AMORES LIVRES: Casais rompem barreira tradicionalista e optam por relacionamentos modernos
AMORES LIVRES: Casais rompem barreira tradicionalista e optam por relacionamentos modernos
A sociedade ocidental vive há anos sob a ?ditadura? da monogamia. Desde pequenos, somos criados para aceitar a ideia de um parceiro por vez. Quem ousa romper essa barreira, tem que lidar com o preconceito, olhares e comentários. É preciso certa dose de coragem para ir de encontro a esta tradição e se tornar um adepto do ?amor livre?.
De acordo com o terapeuta transpessoal Jordan Campos, este conceito pode se aplicar aos mais variados tipos de relação. Hoje em dia, os mais comuns são os relacionamentos abertos e o poliamor. Se você imaginou que ambos são a mesma coisa, está redondamente enganado. Segundo ele, existe um ponto básico que afasta esses dois conceitos:
?Relacionamento aberto pressupõe um relacionamento clássico, onde existem duas pessoas, e essas pessoas têm autorização para conseguir parceiros fora de sua casa, fora do núcleo familiar. Eles têm um núcleo familiar, que compete a eles, e fora, podem ter acesso a outras pessoas. O poliamor já é o contrário. As pessoas não podem ter outros parceiros. Elas são fiéis, mas a quem está vivendo dentro da casa. Podem ser dois homens e uma mulher, pode ser duas mulheres e um homem…?.
Para ele, a principal motivação é a curiosidade. Os envolvidos sentem que, de alguma forma, o lado mais ?tradicional? não é tão atrativo quanto antes e buscam por algo novo, diferente. Esta nova dinâmica de relacionamentos oferece a elas oportunidades que, no passado, não pareciam tão reais.
Relacionamentos Abertos: Liberdade para experimentar
Este é o caso de M.O. soteropolitana de 43 anos. Ela e o marido decidiram, em 2013, abrir a relação e encarar novas experiências. ?Estávamos sentindo vontade de conhecer outras pessoas, mas não queríamos nos afastar um do outro?, explica.
Juntos, eles iniciaram uma pesquisa para encontrar perfis que se adequassem àquilo que desejavam. ?Tive um primeiro relacionamento com outro rapaz. Éramos um ‘trio’: eu, meu companheiro e novo parceiro, só que não vivíamos juntos?.
A nova parte do triângulo amoroso e consensual morava em Feira de Santana. Os encontros, que só envolviam ela e o rapaz, aconteciam a cada 15 dias e esta primeira experiência durou oito meses.
Isto porque, durante esta etapa, o companheiro de M.O. não sentia a necessidade de ficar com outras pessoas e apenas ela buscava parceiros fora da relação, em um exemplo clássico de relacionamento aberto. ?Tive um segundo companheiro, que também não vivia com a gente. Ficamos juntos por um ano?.
Atualmente, o processo de naturalização das diferenças fez com que ambos assumissem novos parceiros. Um deles, mora junto com M.O e o seu marido que, por sua vez, se assumiu bissexual e mantém um relacionamento estável com outro homem, que não integra o núcleo familiar. Pensa que isso é motivo de problemas? Não na opinião dela: ?Tem sido uma experiência muito boa, muito rica. Tenho aprendido muito?.
Relacionamento Liberal e Poliamor: Um tipo diferente de fidelidade
Mas se você acha que esse universo de possibilidades para por aí, está redondamente enganado.
Um bom exemplo é o do casal paulista formado por Gabriel Vaz, 26 anos, e Tuy Potasso, 23. Eles moram em Ribeirão Pires, interior do estado, e estão há quatro anos e meio em uma relação que classificam como ?liberal?, quase ?irmã? do poliamor.
?Nós podemos ficar com outras pessoas, desde que os dois estejam sempre juntos?, contam. Mas para eles, que são bissexuais, a relação não se resume à interação sexual. ?Não gostamos de sair apenas para transar. Queremos, de fato, manter contato com estas pessoas?.
A diferença neste caso é que o núcleo familiar é composto apenas pelos dois, que são casados. Mergulhados neste universo de experimentação, Gabriel e Tuy criaram um canal no Youtube, o ?Sensualise Moi?, onde falam sobre experiências pessoais e dão dicas ?sem tabu, nem preconceitos, da forma mais clara possível?.
Confira o vídeo que eles gravaram para o Aratu Online:
Tabus, Preconceitos e Dogmas Religiosos
O julgamento social ainda é o maior problema enfrentando pelos adeptos dos relacionamentos modernos. Questões éticas, controle social, tradições religiosas, todos estes fatores contribuem para que comportamentos, tidos como pouco convencionais, sejam classificados como ?safadeza?, ?pouca vergonha? para ficar nos adjetivos mais leves.
?Mas é muito mais fácil você encontrar pessoas que vivem um amor livre, mas que escondem isso dos seus parceiros, do que o contrário?, diz Campos. A razão para isto é que a sociedade, ou boa parte dela, aceita a traição em uma relação ente duas pessoas com maior naturalidade.
É preciso ser monogâmico para ser aceito, respeitado, ainda que você não o seja de fato. ?A monogamia é algo culturalmente imposto. A alma do ser humano não é monogâmica. Nós ajustamos a nossa alma poligâmica dentro de um contexto social monogâmico da Igreja Católica?.
Diante desta nova realidade, o que esperar do futuro? Seria possível que, em alguns anos, os relacionamentos modernos e amores livres se transformassem em algo aceitável e predominante? Na opinião de Campos, este é um diagnóstico complexo:
?É cedo pra saber como isso vai se configurar (a questão do poliamor)?. E completa: ?Não acredito em regra no futuro. Acho que estamos passando por um momento de desconstrução de muitas formas, da questão da homossexualidade, homoafetividade, a questão da heterogamia. As tradições religiosas já estão se adaptando a isso, mas não acho que vai ser regra. Acho sim, que vai ser possível conviver com mais tranquilidade com relação a isso?.