Defensoria Pública entra com ação para impedir obra estatal em área de quilombo em Lauro de Freitas
Defensoria Pública entra com ação para impedir obra estatal em área de quilombo em Lauro de Freitas
A Defensoria Pública da União (DPU-BA) ajuizou ação civil pública para impedir a intervenção estatal em área remascente de quilombo, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). O órgão quer que sejam paralisadas as obras de pavimentação e de implantação de alça de acesso à Via Metropolitana, que de acordo com o projeto, irá passar dentro do Quilombo Quingoma.
A comunidade que vive no local foi surpreendida com o aviso sobre a intervenção do governo estadual em abril deste ano. Segundo a DPU, os moradores souberam da proposta quando uma empresa de engenharia, contratada pelo Estado, começou a aplicar formulários para fins de desapropriação. O decreto foi publicado no dia 23 de abril de 2020.
A construção é uma complementação do acesso ao Hospital Metropolitano, localizado em área próxima ao quilombo. O documento do governo estadual sinalizou que a área de terra, medindo mais de 25 mil metros quadrados, seria de utilidade pública.
Conforme o defensor regional de direitos humanos, Vladimir Correia, a Comunidade de Quingoma foi certificada pela Fundação Cultural Palmares (FCP) como remanescente de quilombo em 2013. A associação representativa da comunidade também deu início ao processo administrativo de regularização fundiária junto ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), porém, como o processo ainda não foi concluído, o local passou a ser objeto de interesse dos governos estadual e municipal.
Correia explica que, apesar de o Estado reconhecer que a área se trata de território quilombola, o projeto de intervenção prossegue, mesmo que implique no desmembramento da comunidade centenária que se instala ali. Ele destaca que só resta definir a extensão do território do quilombo, através da publicação do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID). “Embora haja certa dificuldade de identificar o uso produtivo da área total reclamada, essa lógica não se aplica ao local onde estão instaladas as casas dos moradores ou a nascente que abastece uma comunidade sem saneamento básico”, afirma o defensor.
ATAQUES
Segundo representantes do quilombo, no dia 30 de junho, um grupo de pessoas arremessou pedras em cima da casa da liderança quilombola, Dona Ana, e da filha dela, e tentou arrombar as portas dos fundos. Os ataques ocorreram alguns dias após a realização de uma manifestação organizada pelos moradores do quilombo.
O Movimento Aquilombar, filiado à CSP Conlutas e ao Movimento Nacional Quilombo Raça & Classe, criticou o projeto de invervenção. "A pavimentação da rodovia não foi pensada para trazer benefícios à comunidade. Tanto é assim que está sendo executada sem a realização de audiências públicas, sem diálogo com a comunidade, se quer a Associação Quilombola fosse comunicada do inicio da obra em plena pandemia da Covid-19", diz trecho de comunicado emitido pelo grupo.
Acompanhe todas as notícias sobre o novo coronavírus.
Acompanhe nossas transmissões ao vivo e conteúdos exclusivos no www.aratuon.com.br/aovivo. Nos mande uma mensagem pelo WhatsApp: (71) 99986-0003.