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Primeiro transplante de coração completa 50 anos, mas ainda é escasso na Bahia

Primeiro transplante de coração completa 50 anos, mas ainda é escasso na Bahia

Por Da Redação

Primeiro transplante de coração completa 50 anos, mas ainda é escasso na BahiaMarco Correia/Labfoto

Em dezembro de 1967 era realizado o primeiro transplante de coração no mundo. A cirurgia foi feita pelo cirurgião Christiaan Barnard, e quem recebeu o órgão foi Louis Washkansky, de 53 anos, no Hospital Groote Schuur, na Cidade do Cabo, África do Sul. Ele recebeu o coração de Denise Darvall, uma jovem de 25 anos, que morreu após um acidente de carro.


Para realizar a cirurgia, que durou cinco horas, foi preciso uma equipe de 20 cirurgiões. Na época, o feito era impensável, já que ainda imperava a crença de que o coração era o lugar onde estava ?a alma humana?. Barnard chegou a declarar que o transplante de coração não era mais que um transplante de rim ou fígado.


Apesar de a cirurgia ter sido bem sucedida, Louis ficou mais vulnerável tomando a medicação para combater a rejeição do corpo ao órgão, e morreu 18 dias depois, em decorrência de uma infecção. O coração transplantado que batia dentro dele, no entanto, funcionava perfeitamente até o momento de sua morte.


Será que, no decorrer de cinco décadas, algo mudou?


50 anos depois, a medicina avançou positivamente, no entanto, a Bahia ainda está muito longe de atingir as metas ideais: apenas 9 transplantes de coração foram realizados no estado até 2017.


Dr. Christiaan Barnard e Louis Waskansky. Foto: reprodução


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TRANSPLANTES NO BRASIL


No Brasil, o primeiro transplante de coração foi realizado em 26 de maio de 1968, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). A cirurgia foi liderada pelo cirurgião Euryclides de Jesus Zerbini, e foi pioneira na América Latina.


Quem recebeu o primeiro coração transplantado no Brasil foi o lavrador João Ferreira da Cunha, 23 anos, natural de Mato Grosso. O jovem tinha uma doença avançada do miocárdio e insuficiência cardíaca, e sua morte já era dada como certa. O lavrador recebeu o órgão doado de Luis Ferreira de Barros, que também morreu em um acidente.


João, porém, teve o mesmo fim que Louis, e morreu 28 dias depois, em decorrência de uma rejeição imunológica; naquela época, essa era a complicação mais temida após a cirurgia.


Apesar disso, o primeiro transplante feito no Brasil foi uma grande conquista para a medicina do país, e atualmente, o país possui o maior sistema público de transplantes do mundo ? 95% das cirurgias são realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados do Ministério da Saúde (2015).


João Ferreira da Cunha. Foto: reprodução


 


AVANÇOS


A Bahia começou a realizar transplantes de coração apenas nos anos 90. Segundo informações da Secretaria de Comunicação do Estado da Bahia (Sesab) passadas ao Aratu Online, de lá para cá foram feitas nove cirurgias em todo o estado. Os primeiros ocorreram no Hospital Português. Nos anos 2008 e 2009, o transplante já passou a ser realizado no Hospital Santa Izabel.


Em novembro de 2015, o  Hospital Ana Nery, que faz parte da Sesab, realizou o seu primeiro transplante, totalizando os nove procedimentos.  A unidade de saúde também está habilitada para fazer as avaliações e acompanhamento dos pacientes que precisam realizar o transplante, bem como daqueles que já realizaram e precisam fazer o acompanhamento médico.


Apesar dos avanços, atualmente a Bahia não realiza mais transplantes de coração; pacientes que precisam fazer a cirurgia são encaminhados para outros estados. O próprio Hospital Ana Nery já está autorizado pelo Ministério da Saúde para realizar o transplante cardíaco, mas até o momento, ainda não há confirmação de quando esse procedimento passará a ser liberado.


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50 ANOS DEPOIS


Para o Dr. Luiz Ritt, cardiologista do Hospital Cardio Pulmonar da Bahia e Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (Regional Bahia), o maior avanço com relação ao transplante de coração foram as medicações imunossupressores, que servem exatamente para evitar que o corpo rejeite o órgão, como acontecia nas primeiras cirurgias. “Só com elas é possível que um órgão não seja rejeitado pelo receptor, mesmo com todos testes de compatibilidade realizados”, conta.


Além dos medicamentos, o surgimento do chamado “coração artificial” também possibilitou um verdadeiro salto na medicina. “Eles possibilitaram que pacientes pudessem aguardar por mais tempo na fila até o surgimento de um órgão, e mais recentemente até viver com um coração artificial totalmente implantado”, diz o doutor. Provavelmente, Christiaan Barnard em 1967 jamais acharia que algo assim fosse possível.


Ritz revela ainda que já fez parte da equipe de médicos em uma das cirurgias de transplante de coração realizada no Hospital Ana Nery. O profissional relata que a execução envolve alguns riscos.


“A cirurgia de transplante cardíaco envolve uma logística complexa, imagine que entre o tempo do coração ser retirado do doador é ser transplantado e estar batendo no peito do receptor deve tudo ser feito em um tempo de até 6 horas. Os riscos não são só da própria cirurgia, mas também pela necessidade entre uma etapa e outra de ocorrer de forma sincronizada,  pois qualquer falha nesta sincronia pode colocar em risco a vida do receptor”, completa.


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