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NINGUÉM TOMBA: Por identidade, negros reafirmam moda e ressignificam empoderamento

NINGUÉM TOMBA: Por identidade, negros reafirmam moda e ressignificam empoderamento

Por Da Redação

NINGUÉM TOMBA: Por identidade, negros reafirmam moda e ressignificam empoderamentoNBlack

Com objetivo de fortalecer ainda mais a cultura do povo negro, que é integralmente influenciada pela mãe África, a moda étnica tem vestido o corpo e feito a cabeça de muitos soteropolitanos. Por todos os bairros da cidade é possível ver aqueles que se identificam com a cores, formas, texturas e modelos desse tipo vestimenta.


Mas para além das roupas, o ato de se vestir fala muito sobre seu comportamento e consciência sociopolítica. O empoderamento está totalmente ligado as atitudes, pois com ele você poder ser quem e como você quiser.


Para a empresária Najara Black, de 33 anos, que é dona da marca Nblack, com loja física situada na Avenida Carlos Gomes, em Salvador, é importante ter um espaço que as pessoas se identifiquem com as peças. Ela sempre gostou de moda e há onze anos optou por esse setor pela carência do mercado nesse segmento.


“A marca surgiu em 2005 e eu queria fazer algo diferente, uma moda que se comunicasse com os negros. Mas eu não tinha muito conhecimento de tecido, por isso pensei em bolar algo que tivesse minha marca, onde eu pudesse trabalhar a auto estima dos jovens negros naquele momento”, disse.


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Najara conta que apesar das dificuldades, ela conseguiu superar os desafios e hoje tem um nome estabelecido no mercado de moda na capital baiana. “Com o passar do tempo eu fui adquirindo conhecimento e experiências com vendedoras de lojas. Comecei com camiseta e depois passei para vestidos e calça”, explicou.


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Ela revela, ainda,  que vende peças a partir de R$ 50, 00 e sempre remete as coleções ao empoderamento do povo preto. “Algumas peças contam com frases de um escritora de São Paulo, Riane Leião, e a gente faz algumas frases bem legais para empoderar essa galera. Hoje a marca cresceu de tal forma que não só negros, mas até brancos usam. Pessoas de várias etnias compram lá na loja e eu recebo muitos turistas, que se identificam com os produtos”, concluiu.


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CABELO


A identidade do negro está nas características físicas. Antes, o padrão de beleza para mulheres acontecia de várias maneiras, mas a mais forte delas era o alisamento que fazia, literalmente, a cabeça das meninas desde muito cedo. Elas  se sentiam na obrigação de ter os cabelos alisados para se adequarem ao esteriótipo branco, imposto pela grande sociedade e grande mídia, através da televisão.


A estudante de comunicação, Itana Alencar, de 22 anos, é negra, e tem o tom de pele claro, por isso teve privilégios em algumas ocasiões.  Ela afirma que é possível fazer política com moda.


Segundo ela, sua maior mudança aconteceu com os cabelos, que por anos foram alisados por químicas, e por isso foi necessário um longo período de transição para voltar a ter as ‘madeixas’ naturais e ganhar mais liberdade para fazer atividades comuns como ir em um show ou até mesmo a praia sem se preocupar com o visual.


“Eu entrei em transição em 2012, e a decisão aconteceu por conta do cansaço de usar chapinha e ver que o seu cabelo liso não é natural. Tem também a questão da rotina ser corrida e você não puder molhar a cabeça, e por isso eu tentei ser natural” relatou.


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A jovem revela ainda que a maior dificuldade foi no começo da mudança, que é quando você sente a necessidade do alisamento. “Nos primeiros três meses é muito difícil, porque é quando o cabelo cresce e você sente a falta do alisamento e refazer a química. Eu fiquei 1 anos e 8 meses nessa mudança e foi um período da minha vida onde a auto estima esteve muito baixa”, revelou.


Itana revela,  também, que  toda essa transformação e aceitação ainda ajudou no orçamento. Antes, o gasto era quase três vezes mais do que agora. “Na época do alisamento eu gastava cerca de 350 reais, que era a progressiva mais o tratamento. Hoje eu compro hidratação e creme para pentear, coisa de R$ 100 a R$ 150 reais a cada dois meses.


Já Aina Soledah, de 21 anos, que também é estudante de comunicação, mas tem a pele mais escura, os padrões foram mais cruéis. Segundo ela, desde muito nova era comum ouvir as pessoas dando ‘conselhos’ para sua mãe mudar seu cabelo: “Como você tem paciência pra pentear?; ?Se eu fosse você alisava logo o cabelo dessa menina para se livrar desse problema?.


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Aina conta que comentários como esse só fizeram fortalecer seu desejo de se olhar no espelho e se reconhecer como mulher negra.”Eu comecei minha transição em 2014, quando tinha 19 anos, pois via a necessidade de me reafirmar para essa sociedade racista. Mas mesmo assim eu lutei para não fazer o BC, que é o Big Corte (corte que tira toda parte alisada) tive medo da reação das pessoas.


Após a mudança, ela conta que se sentiu realizada: “Eu nasci assim, meu cabelo é crespo e para cima e desse jeito que vai ser”.


AUTOAFIRMAÇÃO


Com todo esse começo de mudança no comportamento e aceitação do esteriótipo negro, a força do povo preto cresce e contribui para a autoafirmação da estética como um todo.


O racismo no Brasil opera pelo fenótipo, onde sua boca, nariz, tamanho da bunda, cabelo e cor da pele determinam o tratamento que você merece receber no cotidiano. Porém na contramão dessa estética que coloca os negros nos lugares menos favorecidos está a oportunidade de se autoidentificar e assim lutar contra o racismo.


Para a antropóloga Naira Gomes, de 29 anos,  que é uma das fundadoras do movimento ‘Marcha do Empoderamento Crespo de Salvador’, quando algumas pessoas dizem que cabelo black é moda, a tentativa é descolar moda de política, entretanto os dois temas estão interligados.


“Enquanto na minha rua, eu era a louca com cabelo de piolho, hoje eu sou referência que todo mundo que parecer, inclusive minhas tias, minha mãe.  A estética está ligada a autoafirmação, ver no outro um par para a luta”, contou.


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Ela explica que muitas pessoas não se descobriram como negros e isso é um fator preocupante, já que dessa forma você não pode dividir suas angustias e dores do dia a dia. “Você sofre só, se mutila só, mas depois que você encontra uma rede você pertence a um lugar e isso é revolucionário, pois ajuda na sua auto estima”, conta.


Ainda segundo Naira, através da estética o negro é privado de diversas coisas, por isso é fundamental ter consciência para quebrar essa cultura que mata e adoece homens e mulheres negras.


“A gente está falando de um recorte histórico, porque o cabelo, moda e roupa são formas de  fazer política. Quando os escravos chegaram ao Brasil, eles tinham o cabelo raspado, pois o cabelo significava etnia e prestígio, assim como o turbante e cabelos cacheados,  que são frutos da miscigenação e eram escolhidos a dedo para colocar na casa grande. Foi lá atras que houve essa separação das texturas dos cabelos mais crespos e cacheados, sendo assim mais uma estratégia do racismo”, explicou.


 


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