Saúde

Ex-diretor da Anvisa defende órgão sobre vacinas compradas pela Bahia; "não quer atender necessidades de 'paizeco'"

Durante entrevista, o médico sanitarista sanou algumas dúvidas coletivas sobre o papel da instituição máxima de saúde no Brasil, e a eficácia das vacinas.

Por Da Redação

Ex-diretor da Anvisa defende órgão sobre vacinas compradas pela Bahia; "não quer atender necessidades de 'paizeco'" reprodução/Youtube/Ministério da Saúde

O programa Liga da Madruga, da TV Aratu, recebeu, na madrugada desta segunda-feira (3/5) o sanitarista Gonzalo Vecina Neto. Durante a entrevista, o ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tirou algumas dúvidas coletivas sobre o papel da instituição máxima de saúde no Brasil, e a eficácia das vacinas, assunto que tem sido bastante abordado recentemente, por conta da campanha de imunização contra a Covid-19.


De acordo com Vecina, tudo que passa de medicação no Brasil tem a aprovação da Anvisa. "Quem tá vivo hoje no Brasil, tomou vacina. Não tem jeito de estar vivo sem ter tomado vacina. As vacinas evitam uma série de doenças, bastante complicadas. Vamos falar do tétano, da paralisia infantil, do sarampo, da difteria, da tuberculose, da rubéola, da caxumba, das pneumonias, da meningite, pra tudo isso, tem vacina. Você que está aqui, com certeza tomou vacina, que foi aprovada pela Anvisa", explicou.


O médico também esclareceu sobre a importância dos imunizantes para conter o avanço de várias doenças. "Vacina é um produto fantástico, porque é aplicada em uma pessoa quando a pessoa não está doente. Para que a pessoa produza uma defesa contra aquela doença, antes de aquela doença o agredir. Então, a vacina é um instrumento muito importante pro futuro da humanidade", complementou.


Durante e a entrevista, Vecina foi questionado sobre a liberação da Sputnik V, vacina contra a Covid-19 produzida pela Rússia. O Consórcio do Nordeste tem tentado realizar a compra do imunizante, para avançar na campanha de vacinação, já que há a falta de vacinas no país, mas a Anvisa não aprovou o uso emergencial, nem o registro definitivo. 


Sobre isso, o médico explicou que a Anvisa é um órgão do Estado, não de governo e tem a responsabilidade de garantir a segurança dos produtos que são usados na assistência à saúde da população. Portanto, disputas políticas não podem interferir no processo da liberação. "A principal tarefa da Anvisa é garantir que [a vacina] não faça mal. Isso não é pouco. É o principal básico da medicina", ressaltou.


O médico sanitarista afirmou, ainda, que a instituição de saúde é composta por funcionários treinados e capacitados, e que mesmo que um militar assuma o comando da instituição, quem decide sobre a liberação ou não de algum medicamento é o corpo técnico do órgão. 


Até o momento, Anvisa aprovou quatro vacinas no Brasil: a da Sinovac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a China; a da Oxford-AstraZeneca, produzida no Brasil com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); a da Pfizer/BioNTech e a da farmacêutica Janssen, empresa do grupo Johnson & Johnson.


A vacina indiana, Covaxin, não foi aprovada porque é produzida em uma fábrica da Índia que não passou na inspeção da Anvisa e também não terminou de fazer os testes clínicos de fase 3. 


Para a aprovação da Sputnik V, Vecina esclareceu que faltaram alguns dados, exigidos pela Anvisa. "Falta vacina no Brasil. A ideia da Sputnik V é uma boa ideia, e é semelhante à duas vacinas que nós já aprovamos: a Astrazeneca e a Janssen. A tecnologia é a mesma, é uma vacina de vetor viral. Agora, para aprovar essas vacinas, foram exigidos um conjunto de dados, que foi entregue. Para aprovar a vacina da Sputnik está sendo exigido um conjunto de dados, que não foi entregue", justificou o ex-diretor da Anvisa. 


O médico também informou que, entre o Instituto Gamaleya, que produz a vacina, e o Consórcio do Nordeste, que está tentando realizar a compra da vacina, existe um operador comercial, que é o fundo russo de participações. Esse órgão não é uma entidade científica, mas comercial. "É coordenado por um russo difícil de conversar. Ele está sempre certo, e não quer atender às necessidades de um 'paizeco' como o Brasil", ironizou Vecina.


"Enquanto ele não atender essas necessidades, a vacina dele não será aprovada. Seria bom se ele oferecesse os dados que ele diz que tem, para comprovar que a vacina dele é segura", completou.


Apesar de a Sputnik V ter sido aprovada em 62 países, Vecina alega que nenhum deles têm vigilância sanitária comparada à brasileira. Ainda há, segundo o médico, a questão polêmica sobre se existe ou não a presença de vírus capazes de se replicar na vacina russa. Os responsáveis pela produção da Sputnik V negam essa informação, mas foi este um dos principais motivos de a instituição de saúde brasileira negar a importação, pois há a possibilidade de trazer riscos à saúde.


"O que eu acho que o fundo russo deveria fazer é entregar os dados brutos da pesquisa de fase 3 deles, que é o que a Anvisa tá pedindo. E sentar para discutir sobre essa história do replicante. Eles podem estar certos, mas tem que aceitar discutir e comprovar algumas coisas sobre a questão do replicante", afirmou Vecine.


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