CYCLONIZADO: Com linguagem do gueto, página aposta em humor e faz sucesso na Internet

03/08/2017 13h09Atualizado em: 03/08/2017 13h13

Reprodução / Facebook / Humor Cyclonizados

Aos 20 anos, Cristian Bell está apreensivo. Morador do bairro da Liberdade, terra de personalidades que vão de Igor Kannário a Rui Costa, o jovem humorista pela primeira vez tem encarado uma plateia diferente da sua habitual, com um público mais elitizado e exigente. “Tenho medo de não agradar”, confessa.

Único dos idealizadores do ‘Humor Cyclonizados’ que se mantém ativo na criação de conteúdo para a página nascida em 2013, no Facebook, Cristian viu seu trabalho ganhar uma proporção assustadora, conquistando fãs para além dos muros das favelas, que eram seu público inicial. A página já tem 224 mil curtidas na rede social e suas postagens chegam facilmente na casa das milhões de visualizações.

“Eu já era conhecido pela Liberdade, mas agora tem até gente de outras cidades que acompanha meu trabalho. Expandiu demais. Nas apresentações, vejo que quem me assiste já tem um perfil diferente, veste roupas diferentes”, conta, em entrevista ao Aratu Online. Além da página, Cristian investe em apresentações de stand up comedy em teatros e estabelecimentos como a lanchonete Bob’s e a boate Zero, no Rio Vermelho.

Com o intuito de fazer humor com referências da periferia de Salvador, utilizando referências musicais, cacoetes linguísticos e casos do cotidiano, Cristian criou o que chama de “gueto formalizado”. Fazendo graça com termos como “adquira a visão” (ao invés do conhecido “pega a visão”, gíria periférica mais ou menos equivalente à “se ligue”), o dono da página tem tentado agradar centro e periferia nas publicações da sua página.

Um dos sucessos recentes da criação foi o vídeo-paródia, extraído do filme alemão de 2004 “A Queda: As Últimas Horas de Hitler”. Nele, o Führer, incrédulo com a não participação do pagodeiro Igor Kannário no Salvador Fest, se revolta com sua equipe de oficiais. “Quem vai fazer as foveiras groovar?”, lamenta o líder nazista. Publicado no dia 25 de julho, o material já obteve mais de 9,4 mil likes e 6,4 mil compartilhamentos.

Confira o vídeo:

Misto de descomprometimento e seriedade, o vídeo faz parte de uma discreta militância de Cristian: colocar o Príncipe do Gueto de volta ao popular palco do festival. “Quero ser o responsável por colocar Kannário na grade do evento”, admite.

O humorista não disfarça a decepção pelo fato do Salvador Fest, que costumava reunir nomes do pagodão, se render aos encantos de artistas mais “gourmetizados”, casos de Marília Mendonça e Léo Santana. “Ele [o vereador e pagodeiro Igor Kannário] já me pagou muito refrigerante lá na Liberdade. É o mínimo que eu poderia fazer”, confessa.

A página produz memes fazendo graça com elementos da cultura baiana e periférica. Imagem: Reprodução / Facebook / Humor Cyclonizados

As boas relações de Cristian Bell com o “pássaro” (“Salvador é o único lugar no qual temos um príncipe e um prefeito ao mesmo tempo”, brinca) e com outras personalidades como Bruno Magnata, da banda La Fúria, possibilitam com que a página crie um conteúdo ainda mais diverso e dinâmico, tocando o coração do público da periferia.

Além disso, temas que afetam as vidas dos moradores das favelas de Salvador, como assaltos, ônibus lotados e os “perrengues do dia a dia” aparecem constantemente nas publicações do ‘Humor Cyclonizados’. “Se eu falar de Paripe para meu novo público, vão achar que eu estou falando de uma pizzaria”, graceja Cristian.

Com o sucesso da página, que possibilita que seu criador se mantenha sem a necessidade de um emprego formal, Cristian Bell quer viver de criatividade. Para isso, planeja cursar Publicidade e Propaganda, além de já trabalhar com teatro e comédia. Sua carreira está sendo agenciada pela mesma empresa que a de Frases de Mainha, página que tem um perfil semelhante e hoje é referência no entretenimento baiano. “Quero aproveitar o máximo possível desse momento”, afirma.

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*Publicada originalmente às 7h