POR DENTRO DO BANHEIRÃO: Os mistérios e perigos do sexo em banheiros públicos de Salvador

POR DENTRO DO BANHEIRÃO: Os mistérios e perigos do sexo em banheiros públicos de Salvador

Por Da Redação.

POR DENTRO DO BANHEIRÃO: Os mistérios e perigos do sexo em banheiros públicos de SalvadorReprodução

Envolto numa mistura de fetiche, possível exposição à doenças contagiosas, prazer e tensão, o ‘banheirão’ é pouco falado abertamente — constituindo-se em um tabu social. Apesar do silêncio imposto, sua prática é recorrente nos mais diversos espaços públicos, relegados ao submundo do sexo.

O ‘banheirão’, simplesmente, é o nome que se dá à pegação em banheiros públicos. A prática está na maioria das vezes associada ao público gay. As cabines projetadas para satisfazer necessidades fisiológicas tornam-se espaços improvisados para o sexo ligeiro (e selvagem) num metro quadrado improvável.

 

Banheirão em Salvador

Em Salvador, a exemplo das grandes metrópoles, é possível se deparar com ‘pegação’ em shoppings, praças, parques, estações de ônibus e metrô. As situações acontecem nos horários de maior fluxo de pessoas. Tudo de forma silenciosa com, até, homens que não se identificam como homossexuais. Eles se colocam acima de qualquer suspeita reproduzindo, inclusive, atitudes extremas heteronormativas — como o machismo e mesmo a homofobia.

Pesquisador do tema, com um trabalho de mestrado em antropologia sobre a prática do banheirão, o jornalista Tedson Souza aponta que o tipo de público de cada banheiro varia de acordo com o bairro. Ele explica que esse contexto muitas vezes foge completamente do cenário gay.

“É interessante saber que o cara que faz ‘pegação’ na Lapa é diferente daquele que faz isso no Shopping Barra. Na Lapa, a maioria são homens negros, pobres, oriundos da periferia, saindo de uma  forma da cena gay oficial que elege aquele homem branco, atlético e bonito”, detalha.

Autor da dissertação “As dinâmicas das interações homoeróticas nos sanitários públicos da Estação da Lapa e Adjacências”, Tedson conta que na construção do pesquisa visitou alguns banheiros da cidade, mas viu no contexto da Lapa, com sujeiras e degradações da época, um local ideal para o estudo.

“A Lapa é um terminal de ônibus onde a cidade se integra. Tem pessoas vindo de todos os pontos da capital baiana e Região Metropolitana para estudar, trabalhar, ir ao médico e até mesmo se divertir. Além disso, no período do meu estudo, concentrava bares e boates, o que aflorava ainda mais esse comportamento”, diz.

Ele conta que existe uma espécie de hierarquia sexual e códigos de comportamento nestas práticas. “Descobri que no banheiro da Estação Mussurunga tinha um conflito enorme entre as travestis e os homens que faziam sexo no banheiro. Eles não aceitavam as presença delas. Chamavam a polícia e era a maior confusão”.

Tedson explica que, apesar de dividirem o mesmo ambiente, existe uma separação de grupos dentro dos banheiros, fugindo ainda mais da padronização de um público central.  “Tinha o mais desejado, que era o mais másculo e isso já entra na busca pelo homem de verdade e o menos desejado por ser  afeminado. Aquela transgressão ali tinha uma “desorganização” organizada, com regras”,.

A violência como forma de repressão é um elemento que sempre acompanha a prática do ‘banheirão’. “A polícia se sente  no direito de descer a porrada quando se depara com essas situações”, diz Tedson.

 

Veja vídeo com a análise do jornalista e mestre em antropologia Tedson Souza

 

ADOLESCÊNCIA NO ‘BANHEIRÃO’ 

O pedagogo Douglas Amorim, de 25 anos, assume que já participou desses encontros enquanto ainda era menor de idade. Ele conta que os banheiros do Terminal Rodoviário de Salvador e no banheiro do 2º piso do Shopping da Bahia, antes Iguatemi, são locais fortes para essa atividade.”As pessoas sempre marcavam para se encontrar nesses locais por serem amplos e sem muita movimentação em certos horários”, disse.

Douglas revela também que, apesar da pouca idade, cerca de 16 anos na época, ele já tinha uma personalidade forte e sabia que era homossexual. Por curiosidade começou a frequentar locais estratégicos.

“Eu fazia esse tipo de coisa por vontade própria, mas também por falta de um espaço ou até mesmo opções para o público LGBT. Vivemos em uma sociedade muito tradicional, onde os avanços não foram suficientes para tirar a opressão sob os homossexuais, por isso esse tipo de coisa é como se fosse um prazer momentâneo”, analisa.

Amorim explica que pela maturidade e questões profissionais deixou de praticar ‘banheirão’. “Apesar de não fazer mais não condeno que ainda esteja nessa. Inclusive eu não teria problema algum em namorar alguém que já praticou”, pontua.

 

TODOS FAZEM

A psicanalista Clarissa Lago explica que a prática do ‘banheirão’ nada tem a ver com orientação sexual.”Já passamos do tempo de achar que só os homossexuais são promíscuos e fazem isso com mais frequência. Héteros fazem, bissexuais também”, aponta.

De acordo com Clarissa, não há protagonismo de identidade sexual nesse campo, uma vez que o banheiro serve como um especie de ‘caixinha’ de segredos e esconde os desejos mais ocultos. “Se pararmos para pensar, a proporção de pessoas bissexuais nesses ambientes é muito maior.

O alerta feito pela também psicóloga é com relação a saúde, já que muitas vezes a falta de higiene, preservativos e precariedade, o que pode trazer contaminações das mais variadas. Segundo ela, muitos transam sem camisinha e nem se preocupam com isso. “Existe também aqueles que fazem uso dessa prática alcoolizados, pois sóbrios não conseguem ter relações por conta da inibição”.

 

DADOS DE SAÚDE

De acordo com o relatório mais recente do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), um milhão de pessoas a mais tiveram acesso ao tratamento antirretroviral em seis meses. Em junho deste ano, dados apontaram que cerca de  18 milhões de pessoas estão em terapia antirretroviral em todo o mundo.

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GUARDA MUNICIPAL 

Procurada pela reportagem do Aratu Online, a Guarda Municipal, que é responsável por cuidar do patrimônio público municipal, em nota, explicou que caso alguém seja flagrado cometendo este tipo de prática, é conduzido para a central de flagrantes.

Veja nota na íntegra :

Referente as dúvidas sobre relações sexuais realizadas nos banheiros públicos de Salvador, a Guarda Civil Municipal informa que no caso de flagrante delito, os agentes intervêm no caso, como ocorreu no último dia 04, onde guardas municipais detiveram um homem suspeito de assaltar e estuprar uma mulher dentro de um banheiro químico na praia de Jardim de Alah. O meliante foi encaminhado para Central de Flagrantes, e ficou detido. Os banheiros privados são de responsabilidade do estabelecimento.

A Guarda Civil Municipal de Salvador atua nas praças, parques e prédios públicos, monumentos, postos de saúde, escolas, Centro de Referência de Assistência Social ? CRAS, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), conselhos tutelares, dentre outros. Auxilia ações de diversos órgãos públicos, além de operações rotineiras, como a Operação de Plano de Ação Integrada (PAI) em apoio a Semop, Lei Seca e Transporte Clandestino em apoio à Transalvador, Operação Silere (que integra o Programa Pacto pela Vida da SSP que envolve a Sucom, Polícias Civil e Militar e Guarda Civil), Abordagem Social, com a Semps, dentre outras.

 

GRUPO GAY DA BAHIA

O Aratu Online entrou em contato com o presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira para falar do assunto. Entretanto, ele não quis se pronunciar sobre tema, e disse que apenas uma parcela dos homossexuais fazem isso.

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