QUATRO SEMANAS: A história da jovem que deu à luz 30 dias após descobrir gestação
‘QUATRO SEMANAS’: A história da jovem que deu à luz 30 dias após descobrir gestação
Entre faculdade, família, amigos e festas, a estudante Iana Feitosa, então com 22 anos, levava uma vida sem grandes acontecimentos até meados de 2016. Em maio do referido ano, a mãe da jovem percebeu que a filha estava engordando e que uma ‘saliência’ na barriga poderia indicar um mioma (tumor benigno no útero), lembrando a situação de uma conhecida.
Iana marcou, então, uma consulta à ginecologista, mas pela proximidade das férias e festas juninas, só conseguiu um horário para o dia 28 de junho, depois do São João. Despreocupada, viajou, curtiu, dançou e até ingeriu bebida alcoólica. Voltou para casa, em Salvador, um dia antes do atendimento.
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“Era uma terça-feira. Lembro-me como hoje. Cheguei ao consultório, falei sobre o aumento da barriga e a suspeita de um mioma”, contou Iana. A médica pediu, então, que ela se deitasse, para examiná-la melhor:
– “Você está grávida”.
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Parece até mentira, mas histórias como a de Iana são mais comuns do que se imagina. Muitas mulheres não percebem os sintomas, ou, não ganham peso, e descobrem que serão mães em pouquíssimo tempo – às vezes até durante o trabalho de parto.
O assunto é tão curioso que já rendeu até um programa de TV. De 2009 a 2011, o canal fechado Discovery Home & Health exibiu a atração “Eu não sabia que estava grávida”. A cada episódio, depoimentos de mulheres que só descobriram a chegada do bebê na hora do nascimento.
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Em 2005, a jogadora de basquete Silvia Gustavo, que já integrou a seleção brasileira do esporte e foi à Olimpíada de Atenas, na Grécia, em 2004, queixou-se de dor no estômago e tontura após um jogo. Ao ser examinada, a surpresa: esperava um filho. Luiz Fernando nasceu prematuro, de sete meses, três dias depois.
Riscos
Apesar da falta de dados específicos, nacionais ou mundiais, de quantas mulheres já encararam uma gestação ‘silenciosa’, não é difícil achar relatos de médicos que recebem pacientes sem saber que estão em estágio avançado da gravidez, como contou a ginecologista e obstetra Dra. Márcia Novaes.
Para ela, talvez falte às mulheres em situações semelhantes uma melhor percepção do próprio corpo, pois este sofre alterações inevitáveis, mesmo que a gestante não engorde o ‘convencional’, a exemplo da mudança no tamanho e coloração da mama.
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Devido ao desconhecimento e a consequente falta dos cuidados necessários ao período gestacional, há riscos como infecção, prematuridade e aborto. Segundo explicou Dra. Márcia, tais problemas podem ser causados principalmente pelo uso de drogas (remédios, álcool, etc) e atividades físicas inadequadas.
“O pré-natal deve ser feito desde o primeiro trimestre da gestação e a alimentação também precisa ser avaliada, para que o feto absorva os nutrientes que auxiliem no seu desenvolvimento”, explicou a médica.
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A descoberta de Iana
Voltando à personagem do início da matéria, Iana se assustou ao ouvir estava grávida e pediu para a profissional ‘parar de brincar’, mas esta disse que não se tratava de uma brincadeira. Além disso, ela seria mãe em pouco tempo, pois o bebê já estava ‘encaixado’. A estudante não acreditou e afirmou não ser possível, já que não sentia movimentos e fez coisas desaconselháveis ao período, como “dormir de bruços e comer comida japonesa”. Até endoscopia e colonoscopia ela fez, procedimentos médicos relativamente invasivos, por volta do sexto mês, sem qualquer alerta.
Primeira semana
Em entrevista ao Aratu Online, a jovem contou, também, que alguns sangramentos a fizeram pensar que estava menstruando. Por isso, nunca desconfiou da gestação. O peso não mudou muito. Engordou apenas 6Kg, mais perceptíveis após a descoberta.
Segundo Dra. Márcia Novaes, esses sangramentos podem ter sido provenientes de atividades físicas inadequadas na fase gestacional ou, até, da continuação do uso de remédios contraceptivos. “Algumas mulheres ‘negam’ os sintomas e continuam tomando a pílula anticoncepcional, o que pode fazer o endométrio [mucosa que recobre o útero internamente] descamar e provocar o sangue”, explicou a médica.
Um dia depois da consulta reveladora e tendo contado a notícia apenas a uma amiga, Iana, ainda incrédula, começou a fazer os exames. A maior preocupação, a princípio, era o fato da não sensação de movimento na barriga. Isso poderia estar relacionado à quantidade de líquido amniótico, o psicológico da mãe e até mesmo a presença de gêmeos, mas as suspeitas foram descartadas com os exames.
No primeiro, um ecocardiograma, ouviu os batimentos cardíacos do bebê e passou mal. “A pressão caiu, suei frio e vomitei. Parecia que ia desmaiar”, revelou. Logo em seguida, relaxou e continuou a bateria de exames. Estava com 35 semanas de gestação – mais de oito meses – e tudo estava ‘incrivelmente perfeito’. Ao ser perguntada se queria saber o sexo da criança, não hesitou. “Claro!”. Era uma menina.
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Contudo, a ficha demorou a cair e a estudante ainda passou uma semana sem falar a ninguém. “Tive medo. Pensei que não iam acreditar em mim. Como ia contar à minha família, amigos e ao pai da criança, que nem sequer tinha mais contato, sobre a gravidez e (principalmente) que já estava com oito meses?”, confessou.
Segunda semana
Passou um dia na casa de uma amiga, contou ao irmão e pediu para que ele a ajudasse com os pais. “Cheguei em casa e minha mãe estava de cabeça baixa. Entrei no meu quarto e comecei a chorar. Ela veio conversar comigo e disse que não era isso o que esperava para mim naquele momento, mas que não havia mais o que fazer, afinal, já ia nascer”, contou Iana.
O pai da criança, que não será identificado nesta matéria, soube no mesmo dia em que a jovem. Perguntou se ela tinha certeza e, quando esta disse que ‘sim’, deu todo o apoio necessário, apesar de não estarem mais juntos. Eles tiveram um relacionamento de aproximadamente cinco meses e já estavam afastados há quase quatro, na época.
Iana confessou que apesar de sempre ter tomado anticoncepcional, o então casal não usou preservativo. “Aconteceu de eu esquecer o remédio e duplicá-lo no dia seguinte, mas, pelos sangramentos, acreditando ser menstruação, não imaginei que estivesse grávida em nenhum momento”.
Terceira semana
Com o (breve) tempo, a notícia ficou menos ‘pesada’. Os amigos a felicitavam, ao passo em que se assustavam com o avanço da gravidez. A barriga ‘saiu, ficou redonda’, e ela já percebia os movimentos da filha. A família organizou um chá de fraldas, às pressas; o pai comprou berço e roupinhas cor-de-rosa. Até um ensaio fotográfico na praia foi planejado, mas nunca aconteceu.
Quarta semana
Então, às 23h47 do dia 28 de julho de 2016, exatos 30 dias depois de descobrir que seria mãe, Iana deu à luz Lara. De parto normal, o ‘bebê surpresa’, como foi chamada a menina por amigos e parentes, nasceu grande e saudável, com 3,5 Kg e 50 cm. Todo o trabalho de parto, desde a primeira contração, durou menos de quatro horas, surpreendendo até a equipe médica. “Todo o medo foi embora quando peguei minha filha nos braços”, relatou.
Tudo aconteceu de forma tão inesperada que as roupinhas de Lara nem haviam secado. Iana foi para o Hopital Português, na Barra, em Salvador, com o irmão e três amigas, já que a avó da criança tentava, ‘agoniada’, ajeitar a casa para a chegada repentina da neta.
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Devido à falta de um pré-natal e alguns cuidados na gravidez, Lara adquiriu uma infecção por bactéria no momento do parto e ficou 12 dias internada, mas sem gravidade. Isso porque o medicamento para recém-nascidos é intravenoso. Portanto, deve ser aplicado em uma unidade de saúde durante o tratamento. Iana, que mal sabia carregar a filha, nas primeiras horas, fez ‘vigília’ no hospital e respirou aliviada ao sair de lá, no início de agosto.
Atualmente
Hoje, com 23 anos, algumas coisas mudaram para a jovem. Trocou a faculdade de odontologia – a qual trancou por um ano – para a de enfermagem e está à procura de um emprego. “Gosto da área e vejo um futuro melhor nela. Tenho uma nova prioridade e preciso pensar no melhor para nós duas”, disse.
Lara, que completou um ano no último mês de julho, é uma menina tranquila e muito esperta, segundo a mãe. “Ela quase não chora e dorme a noite toda. Aprendeu a andar com oito meses e já fala algumas palavras, como ‘dá’, ‘mamãe’ e ‘risada'”, revelou Iana, orgulhosa.
“O engraçado é que nunca planejei ser mãe, ainda mais tão nova. Entre as minhas amigas, eu era a única que não tinha esse objetivo. Mas, hoje, confesso que é o amor da minha vida e não me vejo sem a minha pequena”, refletiu.
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*Publicado originalmente às 6h (5/10)