Em depoimento, ex-ministro Sérgio Moro afirma que Bolsonaro "queria" a PF do Rio sob sua influência
Em depoimento, ex-ministro Sérgio Moro afirma que Bolsonaro "queria" a PF do Rio sob sua influência
Em depoimento prestado no último sábado (2/5), o ex-ministro Sérgio Moro afirmou que recebeu uma mensagem de celular do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), onde ele afirmava que "queria" a Polícia Federal (PF) do Rio de Janeiro sob sua influência. Em sua fala, Moro esclareceu que Bolsonaro não explicou quais eram os seus interesses específicos, e que o presidente fazia pressão para troca de cargos no órgão desde agosto do ano passado. As mudanças incluíam a do superintendente do Rio, Carlos Henrique, e a demissão do então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que culminou com o rompimento do ex-ministro da Justiça com o presidente.
Moro alegou que, em março de 2020, enquanto estava em missão oficial com Valeixo, recebeu mensagem de Bolsonaro, pedindo novamente a substituição do superintendente da PF no Rio. "Você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro", dizia a mensagem.
O depoimento do ex-ministro foi enviado pela Polícia Federal ao gabinete do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (4/5), e anexado ao processo. A fala de Moro reitera o discurso feito por ele, ao deixar o cargo de ministro da Justiça, onde acusou o presidente de querer interferir politicamente na PF.
O ex-ministro entregou seu telefone celular ao órgão, no entanto, fontes da perícia da Polícia Federal apontam que o diálogo entre Moro e Bolsonaro era antigo, e ainda não foi localizado no aparelho.
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TROCA DE COMANDO
A troca de comando da PF do Rio foi solicitada por Bolsonaro ainda em agosto de 2019. Segundo Moro, o pedido foi feito em uma reunião no Palácio do Planalto. Na época, o cargo era ocupado por Ricardo Saadi.
No depoimento, o ex-ministro afirmou que Saadi já queria deixar o cargo, e que a troca acabou sendo feita. Na época, Bolsonaro queria que Alexandre Saraiva ocupasse a vaga, mas Moro barrou a sugestão, por acreditar que a escolha deveria ser feita pela própria PF. Henrique Oliveira foi nomeado para o cargo.
Já em janeiro deste ano, Bolsonaro sinalizou a vontade de demitir Valeixo e colocar o delegado Alexandre Ramagem no comando da PF. Em depoimento, Moro relatou que chegou à conclusão de que não poderia trocar o diretor-geral sem um motivo que justificasse a atitude, e que a ligação que Ramagem tinha com a família do presidente prejudicaria a credibilidade da Polícia Federal e do próprio governo.
Moro chegou a ser questionado pelos investigadores se via crime nas atitudes do presidente. Ele, no entanto, se limitou a dizer que não caberia a ele avaliar isso e apontou "desvio de finalidade" na conduta de Bolsonaro sobre a PF.
O ex-ministrou também reiterou que, apesar do decreto de demissão do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, ter sido publicado em seu nome e com sua assinatura, ele não assinou o documento.
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