Saúde

Covid-19: vermífugo nitazoxanida, defendido pelo governo, reduz febre e tosse, mas não evita quadros graves

Covid-19: vermífugo nitazoxanida, defendido pelo governo, reduz febre e tosse, mas não evita quadros graves

Por Da Redação

Covid-19: vermífugo nitazoxanida, defendido pelo governo, reduz febre e tosse, mas não evita quadros gravesilustrativa/Pexels

O vermífugo nitazoxanida, que foi defendido pelo chefe do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, tem eficácia para o coronavírus apenas depois de sete dias de uso, diminuindo a tosse e a febre. Um novo estudo mostra que os sintomas da doença não mudaram nos primeiros cinco dias e a droga não foi capaz de evitar que os infectados evoluissem para quadros mais graves.


As conclusões estão em artigo que traz os dados completos do estudo financiado pelo MCTI, segundo o Estadão publicou nesta sexta-feira (23/10). Os resultados parciais haviam sido apresentados em uma cerimônia no Palácio do Planalto na última segunda-feira (19/10), mas causou polêmica o fato de o governo ter usado um gráfico tirado de um banco de imagens, sem base nos números da pesquisa, para ilustrar a eficácia do medicamento. 


No vídeo de apresentação da conclusão do estudo, um narrador afirma que “o resultado comprovou de forma científica a eficácia do medicamento na redução da carga viral na fase precoce da doença", mas não cita números, além de não condizer com a realidade. Mais tarde, o ministro Marcos Pontes justificou que o estudo completo não havia sido apresentado, pois os dados precisavam ser inéditos para a publicação em periódico científico.


ESTUDO


Os números completos foram publicados nesta sexta-feira (23/10), na plataforma medRxiv. Dos 392 pacientes que participaram do estudo, 194 tomaram nitazoxanida por cinco dias e 198 receberam placebo. Foram incluídos, na pesquisa, somente doentes com quadros leves, ainda nos cinco primeiros dias de sintomas. 


No quinto dia de acompanhamento, após o início do tratamento, não houve diferença do quadro clínico entre os grupos medicado e placebo, que era o que esperava o governo. Assim, os voluntários continuaram tomando o remédio até completar sete dias, quando 78% no grupo que tomou o nitazoxanida e 57% no grupo placebo relataram melhora. O índice de pacientes que apresentaram exame PCR negativo após sete dias também foi maior entre o grupo medicado: 29,9% contra 18,2%. 


Porém, entre os voluntários, dez pessoas foram internadas por agravamento do quadro: como foram cinco de cada grupo do estudo, o resultado é que não houve diferença entre tomar ou não o remédio. Ainda segundo o Estadão, no grupo que tomou a nitazoxanida houve, inclusive, dois pacientes que tiveram de ser transferidos para a UTI.


RESSALVAS


Os pesquisadores ressaltam que alguns fatores da amostra de pacientes podem ter feito diferença no estudo, já que a maioria era jovem e sem comorbidades. Eles defendem que novas pesquisas sejam feitas para avaliar o efeito do medicamento em casos mais graves da doença.


Os cientistas também alertaram que mediram somente três sintomas: febre, tosse seca e fadiga. Não há informações sobre outros. Além disso, não foi feito acompanhamento mais longo dos participantes do estudo, por exemplo, por 28 dias. Dizem, ainda, que nem todos os pacientes foram monitorados durante os sete dias: somente foram contatados aqueles que, no quinto dia de tratamento, ainda apresentavam algum dos três sintomas monitorados.


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