paulo (MASP), e lotou o local, com mais de 30 mil pessoas reunidas. Sua autenticidade e personalidade forte conquistaram todo o Brasil, e não à toa, ela é considerada a ‘Rainha do Axé’.
A apresentação rendeu a Daniela um contrato com a gravadora Sony, além de impulsionar sua carreira como um dos maiores nomes da música brasileira. Sempre engajada, ela utilizou sua visibilidade para defender causas sociais. No Carnaval de Salvador, suas performances à frente dos trios elétricos se tornaram um marco. A artista é protagonista de momentos marcantes no Carnaval de Salvador, arrastando multidões ao som de sucessos como ‘O Canto da Cidade', ‘Rapunzel’ e ‘Swing da Cor’.
Daniela também levou o gênero musical para o âmbito internacional, fechando parcerias com artistas como Paul McCartney, Sting e Ray Charles.
Carnaval ganha outra dimensão através da Axé Music
Também marcante nos anos 90, Margareth Menezes foi além da Axé Music, expandindo sua música para o movimento ‘Afropop brasileiro’. “Sempre questionei o lugar da representação, sem nem saber que era isso que estava identificando, mas com o objetivo de prestigiar também os artistas negros, dar destaque ao que os blocos afros faziam. Fiquei me questionando: por que não? Por que a Banda Mel é uma maravilha e a gente não tinha o mesmo destaque que outras bandas? Por que a visão comercial, a visão do mercado naquele momento não absorvia da mesma forma?
Então, eu questionava: cadê o lugar do Lazzo (Matumbi)? Cadê o lugar do Olodum? Cadê o lugar do Mestre Neguinho do Samba? Cadê o destaque dessas pessoas que tanto contribuíram com a música? Aí eu criei o movimento afropop brasileiro, levei para a Barra, e aí foram seis blocos afros comigo: Muzenza, Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy, Olodum, Malê deBalê e teve mais um que foi comigo também", contou, através das redes sociais, a atual Ministra da Cultura sobre sua influência e trajetória na axé music.
Além de Margareth, Daniela e Luiz Caldas, surge, anos depois, a segunda geração do gênero, que ainda revela novos nomes de peso da maior festa de rua do planeta. Entre os anos 90 e 2000, vieram à tona artistas como Ivete Sangalo, Claúdia Leitte, a banda 'É o Tchan', Tuca Fernandes, Alinne Rosa e Saulo, que mantém vivo o legado do gênero musical nascido na Bahia.
A experiência única de seguir um trio elétrico, pulando e dançando pelas ruas, fez da Axé Music sinônimo de folia e consolidou o Carnaval de Salvador como um dos maiores do mundo. Além dos 40 anos do ritmo, a festa não seria a mesma sem sua principal atração: os trios elétricos, invenção de Dodô e Osmar, que completam 75 anos este ano. Blocos icônicos como Crocodilo, Camaleão, Coruja e Galo da Madrugada ajudaram a imortalizar o gênero, arrastando multidões e mantendo viva a tradição dessa grande celebração.
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