Áudio expõe racismo praticado por gerente de loja em Praia do Forte contra funcionárias

"Acho feia".

"Ela é negra mesmo! Cor de disco"

"Negra tifunzinha"

"Força muito, porque nunca vi 'nego' ter cabelo liso"

"Parece que passou ferro"

"Cabelo de nego"

Essas foram "apenas" algumas das ofensas racistas proferidas pela gerente de uma grife de roupa esportiva em Praia do Forte, a cerca de 80 quilômetros de Salvador, referindo-se a duas funcionárias.

As falas foram gravadas por uma terceira pessoa, no ano passado, mas viralizaram nessa quarta-feira (4/10), após uma das vítimas, Vanessa Ribeiro, de 26 anos, fazer a denúncia. Ela trabalhou na loja da Track&Field de Praia do Forte entre 2021 e 2022, e foi desligada no final do ano passado.

No áudio que circula nas redes sociais, a então gerente do estabelecimento, identificada no áudio como "Pati", critica os cabelos de Vanessa e uma segunda funcionária. Ao mesmo tempo em que fala que Vanessa não deveria usar o cabelo alisado, pois nunca viu "nego de cabelo liso", e "assumir" que é negra, diz que a outra mulher deveria se "assumir menos", diminuindo o tamanho do black power.

"Vanessa, por exemplo, ela é negra, 'cor de disco'. Eu acho que ela alisar o cabelo fica muito artificial, porque ela é 'negra tifunzinha'. Se ela botasse o cabelo cacheado ficaria bonita, então força muito... Nunca vi 'nego' de cabelo liso", comenta Pati. Na linguagem popular, "tifú" é "algo muito feio" ou "mulher feia".

Vanessa realizou a denúncia à Polícia Civil na última segunda-feira (2), após ter ficado pensativa. Em entrevista ao jornal Correio, disse que já  havia presenciado atos racistas na loja, até com clientes, mas que eles não percebiam. "Quando uma pessoa negra entrava na loja, diziam coisas tipo: 'ah, esse preto aí não vai comprar, não tem dinheiro'. Isso me magoava", relatou à publicação.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Track&Field informou que abriu sindicância para apurar o ocorrido e que a gerente, "Pati", já foi afastada. Leia abaixo, na íntegra:

"A Track&Field desde que tomou ciência do episódio ocorrido na Loja da Praia do Forte, envolvendo uma de suas funcionárias e uma ex-colaboradora, que já não trabalha na loja há mais de um ano, realizou uma sindicância interna para apuração do fato, que seguiu com o desligamento da funcionária.

Somos uma marca de bem-estar e por isso buscamos promover o melhor ambiente para nossos clientes, colaboradores e parceiros. Este tipo de situação fere os valores da marca que é veemente contra qualquer tipo de discriminação. Com isso, seguiremos prestando o apoio necessário a todas as partes envolvidas e reforçando a importância do respeito às pessoas".

Vale ressaltar que, em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que tipifica como crime de racismo a injúria racial, com a pena aumentada de um a três anos para de dois a cinco anos de reclusão. Enquanto o racismo é entendido como um crime contra a coletividade, a injúria é direcionada ao indivíduo.

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