Sargento que levava cocaína em avião da FAB transportou drogas pelo menos outras sete vezes
Foram quatro voos domésticos (São Paulo e Recife) e três internacionais com escalas na Espanha, onde a droga era entregue
O sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) preso na Espanha, em junho de 2019, por levar um carregamento de cocaína em um avião de apoio da comitiva do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), fez outras viagens com drogas. Manoel Silva Rodrigues teria traficado cocaína em pelo menos sete viagens oficiais antes de ser detido, segundo a investigação da Polícia Federal (PF) divulgada nesta segunda-feira (31/5) pelo UOL.
O sargento foi preso em flagrante, após denúncia anônima, com posse de 39 quilos de cocaína avaliados em R$ 6,4 milhões, minutos após desembarcar no aeroporto de Sevilha, na Espanha. Era uma missão oficial do presidente Jair Bolsonaro e comitiva, rumo ao Japão, para reuniões com a cúpula do G20.
Em todas as sete viagens oficiais em que a investigação aponta que houve tráfico, o sargento trocou mensagens cifradas com a mulher Wilkelane Nonato Rodrigues que indicam sucesso na empreitada criminosa. Foram quatro voos domésticos (São Paulo e Recife) e três internacionais com escalas na Espanha, onde a droga era entregue.
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VIAGEM
As investigações apontam que a primeira viagem nacional suspeita do sargento aconteceu em 18 de março de 2019, momento em que o sargento e a companheira enfrentavam crise financeira. Era uma missão de Brasília para São Paulo. A PF apurou que, no retorno a Brasília, a situação do casal começou a melhorar, e Manoel Rodrigues pagou suas dívidas.
O oficial fazia viagens oficiais rumo ao exterior desde o ano de 2015. Em uma delas, durante missão oficial diplomática ao Azerbaijão, com escala na Espanha, em abril de 2019, Manoel Rodrigues enviou a foto de um braço levantado com um terço enrolado no pulso a esposa, o que significaria, segundo a polícia, que ele conseguiu transportar a cocaína. Durante a escala em Madri, a tripulação chamou Manoel para sair e passear pela cidade, mas ele recusou o convite alegando que iria encontrar uma prima - nesse momento, ele teria saído para entregar a droga.
Uma semana após retornar do Azerbaijão, Manoel comprou uma moto Honda NC-750-X por R$ 32.900. O casal também gastou R$ 26 mil na reforma do apartamento de Taguatinga, no Distrito Federal, e na compra de móveis. As autoridades policiais calculam que Manoel recebeu ao menos R$ 100 mil pelo transporte da droga.
GRUPO
Segundo o Ministério Público Militar (MPM), Manoel não agia sozinho. Ao menos outros quatro militares da Aeronáutica são investigados por utilizar as aeronaves da FAB para o tráfico de drogas em missões oficiais nacionais e internacionais.
O rastreamento das ligações telefônicas feitas e recebidas por Manoel e o levantamento das ERBs (Estações de Rádio Base) das operadoras de telefonia celular ajudaram os agentes a descobrir como era o esquema de tráfico de drogas da quadrilha de militares da FAB. A análise apontou que Manoel, sempre às vésperas das viagens oficiais, se hospedava no motel Park Way, onde locava um quarto no qual a PF acredita que ele recebia a substância.
Em 23 de junho de 2019, véspera da missão presidencial para o Japão, o sargento mais uma vez alugou um apartamento no motel Park Way. Ele ficou no quarto 40 das 13h04 até 14h33. Em seguida rumou para a Base Aérea. Dois dias depois foi preso em Sevilha.
Manoel e outros integrantes da quadrilha tinham telefones celulares especiais apenas para falar em um grupo restrito. Um deles era o sargento Jorge Luiz da Cruz Silva, que seria responsável pelo recrutamento de militares com atuação no GTE para atuar como "mulas" no tráfico internacional de drogas, via aviões da FAB, e o tenente-coronel Augusto César Piovesan, responsável por escalar os militares da Aeronáutica nas viagens oficiais.
Piovesan, Jorge, outros dois sargentos identificados e Wilkelane tiveram a prisão decretada no dia 18 de março deste ano e também os bens bloqueados pela Justiça Militar de Brasília.
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