Nordeste pode ter segunda onda de Covid-19 nos próximos meses; "há um risco real", diz Miguel Nicolelis
Nordeste pode ter segunda onda de Covid-19 nos próximos meses; "há um risco real", diz Miguel Nicolelis
O Comitê Científico do Nordeste publicou um alerta nesta sexta-feira (23/10) sobre a possível chegada de uma segunda onda de contaminação da Covid-19, gerada pelo relaxamento nos cuidados, campanhas eleitorais e vinda de turistas europeus para o verão. Os dados da pesquisa mostram qua a Bahia tem apresentado uma queda lenta no número de casos, mas a taxa de letalidade, ou seja, número de vítimas que morrem, aumentou.
Com a vinda de turistas europeus fugindo do inverno para as praias nordestinas, a doença pode voltar a crescer. “Há um risco real de que nos próximos meses tenhamos um fluxo de portadores do Sar-cov-2, até de cepas diferentes das que aqui prevalecem”, alerta Miguel Nicolelis, neurocientista e um dos coordenadores do Comitê Científico do Nordeste. O cientista recomenda a implantação, em todos os aeroportos, de estandes sanitários com equipes de saúde munidas de folhetos informativos, equipamentos de aferição de temperatura e kits de testagem rápida de passageiros provenientes do exterior.
O neurocirugião orienta, ainda, a adoção de quarentena de 14 dias para os turistas que não apresentarem atestados de que estão saudáveis. “Já passamos por essa situação de ver os acontecimentos primeiro na Europa e depois se reproduzindo aqui. Temos uma oportunidade, desta vez, de não deixar isso se repetir”, reforça Nicolelis.
De acordo com o comitê, a pandemia já atingiu seu pico em todos os estados do Nordeste, porém não é hora de diminuir os cuidados. “Isso fez com que, em vários locais, as medidas de isolamento social fossem diminuídas além do necessário, resultando em alta probabilidade de uma possível segunda onda”, constata Sergio Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e, também coordenador do Comitê Científico do Nordeste.
Outro ponto destacado pelos cientistas é a campanha eleitoral, que tem gerado aglomerações em todos os municípios e pode contribuir para o aumento da reprodução do vírus. A diminuição dos números, por outro lado, pode estar relacionada a uma equipe médica mais acostumada com o tratamento da doença.
BAHIA
De acordo com o documento, a situação atual da pandemia Covid-19 na Bahia segue uma tendência de queda, ainda que lenta, do número diário de infectados e de óbitos. Os picos foram alcançados em meados de agosto, mas os cientistas ressaltam que "é possível identificar claramente uma interrupção na tendência de queda durante a segunda metade do mês de setembro".
Para o Comitê, essa interrupção pode ter sido efeito do fim de semana prolongado no início do mês, quando as pessoas tomam menos preucauções. Por isso, os pesquisadores pedem atenção aos baianos para o próximo feriado prolongado, comemorado entre a próxima sexta-feira (31/10), véspera do feriado de dia do comerciário, e a segunda-feira seguinte (2/11), Dia de Finados. Essa pausa na queda durou 15 dias e foi mais evidente na capital do que no interior, segundo os dados, o que pode estar relacionado às atividades eleitorais nas cidades menores.
"Por se tratar de um ano em que haverá eleições para vereadores e prefeitos, corre-se o risco do uso indevido da informação de redução de casos de infectados e óbitos por parte de políticos inescrupulosos que querem se eleger ou reeleger, desprezando as recomendações científicas e da Organização Mundial de Saúde que preconizam critérios de segurança sanitária para o retorno das atividades 'normais sob controle', pois a Covid-19 continua fazendo vítimas, embora em menor número", ressalta o documento.
O grupo comandado por Nicolelis alerta que a taxa de letalidade na Bahia sofreu um aumento no período de 8%, entre 16 de agosto e a última sexta (16/10), quando aconteceu o contrário na media brasileira, que caiu 8%. "Estes indicativos serão importantes para a tomada de decisões nos próximos meses, em função das festas de fim de ano", explica o relatório.
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