PM não comparece à audiência na OAB sobre possíveis abusos no Nordeste de Amaralina
PM não comparece à audiência na OAB sobre possíveis abusos no Nordeste de Amaralina
A Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA) recebeu moradores do Nordeste de Amaralina e adjacências durante audiência pública realizada no auditório do órgão, nesta terça-feira (7/8). O objetivo do encontro foi discutir as denúncias de que a Polícia Militar (PM) estaria praticando ações abusivas no bairro, que chegou a registrar 70 mortes no período de um mês. Apesar do convite enviado ao comandante geral da PM, nenhum representante da polícia participou da audiência.
LEIA MAIS: Traficante é morto após troca de tiros com a PM no Nordeste de Amaralina
Quem conduziu a sessão foi o presidente da comissão de Direitos Humanos da OAB-BA, Jerônimo Mesquita. “A ideia é iniciar uma articulação com os atores envolvidos no caso”, disse ao Aratu Online, pouco antes da reunião. O primeiro a falar foi o líder comunitário Marcelo Almeida, morador do bairro há mais de 40 anos.
“Nosso direito está sendo prejudicado por falta de ordenança do Estado. Ninguém pode ter celular no bairro do Nordeste, porque já sabe que não vai durar. A gente não aguenta mais tomar porrada”, desabafou. A polícia entra lá, tira foto dos meninos negros do bairro e já sabe quem será o próximo. Os dois últimos governadores prometeram direitos humanos e só mandaram o braço direito da PM para matar. Eles entram na comunidade de brucutu, então não tenho nem como ver a cara dos policiais que praticam genocídio de madrugada”, explicou Marcelo.
LEIA MAIS: Dezessete policiais militares são indiciados no caso Davi Fiúza
A sessão chegou a ficar agitada quando vários moradores decidiram se manifestar e pedir uma parte da reunião para relatar ações de agentes. “Na semana passada, minha irmã foi fazer uma cirurgia no Hospital Irmã Dulce e pediu para que meu filho ficasse na casa dela, junto com meu sobrinho, cuidando do meu cunhado cadeirante. De noite os policiais chegaram, quebraram o cadeado da casa dela e mataram os dois”, contou Silvana Santos, moradora do bairro.
Os moradores revelaram ainda como os agentes costumam atuar no bairro. “Eles chegam com os rostos escondidos e com a placa da viatura ocultada, encontram os meninos na rua, exigem que eles façam o sinal de alguma facção e voltam, outro dia, para matar. Assim eles não são questionados por ninguém”, disse Vera Lúcia, moradora do bairro Santa Cruz. Quem também se manifestou, e chegou a sentar na mesa, foi Márcia Nascimento, que classificou as ações da PM como “perverso” e doloroso”.
LEIA MAIS: Quer mais qualidade de vida? Aratu lança projeto com dicas; assista
“O racismo estrutura todos os nossos direitos, porque nossos irmãos, filhos e maridos não são assassinados pelo fato de usarem drogas, não… É porque eles são negros”, conta Márcia. “Temos brancos que usam e ganham dinheiro em cima das drogas, mas não são mortos pela polícia. O governador precisa rever a estrutura da polícia dele, porque a PM do Nordeste é a mesma da Graça e lá eles pedem licença, mas com a gente eles usam palavras de baixo calão”, concluiu a moradora.
Durante todo o evento foi lembrado a falta do secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, e do próprio governador, Rui Costa (PT). A audiência chegou ao fim com duas principais perspectivas: a criação de um grupo de discussão, que tem o objetivo de estreitar os laços entre a OAB, o Ministério Público e integrantes da comunidade do Nordeste de Amaralina e, a principal delas, a tentativa de marcar uma audiência com o governador Rui Costa e o secretário Maurício Barbosa.
Estavam presentes também os vereadores Luiz Carlos Suíca (PT), solicitado pela própria comunidade, e Marta Rodrigues (PT). Além de representantes do Ministério Público e da Defensoria Pública.
Acompanhe nossas transmissões ao vivo e conteúdos exclusivos no www.aratuonline.com.br/aovivo e no facebook.com/aratuonline.