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“Agi por impulso. Não pensei no crime que estava cometendo”, diz jovem que abortou aos 17

“Agi por impulso. Não pensei no crime que estava cometendo”, diz jovem que abortou aos 17

Por Cris Almeida

“Agi por impulso. Não pensei no crime que estava cometendo”, diz jovem que abortou aos 17Reprodução

Uma discussão, no fim do mês passado, agitou opiniões dentro e fora da sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Para um caso específico, o órgão decidiu que aborto nos três primeiros meses de gestação não é crime. Até a surpreendente abertura de precedente do STF, a discussão sobre o aborto estava encerrada: o impedimento da gestação é considerado crime previsto nos artigos 124 a 128 do Código Penal Brasileiro. Pune tanto quem pratica — com ou sem consentimento da gestante — como quem consente.


Antes mesmo da possibilidade aberta pela suprema corte, Bárbara*, teve que fazer uma das escolhas mais difíceis de sua vida. Há cerca de cinco anos, teve uma relação desprotegida com um homem que não era seu namorado e engravidou com apenas 17 anos.


Ela conta que na época não tinha qualquer estrutura para receber uma criança em sua casa, já que estava no ensino médio e sem qualquer perspectiva de trabalho. ?Eu surtei, só conseguia chorar e me perguntar o que eu fiz com meu futuro. Estava estudando em uma escola boa. A primeira pessoa entre minha família a estar próxima de cursar a faculdade. Só conseguia pensar que joguei todas as oportunidades fora?, lembra.


Bárbara conta que a sugestão de fazer o procedimento abortivo veio de quem seria o pai de seu filho. ?Ele disse para mim que tinha uma amiga enfermeira e que havia conversado com ela sobre a possibilidade de abortar, foi quando ela indicou essa clínica para a gente. Eu aceitei na hora, queria fazer o mais rápido possível?. Hoje com 22 anos, a jovem analisa sua atitude com outra visão. ?Eu agi completamente por impulso, em nenhum momento pensei no que estava fazendo ou no crime que estava cometendo?, completa. Ao Aratu Online a jovem contou sua história na íntegra. Ouça:


 


Sem ponto final


Posições contra e a favor da interrupção voluntária da gravidez provoca debates acalorados e muitas perguntas. A melhor solução é manter o aborto como um crime ou, ao permitir a legalização, impede que mulheres não se submetam a procedimentos caseiros e clínicas ilegais? Quando, de fato, começa a vida?


O monge Luiz Antônio, do mosteiro de São Bento, localizado na Avenida Sete de Setembro, em Salvador, acredita que o tema deve manter um ?diálogo saudável? para que metade dessas perguntas sejam respondidas, e que ?ninguém precisa ser a favor do aborto para entender toda a problemática que ele está inserido?. ?Sua criminalização só faz aumentar o lucro dos carniceiros que são beneficiados a partir do desespero de muitas meninas. Se uma delas me procura em busca de ajuda, meu conselho é que não aborte. Mas caso o faça, não serei eu a condená-la?, completa.


Sobre o principal motivo da aversão civil ao aborto, a professora de Direito e Bioética da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Monalisa Ávila, acredita que o lado religioso da população ainda é o principal fator. ?Existe ainda um modelo de sacralidade da vida que nos sustenta e é difícil de desconstruir, já que as religiões se unem contra o aborto?. E conclui: ?Sou a favor da descriminalização do aborto com certeza. Costumo dizer que, se os homens pudessem conceber, a interrupção já seria legalizada?.


O debate ainda é muito dividido entre os grupos sociais, alguns acreditam que o início da vida é a concepção e outros acreditam que só é considerado vida quando há o desenvolvimento de atividades cerebrais complexas, já quase na metade da gestação. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), mais de 25 mil baianas se submeteram ao aborto clandestino e tiveram complicações de saúde em 2016.


*Nome fictício para proteger a fonte ouvida nesta reportagem


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