OUTUBRO ROSA: Mulheres lutam para conseguir atendimento em hospital público de Salvador
OUTUBRO ROSA: Mulheres lutam para conseguir atendimento em hospital público de Salvador
Em outubro de 2016 ? mês de conscientização e combate ao câncer de mama ? o Hospital Aristides Maltez (HAM), especializado em tratamento oncológico, registrou quase 150 casos da doença. Deste número, 17 mulheres foram a óbito.
Não há dados oficiais sobre o tempo médio entre o diagnóstico e o acesso ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Bahia, porém, representantes de entidades médicas e de associações de apoio a pacientes informam que esse período pode durar de oito meses a até um ano. Muito tempo para quem sofre de ‘CA’ — como o câncer é comumente chamado entre os pacientes.
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Para conseguir um atendimento no HAM, o paciente precisa ser encaminhado pelo médico responsável pelo diagnóstico da doença, acordar cedo, enfrentar uma fila — que começa a se formar do lado de fora do hospital por volta das 1h da manhã –, aguardar até às 6h30 ? início do horário de atendimento — conseguir fazer o cartão da instituição, passar por um processo de triagem, para só depois conseguir iniciar o tratamento.
Foi por este sistema que a doméstica Virgínia Cruz, de 54 anos, precisou passar após descobrir o câncer de mama. Entre o diagnóstico e a cirurgia, dois anos se passaram entre idas e vindas para a capital baiana, já que ela é natural de Gandu, a 297 quilômetros de Salvador. ?Só para diagnosticar foram 11 meses. Achei que quando chegasse aqui seria muito mais rápido, mas eu não tenho conseguido sequer marcar um horário, estou vindo como extra?, conta.
De acordo com uma das recepcionistas da Ala de Oncologia, por causa da demanda, o hospital precisou abrir um novo sistema que funcionasse para além das 60 fichas disponibilizadas por dia. O ?extra? é uma lista com os nomes das pessoas que podem ser atendidas depois do último paciente com hora marcada, ou seja, sem um turno definido, obrigando o doente a ficar no hospital a espera do atendimento.
Veja vídeo:
Jadiara Maria, de 39 anos, moradora da cidade de Cruz das Almas, precisou ir e vir durante três meses, até a intervenção cirúrgica, para a retirada dos cinco nódulos do seio esquerdo. ?Para marcar a quimioterapia também preciso chegar cedo, porque as fichas são limitadas?. Ela conta que, em algumas semanas, as sessões precisaram ser interrompidas, por causa da manutenção dos aparelhos radioterápicos e da carência de medicamentos.
?É difícil, ficar longe da família num momento como esse faz com que tudo seja maior. Estou em Salvador há quase dois anos, lutando contra ?CA??. Jadiara é uma das mulheres abrigadas na sede do Núcleo Assistencial para Pessoas com Câncer (Naspec), no Engenho Velho de Brotas.
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos na Bahia (Sindimed), Francisco Magalhães, a demora no atendimento tem relação direta com a falta de estrutura dos Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) do interior do estado. Tal condição, segundo ele, é responsável por superlotar os hospitais da capital baiana.
Em 2016, foram 393 municípios atendidos pelo HAM, apenas um a menos que em 2015. Em todo o ano passado, foram quase 1500 novos casos de câncer de mama atendidos pela instituição.
O ideal é que o processo, entre triagem e cirurgia, dure no máximo 60 dias, de acordo com a ‘lei dos 60 dias’ (12.732/12) – que determina que pacientes com câncer iniciem o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico – que entrou em vigor há três anos no Brasil.
Em Salvador, quatro unidades de saúde oferecem tratamento oncológico pelo SUS – os hospitais Santa Izabel, Santo Antônio, São Rafael e Aristides Maltez. Mensalmente são 4.500 vagas para quimioterapia e radioterapia.
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*Publicada originalmente às 11h44