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ÚLTIMO ATO: Ator de teatro assina documento suicida com firma reconhecida em cartório para proteger ajudante; Veja vídeo

ÚLTIMO ATO: Ator de teatro assina documento suicida com firma reconhecida em cartório para proteger ajudante; Veja vídeo

Por André Uzêda

ÚLTIMO ATO: Ator de teatro assina documento suicida com firma reconhecida em cartório para proteger ajudante; Veja vídeo

Aos 61 anos, o ator Romário Machado assinou um documento que indica a real possibilidade de dar cabo à própria vida. “Preciso sair de cena”, diz, antes de completar: “Você já viu algum cadáver desonesto? Mau caráter? Todo cadáver é gente boa”.


O suicídio manifesto tem até firma reconhecida pelo Tabelionato de Notas do 13º ofício, localizado no bairro do Garcia, em Salvador. Romário pagou R$ 6,00 pelo carimbo oficial. Ele conta que, durante o atendimento, a recepcionista do cartório sequer leu o texto da sua mensagem autodestrutiva.


“Ela apenas reconheceu a firma. A pressa do dia-a-dia impediu que percebesse minha angústia. Mas mesmo que ela falasse alguma coisa eu já tinha até a resposta pronta. ‘Isso não lhe diz respeito. É uma coisa minha’. Ora, veja…”, diz, sem deixar de revelar certa casmurrice.


O documento é sucinto. São apenas 14 linhas. Se não é deliberadamente uma carta de despedida, ou mesmo um pedido de salvação, protegido por uma garrafa de vidro, e lançado em alto mar, cumpre  a função redentora de um álibi.


Deficiente físico, Romário precisou amputar a perna esquerda e se locomove com ajuda de uma prótese de madeira. O ator sofre de uma síndrome corporal conhecida como pós-poliomielite.


A pólio surgiu ainda na infância, em consonância com outros traumas. Com mais cruel vigor, os sintomas da doença retornaram depois que completou 40 anos. Ele perdeu movimentos musculares gradativamente e precisa da ajuda diária de um senhor, que mora com ele, no bairro de Brotas, para exercer funções simples do cotidiano — como descer uma escada, cozinhar, ir ao banheiro etc.


A justa preocupação em não incriminar este senhor, caso venha a concluir seu plano niilista, o motivou a registrar suas reais pretensões aniquiladoras no documento oficial.


“Não acho justo me matar e deixar que a culpa recaia em alguém. Não é justo com esta pessoa. A frustração é apenas minha. Tenho que arcar com ela sozinha”, pontua.


romário

Ator Romário durante atuação no teatro


Romário é licenciado em artes cênicas pela Universidade Católica e bacharel em direção teatral pela Ufba. É também funcionário público aposentado do Tribunal de Justiça da Bahia. A despeito das conquistas profissionais, carrega o trauma de ter sido rejeitado pelo pai quando ainda era moleque.


“Ele dizia ‘pra que comprar roupa para esse aleijado se ele não serve para nada?’ Sofri muito. Só minha mãe me amava. Muito do meu fracasso hoje como artistas se deve ao desprezo da minha família”, revela, sem concessões.


Já ator, Romário participou de três filmes (Cascalho, Tieta do Agreste e Eu Me Lembro). Tem no currículo ainda peças de teatro e até uma bem sucedida campanha como garoto propaganda da TeleBahia Celular, nos anos 1990.


O agravamento da doença o obrigou a se afastar dos palcos. A depressão veio a reboque. Os psicólogos deram o diagnóstico da debilidade emocional, mas Romário refuta com veemência esta hipótese. “Não sou depressivo. Sou infeliz”.


O ator confessa que os desejos suicidas que o perseguem serão concretizados a partir do momento que ficar preso a uma cadeira de rodas — algo que, por conta da síndrome que o acomete, inevitavelmente, irá acontecer.


A arte é seu escapismo. Uma forma de vencer as intermitências da morte.


Romário é ator. No entanto, nega que tenha forjado toda esta história em nome dos últimos (e redentores) aplausos. O roteiro, sem dúvidas, é digno de estrepitosa nota. Mas não aplaca sua angústia.


Inegável admitir que, como dramaturgo, ele criou o clímax perfeito para sair de cena.


Os grandes artistas, porém, são aqueles que ainda conseguem uma reviravolta no roteiro sem, nunca, decepcionar a plateia.


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Veja vídeo completo exibido no QVP, editado por Daniel Teixeira com imagens de André Uzêda e Alexandre Lyrio.



 


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