DEZ CONTO: Sucesso em bairros populares, ‘roupas de R$ 10’ dominam mercado e conquistam setor durante crise
DEZ CONTO: Sucesso em bairros populares, ‘roupas de R$ 10’ dominam mercado e conquistam setor durante crise
O que é os bairros mais populares de Salvador têm hoje em comum?
Se você respondeu a filial de alguma igreja evangélica também acertou. Mas esta longe de ser a única semelhança. As já famosas lojas de roupas a baixo custo, também conhecidas como ?as de R$10?, vêm se multiplicando em vários logradouros da cidade.
O movimento começou de forma tímida. Inicialmente, apenas as lojas do centro aderiam à venda de confecções a baixo custo, mas esse tipo de comércio cresceu nos bairros mais populares.
?Você não é da concorrência, não, né??, perguntou a jovem vendedora Jucilene Rocha à reportagem do Aratu Online ao ser questionada sobre como funciona a loja.
Segundo Jucilene, ela já recebeu a visita de muitas pessoas que vão sondar o seu comércio para depois ?ir atrás dos fornecedores e abrir uma lojinha de bairro?.
?Só depois que cheguei aqui, já abriram duas lojas de preços populares?, revelou à reportagem.
Entretanto, apesar do crescimento deste tipo de comércio, a vendedora acredita que a concorrência não tem atrapalhado as vendas.
?Apesar do preço baixo, procuramos vender produtos bons. A concorrência só vai nos afetar quando venderem produtos de qualidade superior pelo nosso preço?, relatou a comerciante
Ainda segundo ela, ?a crise que assola o país? é um dos principais motivos para esta expansão. ?Não tem condições de vender roupa cara com essa situação que o país está. Apesar do negócio não ser muito lucrativo o segredo deste tipo de mercado é investir na quantidade de peças?, contou.
?Se for contar pelo que ganhamos vendendo uma única roupa, posso afirmar que lucramos muito pouco. Só que o cliente que vem em uma loja como essa não busca uma peça só. Ele leva 3, 4 roupas e lucramos em cima desta quantidade?, explicou Jucilene.
PÚBLICO
De acordo com a operadora de caixa Marli Gomes, que trabalha em outra loja de R$10 próxima, o público que frequenta esse tipo de estabelecimento está muito variado e o segredo é apostar na variedade e, também, na qualidade.
?As peças mais vendidas são as infantis, seguidas das roupas para academia e as blusas femininas. As roupas masculinas também vendem, mas numa quantidade menor?, explicou.
Para a atendente, o diferencial é apostar em produtos diversos. ?Vendemos muito sandálias, e temos também produtos de cama e mesa, tudo por R$10?, apontou.
Operadora de telemarketing, Érica Palma foi às compras na manhã desta terça-feira (5/4) e lamentou não encontrar roupas para gestante.
?A situação está precária [risos]. Geralmente venho a essas lojas para comprar roupas para mim, mas, infelizmente, eles não têm roupas para grávidas. Fora isso, eles têm confecções para todos os públicos e eu gosto muito por isso?, pontuou.
CRISE
A ?crise? foi, também, a responsável por mudar o modelo da loja que Silmara Araújo gerencia. Segundo ela, é preciso se aliar a qualidade com o preço acessível, mas sem comprometer o funcionamento do estabelecimento.
?A crise que está aflorando no país fez com que variássemos um pouco nos preços. Buscamos também investir na qualidade e isso fez com que fosse necessário aumentar o valor de algumas das mercadorias?, explicou a gerente.
?Senti um pouco a queda nas vendas depois que resolvemos mudar o preço, mas em contrapartida passamos a oferecer alguns produtos que as outras lojas não têm. Por exemplo, vendemos muito os calçados, que saem a R$35?, contou.
Segundo Silmara, apesar de um público variado, o número de mulheres que frequentam a loja é superior ao dos homens, o que levou a gerente a investir neste público. Cerca de 70% da loja onde ela trabalha é voltada ao público feminino, que encontra peças do vestuário a partir de R$5.
?Elas buscam muito os vestidos e as saias longas, enquanto eles vêm mais atrás das camisas sociais. Na questão do preço, a faixa mais procurada é a de R$15 a R$25 e o gasto médio por pessoa é de R$45. Com esse valor já é possível se vestir legal?, garantiu.
ECONOMIA
Para o economista Edísio Freire, este ?fenômeno? não é exclusivo na cidade de Salvador, nem dos grandes centros urbanos em geral, e tem na crise o fator de impulso.
?Vejo o crescimento deste [segmento] como uma variante de outro segmento que surgiu há alguns anos, o das lojas de R$ 1,99 que seguem a mesma linha?, apontou Freire.
Para ele, o crescimento das lojas de baixo custo deve-se a uma ?oportunidade de mercado que essas empresas estão encontrando neste período de instabilidade econômica?.
?Estamos um período onde a taxa de desemprego está alta e as pessoas estão consumindo menos, isso leva ao empreendedor a, forçosamente, se reinventar. Tenho visto o crescimento dessas lojas não apenas em Salvador, mas em muitas cidades do interior também é possível encontrá-las?, pontuou.
?De certo modo é até um lado positivo desta crise que estamos enfrentando, porque estimula o lado criativo de quem trabalha no comércio. Vejo isso como um bom nicho de mercado para esse novo momento que o pais vive?, concluiu.