DIA DA MARMOTA: Um Passat 78 em dia chuvoso. Quando uma foto mostra que estamos parados no tempo
DIA DA MARMOTA: Um Passat 78 em dia chuvoso. Quando uma foto mostra que estamos parados no tempo
Esse flagrante feito pelo nosso repórter Diogo Henrique na Sete Portas é emblemático. A foto tirada na manhã chuvosa desta terça-feira (4/4) rompe o contrato do clique com o tempo e nos transporta a qualquer lugar no passado, sem precisão histórica.
Primeiro porque o carro que aparece na imagem é um Volkswagen Passat, automóvel que fez enorme sucesso nos anos 1980 por sua potência (só tinha versão de motor 1.8 e 2.0) e conforto. Em um exercício de livre especulação seria possível dizer que corresponderia, hoje, a um veículo na faixa dos seus R$ 48 mil, R$ 50 mil.
Este, porém, é apenas um ingrediente da viagem temporal. Nosso DeLorean definitivo é a chuva implacável registrada no pictograma, provocando um alagamento em uma via de enorme acesso na capital baiana. A chuva é a mesma desde sempre na cidade e suas marcas continuam provocando traumas e tragédias recorrentes. Em levantamento feito pelo Aratu Online, tendo como base reportagens da época e alguns registros oficiais, nos últimos 45 anos em Salvador, 397 pessoas morreram soterradas vítimas das chuvas e do descaso público.
As décadas de 1970 e 1990 foram as mais melancólicas na cidade, com médias, respectivamente, de 14 e 15 mortes por ano. Desde 1971 é uma média de 9 mortes por soterramento por ano.
Registros fotográficos em cidades, em via de regra, capturam o espírito do tempo. Seja numa publicidade datada de determinado produto, na forma de vestir dos habitantes, no estado de conservação dos prédios. Em geral, alguma pista revela o período retratado nem que seja por aproximação (“deve ter sido tirada entre 2010 a 2017”, arriscaria algum perito amador, caso houvesse rastros visíveis). A imagem de Diogo Henrique, sem intenção exata de cumprir tal expediente, subverte esta lógica. Ou talvez não, a cumpra exatamente como deva ser. De repente, nosso espírito do tempo é o tempo parado. Estamos congelados na cronologia, inertes, diante da chuva e no aguardo de novas tragédias.
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