SESSÃO NOSTALGIA: Em dia de homenagem à Sétima Arte, um apelo ao retorno dos cines de rua
SESSÃO NOSTALGIA: Em dia de homenagem à Sétima Arte, um apelo ao retorno dos cines de rua
Hoje é dia de homenagear o cinema nacional! A data ? 5 de novembro ? é lembrada pelo aniversário do passamento de Humberto Mauro, um dos cineastas pioneiros do Brasil.
Nascido em 1897, ele se tornou o maior diretor brasileiro dos primeiros tempos do nosso cinema. Foi homenageado no Festival de Cannes, em 1983, seu último ano de vida, e serviu de inspiração para uma geração que incluiu Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.
Dos idos de sua existência, ficaram sua obra e o legado para nossa cultura, que foram importantes para a evolução da Sétima Arte no país. Porém, uma realidade do seu tempo, muitos dos que conheceram lamentam ter sido extirpada pelo processo de desenvolvimento: o velho cinema de rua.
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Quem tem, pelo menos, 40 anos de idade, sabe como aqueles espaços foram, por muito tempo, não só um local de lazer, mas um ambiente extremamente popular, onde o acesso à arte acontecia sem qualquer tipo de exclusão, tanto pelos preços dos ingressos, quanto por suas localizações.
Em Salvador, existiram dezenas de cinemas de rua. Espalhados pela cidade, a maioria funcionava no centro histórico. No entanto, moradores de alguns bairros de diferentes pontos da capital baiana, também, tiveram o privilégio de serem vizinhos desses templos da arte.
Ao longo das últimas décadas, infelizmente, eles foram desaparecendo, dando lugar às modernas salas de exibição que começaram a se instalar nos requintados shopping centers. A mudança é uma realidade inevitável que contrariou muita gente.
Entre os soteropolitanos, um desses inconformados tem uma relação muito estreita com o cinema de rua. O projecionista Hamilton Espinheira, 87 anos, aposentou-se em 1990, depois de ter passado toda a vida profissional, ajudando a proporcionar diversão e cultura para os frequentadores desses antigos espaços.
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A virada de página para os pontos de exibição de filmes deu um tom nostálgico a sua vida. ?Vejo com muita tristeza o fim dos cinemas de rua. Eu trabalhei quase em todos de Salvador e foi uma época muito boa?, lembrou.
Filho de um eletricista e operador de projeção que trabalhou no Cine Jandaia, na Baixa dos Sapateiros, Espinheira revelou que aos oito anos de idade começou a acompanhar o pai em seu ofício e se encantou pela profissão que veio a exercer, quando completou a maioridade.
Além do Jandaia, os cines Capri, Excelsior, Bristol, Amparo, Brasil, São Jorge e Bahia conheceram o trabalho de Hamilton. Em sua vasta experiência ele relata que acompanhou o lançamento de obras que faziam lotar os cinemas da cidade.
?Naquela época, o gigante da Baixa dos Sapateiros era o Jandaia, onde podia assistir grandes produções?, disse, citando: Quo Vadis, Joana D?Arc, As Minas do Rei Salomão e Mogambo. Na mesma linha, segundo ele, depois veio o Cine Tupy que exibiu As Chuvas de Ranchipur, Os Dez Mandamentos e Lawrence da Arábia, além de outros grandes filmes.
Apesar da época glamourosa, Hamilton relatou que, no fim dos anos 80, o Jandaia trocou de proprietário e começou a investir em produções de artes marciais. ?Se tornou uma verdadeira academia?, ironizou. ?Depois vieram os filmes pornôs e a coisa ficou pior?, completou.
Com o passar dos tempos, as inviabilidades da manutenção dos espaços fizeram com que, praticamente, todos fechassem e alguns passaram a acolher instituições religiosas, entre outras atividades. O Tupy, porém, tenta resistir à nova era, atendendo a um público que consome produções pornográficas.
ESPECIALISTA
Em entrevista ao Aratu Online, o crítico e pesquisador de cinema, André Dib, esclareceu que o desaparecimento dos cines de rua é uma realidade mundial. Segundo ele, o Brasil, em particular, na década de 70, possuía seis mil salas de exibição e hoje deve ter pouco mais de três mil, concentradas nos shoppings das capitais e grandes cidades.
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“Antigamente, toda cidade tinha, no mínimo, um ou dois cinemas. Hoje eles são aves raras”, definiu dessa forma, o pesquisador. Para Dib, uma combinação de vários fatores levou ao fim dos cinemas.
?Começa o primeiro declínio nos anos 70 com a popularização da TV. Depois, nos anos 80, vieram o videocassete com as videolocadoras e as pessoas passaram a assistir filmes em casa, por ser mais cômodo?, explicou, acrescentando que, mesmo assim, os cinemas ainda se mantiveram algum tempo por conta das estreias, que aconteciam sempre naqueles espaços.
De acordo com o especialista, outro motivo se relaciona ao novo desenho urbano das grandes cidades, onde ocorreu uma forte migração das ruas para os shoppings, principalmente, pelo crescimento desenfreado da violência. “Como é que se pode imaginar, hoje em dia, três cinemas de rua em uma praça abandonada?”, questionou Dib.
NOVO PERFIL DE PÚBLICO
As mudanças não se resumem, apenas, aos locais de exibição com seus requintes e modernidades tecnológicas. O valor dos ingresso é bem mais elevado e a pipoca custa o ?olho da cara?. Neste contexto, o pesquisador salienta que o perfil do público também sofre alteração.
Apesar disso, André Dib acredita que a nova realidade não colabora para um empobrecimento cultural. ?Eu não vejo dessa forma tão esquemática, acho que a cultura de um modo geral empobreceu, não tanto por conta dessa mudança. Existe algo maior, no qual os cinemas de rua foram prejudicados?, ressaltou.
Na observação de Dib, essa mesma cultura que proporcionou mudanças, hoje permite a revalorização desses espaços, a ponto de alguns deles retornarem à atividade. O pesquisador destacou, neste cenário, uma iniciativa tomada pelo governo pernambucano. Ele fez referência ao cinema de rua ?São Luís?, em Recife, que é mantido pelo poder público. ?A meia-entrada custa cinco reais e no local passa filmes do mundo inteiro. É um exemplo que poderia ser seguido em todo o país?, sugeriu.
ESPAÇO ITAÚ GLUBER ROCHA
Em Salvador, uma opção se aproxima dessa ideia, mas, ao contrário do ‘São Luís’, o empreendimento é da iniciativa privada e pratica preços um pouco mais elevados nas bilheterias. O espaço Itaú Glauber Rocha é um local aconchegante que disponibiliza quatro salas de exibição, na Praça Castro Alves, centro da cidade.
O acesso à região é favorecido por algumas linhas de ônibus para quem necessita do transporte público e há, também, no entorno, um estacionamento para veículos com tarifas de R$ 20 em um período de 3 horas. O local é onde funcionava, desde as primeiras décadas do século XX, o Cine Guarani, rebatizado, posteriormente, para Glauber Rocha, após a morte do cineasta baiano.
O espaço tem, no total, 626 lugares, distribuídos nos quatro ambientes: sala 1 – 197 lugares (4 cadeirantes + 2 obesos); sala 2 – 175 lugares (2 cadeirantes + 1 obesos); sala 3 – 109 (2 cadeirantes); e sala 4 – 146 lugares (2 cadeirantes + 1 obesos).
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*Publicada originalmente às 8h