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Nova requalificação do Mercado do Peixe gera polêmica e abre discussão sobre o tema

Nova requalificação do Mercado do Peixe gera polêmica e abre discussão sobre o tema

Por Diorgenes Xavier

Nova requalificação do Mercado do Peixe gera polêmica e abre discussão sobre o temaDivulgação

A nova requalificação do Mercado do Peixe, no Rio Vermelho, tem gerado polêmica entre comerciantes, moradores e frequentadores do bairro mais boêmio de Salvador. Se por um lado parte das pessoas tem demonstrado apoio às intervenções, orçadas em R$ 3 milhões e 200 mil, existem também os que olham com desconfiança para a nova empreitada da prefeitura, acusada de padronizar e elitizar alguns dos principais pontos turísticos da capital. O projeto, que tem previsão de término para o primeiro semestre de 2016, deve substituir os atuais 40 boxes por 90 quiosques.


Trabalhando no local há 30 anos, o permissionário José Batista dos Santos Júnior, o Zezinho, se diz favorável à reforma. Segundo ele, a falta de estrutura e segurança têm afastado os clientes. ?Eu, sinceramente, posso te dizer que esse é o pior momento do mercado desde que entrei ali?, desabafa.


Crítico da baixa qualidade do serviço oferecido por parte de seus colegas, ele diz que a situação só tem piorado nos últimos anos e parte da culpa é dos próprios comerciantes. ?Quem está atrás do balcão conseguiu destruir o Mercado do Peixe. Muitos sequer deveriam estar naquele lugar. Eles não estão a favor porque não conseguem acompanhar o crescimento do mercado e têm uma visão atrasada do que é o comércio?, aponta.


Opinião semelhante é compartilhada por Eunice Almeida, a Fafá, que há 22 anos atua no local. Para ela, a intervenção tem o seu lado negativo, pois traz insegurança para os comerciantes que não tiveram a sua situação definida, mas é necessária. ?Eu estou triste, porque vou sair do meu ponto e a prefeitura não está me dando nada, mas o Mercado está precisando?, explica.


Para Fafá, a falta de estrutura tem contribuído para a queda do público no Mercado do Peixe. De acordo com ela, os banheiros vivem sujos e não há a presença constante de guardas municipais, que poderiam garantir o bem-estar não só do público, mas dos trabalhadores.


Funcionários reclamam das mudanças


Ponto de vista diferente é defendido por funcionários do espaço, que passou por reforma em 2010. Os trabalhadores reclamam que a saída do local pode prejudicar o emprego e renda das 150 pessoas que atuam no Mercado. Preocupados com a situação, eles realizaram um protesto na última segunda-feira (20). Além disso, em um vídeo publicado na internet, parte dos funcionários protesta contra as obras, que obrigarão os funcionários a mudarem para regiões menos centrais da cidade. Veja o vídeo:



Glauber de Jesus, que há 18 anos trabalha no Mercado, reclama da indefinição sobre um novo ponto É uma situação complicada, pois não sabemos onde vamos trabalhar. Estamos esperando a secretária (Rosemma Maluf) definir para onde seremos relocados?, explica. Os proprietários tiveram a sua licença cassada e têm até o dia 02 de agosto para deixar o espaço.


Em entrevista concedida à equipe de reportagem da TV Aratu, a Secretária Municipal da Ordem Pública, Rosemma Maluf, disse que a situação será resolvida nos próximos dias. ?Os 17 permissionários que hoje ocupam o mercado poderão ser relocados para outros mercados municipais, a exemplo do mercado popular, mercado de Periperi, Cajazeira, Itapuã. Nós vamos disponibilizar as vagas e eles terão a opção de escolher o local?, explica.


Boêmios e moradores do Rio Vermelho insatisfeitos com a mudança


As mudanças são vistas com maus olhos também pelos boêmios, que veem no Rio Vermelho o mais importante refúgio da noite de Salvador. Blogueiro do Aratu Online, o jornalista Pablo Reis publicou em seu perfil no Facebook um texto no qual critica o novo modelo que se pretende implementar no Mercado do Peixe:


Para quem não conhece Salvador, (O Mercado do Peixe) sempre foi a nau dos insensatos, o reduto do fim de festa dos boêmios, a nave louca das madrugadas insones na capital da Bahia. Nunca recebeu muita atenção do poder público, além do básico. Às vezes, este básico se confundia com sujeira e insegurança.


Mesmo assim, o Mercado do Peixe e sua aura foram mantidos durante décadas pelo esforço – meio amador, meio estrambelhado – dos comerciantes e pelo fascínio – meio intelectual, meio de esquerda – dos frequentadores?.


Parte dos moradores do bairro também reclama do projeto de requalificação do Rio Vermelho e pede que o projeto seja aberto e debatido com os moradores. Confira na reportagem:



A direção da Associação de Moradores do Rio Vermelho (AMARV) divulgou nota onde informa que, desde 2012, oito reuniões oficiais foram realizadas com representantes de entidades ligadas aos moradores, além de encontros extraoficiais. ?Nas últimas reuniões a Prefeitura apresentou o projeto inicial e abriu espaço para que as entidades apresentassem sugestões de mudanças. O Bairro escola e a AMARV formaram comissões com Arquitetos e engenheiros residentes no bairro, resultando em um conjunto de sugestões que foram entregues ao secretário Guilherme Bellintani?.


Diante do impasse e da disputa quase ideológica entre os que defendem o processo de modernização da capital e os que veem nesta mudança uma espécie de limpeza sociocultural, um novo Mercado do Peixe deve ressurgir no coração do Rio Vermelho nos primeiros meses de 2016. Neste embate, a expectativa é de que o local, símbolo das noites soteropolitanas, continue a ser parte definitiva da história da cidade.


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