Argentinos radicados em Salvador sofrem com ameaça de seleção ficar fora da Copa
Argentinos radicados em Salvador sofrem com ameaça de seleção ficar fora da Copa
“O tango é um pensamento triste que se pode dançar”. A frase clássica do autor argentino Enrique Santos Discépolo Deluchi define o ritmo que está cravado nos corações e cabeças dos argentinos. Tão ou mais emocional é a relação que os nossos vizinhos têm com o futebol. A devoção a Diego Armando Maradona e sua biografia singular, humana, e marcada por incríveis reviravoltas, é mais um exemplo disso. Melancolia e tristeza caminham juntas com os nossos vizinhos.
A trajetória da seleção de Messi nestas eliminatórias para a Copa do Mundo é, nesse sentido, quase uma retratação irônica que o destino reservou para os sentimentos difusos que envolvem as almas azuis e brancas. Ocupando atualmente a sexta colocação na tabela de classificação, a Argentina corre o risco de ficar fora da Copa do Mundo da Rússia, em 2018. As chances são de 57%, dizem os matemáticos. O confronto decisivo será nesta terça-feira (9/10), fora de casa, contra os já eliminados equatorianos.
Fora do mundo dos números e das calculadoras, a conta não é tão simples, não fecha. Quantificar sentimentos e sensações é quase tão improvável quanto era, no início da competição, imaginar que a seleção capitaneada por aquele que é, discutivelmente, o melhor do mundo, chegaria à última rodada envolta em uma atmosfera de tantos questionamentos e incertezas.
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Morando em Salvador há 38 anos, a agente de viagens Liliana Munhoz personifica esse sentimento de intensidade quase irracional. ?Não acompanho a seleção há cerca de um ano. Estou muito revoltada. Todas as últimas experiências foram uma decepção. Nem sei o que vou fazer hoje, se vou assistir ao jogo. Sei que é crucial?. Nem o craque do time é poupado. ?Messi está muito apático?.
Pensativo, o guia de turismo Oscar Gimenez acredita na classificação. ?Tenho a expectativa que ganhe, mas a seleção é um reflexo da situação caótica que enfrenta o país. São muitas mudanças, muitos problemas com a AFA (Associação de Futebol Argentino), muita corrupção e isso se nota na organização do time?.
Essa bagunça geral dentro e fora das quatro linhas faz com que o time que conta com alguns dos maiores talentos do planeta, sobretudo no aspecto ofensivo, tenha apenas 16 gols marcados em 16 partidas, só à frente da Bolívia. ?Temos alguns dos melhores do mundo, mas o time não corresponde. Muda-se muito a forma de jogo, a forma de trabalho?.
E a seleção brasileira, que passou por situação semelhante no início da competição, ainda na ?Era Dunga?, pode ter papel decisivo neste último ato. Já classificados, os brasileiros vão encarar o Chile, que ocupa a terceira colocação, com 26 pontos, um a mais do que os hermanos. Rumores de que o Brasil poderia entregar a partida para os chilenos, aumentando ainda mais o drama do time comandado por Jorge Sampaoli, também fazem parte das rodas de conversa dos argentinos.
?Eu não sei. A gente que é apaixonado assiste, torce, comenta, mas o futebol virou um negócio. Existe uma rivalidade, mas eu espero que os brasileiros joguem muito bem, como tem sido desde que Tite assumiu?, explica Cris Madrid, que vive em Salvador há quatro décadas.
Para ela, Sampaoli, que ironicamente teve uma trajetória de muito sucesso à frente da seleção chilena, ?pegou o trem andando e muito longe da estação. E completa: ?a seleção sempre nos deixa com um nó na garganta?.
Gimenez também acredita em uma vitória de nossa seleção. ?Eu acho que o Brasil não vai entregar. Uma coisa é a rivalidade entre torcidas, outra coisa são os profissionais. Acho que os brasileiros têm a sua dignidade?.
Questionados sobre a possibilidade de verem a sua seleção fora da disputa do ano que vem, na Rússia, as respostas refletem uma combinação de otimismo, sofrimento e preparação para uma realidade que pode ser nada agradável. ?Assistiria a Copa mais relaxada?, brinca Cris, imaginando o pior cenário. ?Mas tenho a sensação de que a Argentina vai classificar?.
Já Liliana e Gimenez adotam discurso semelhante em caso de desclassificação. ?Ficar fora da Copa do Mundo dói, mas pode ser o início de uma reflexão. Me dói dizer isso, mas é verdade?, diz ela. Gimenez complementa: ?pode ser uma oportunidade que teremos de olhar para dentro?.
Procurado pela reportagem do Aratu Online, o meia Agustín Allione, do Bahia, vê um cenário complicado, mas acredita no potencial dos compatriotas. “A seleção tem jogadores diferenciados e podem decidir uma partida a qualquer momento. Não é fácil jogar lá no Equador, mas eu acredito muito em uma vitória e na classificação para a Copa sem passar pela repescagem”, disse em tom otimista.
Por volta das 22h30, horário de Brasília, saberemos se a Argentina ficará fora dessa dança, ou se levará toda a sua tradição e história para esquentar estádios e corações do outro lado do mundo. Poucas coisas conseguiriam transpirar tanta paixão, amor e dor, quanto um belo tango e o seu triste final feliz.
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