OPINIÃO FAVORÁVEL AO IMPEACHMENT: “Democracia às avessas”, aponta a jornalista Priscila Chammas
OPINIÃO FAVORÁVEL AO IMPEACHMENT: “Democracia às avessas”, aponta a jornalista Priscila Chammas
Aos 18 anos, quando tirei meu título de eleitor, fiz um pacto comigo mesma: só votaria em candidatas mulheres, afinal a gente nunca tinha tido uma presidente mulher e, na minha cabeça oca adolescente, ver representantes do meu gênero na política era a coisa mais importante que poderia haver.
O ano era 2002, e a candidata mulher, ninguém menos que Roseana Sarney (sim, podem rir). Constrangimento? Nenhum! Ela era mulher, e isso era o suficiente pra mim. As pessoas próximas, assustadas, tentaram entender, mas eu simplesmente não tinha explicação plausível e não sentia o menor peso na consciência por isso.
Para minha sorte, o destino acabou evitando essa mancha em minha biografia. Minha então candidata foi pega com a boca na botija às vésperas da eleição e, sem ter como se defender, acabou desistindo da candidatura. Contrariada por ter que desfazer o pacto já na minha estreia nas urnas, acabei votando em Ciro Gomes (em quem também não votaria hoje).
Hoje, 14 anos depois, fico extremamente triste por ter visto meu sonho adolescente se realizar de uma forma tão torta. Uma mulher chegou ao poder, mas tinha que ser justamente a mulher que quebrou o país?
Pior que isso, tenho visto em pessoas adultas o mesmo comportamento da Priscila de 18 anos. Vejo uma defesa apaixonada do governo Dilma apenas por ela ser mulher e do PT. Como se isso a abonasse de todos os seus malfeitos, que não foram poucos. Do mesmo jeito que eu desconsiderei o fato de Roseana ser corrupta (se não ficou claro, foi isso mesmo: só não votei porque ela desistiu), tem um monte de gente procurando justificativas pros maiores absurdos cometidos pela senhora Rousseff Sapiens e seus asseclas.
O que se vê é uma completa inversão de valores. De repente, democracia virou golpe e golpe virou democracia. Não ser chapa branca virou ser mídia golpista. Protestar em dia útil virou coisa de trabalhador. Manifestações sem conflito com a polícia viraram fascismo. Liberalismo (= liberdade) também virou fascismo (= totalitarismo). Ter uma babá aos domingos e pagar a ela todos os direitos, crime inafiançável. E, na impossibilidade de negar os malfeitos, condena-se o juiz e diz-se que o adversário também rouba.
Também de repente, concluiu-se que a gente quer impeachment porque não aguenta ser governado por uma mulher. E o machismo virou mais um chavão do pessoal de vermelho, entrando nesse dicionário louco, no qual as palavras passam a ter o significado que lhes é mais conveniente. Não, definitivamente o PT não está defendendo a democracia.
Desde quando comprar deputados com dinheiro e cargos públicos é defender a democracia? Nomear alguém ministro às pressas, só para ele não ser preso, é democracia? Pagar manifestantes e arcar com todos os seus custos usando dinheiro público, espalhar mentiras pra obter o apoio dos mais ignorantes, comprar pesquisas eleitorais, subornar delatores para que não contem o que sabem, interferir no STF pra obter decisões favoráveis, sugar as estatais até quebrá-las, gastar indiscriminadamente em ano eleitoral e depois mandar a conta pro povo pagar, governar por decretos… até um assassinato inexplicado já entrou na história. Que bela democracia o PT implantou no Brasil! Certamente, se tudo isso fosse obra de Eduardo Cunha, não haveria toda essa benevolência.
Parafraseando Janaína Paschoal (sim, eu já escolhi minha louca preferida), sobram crimes. E crime sem impeachment é golpe (vi essa frase por aí e gostei). Antes que apareça aqui um desses juristas de internet, eu sei que no processo da Câmara, por conveniência, estão usando apenas as pedaladas fiscais. Só um nome mais bonitinho para fraude, estupro nas contas públicas. O PT agiu como se fosse dono de todos os órgãos e bancos públicos, os usando irresponsavelmente como parte de seu projeto de poder. Quando a conta chegou, o partidão não teve dúvidas e repassou pra gente, provocando a crise na qual estamos imersos. Essa crise tem mãe, e ela se chama Dilma Rousseff.
O governo Dilma já acabou, o país já está desgovernado há mais de um ano (talvez cinco). Falta apenas a formalização, que eu espero que aconteça em breve. Espero também que o vice que eles elegeram quebre o galho num governo de transição e que, para 2018, apareça algum candidato votável.
Priscila Chammas ? jornalista, nordestina e, só pra contrariar, liberal