NOCAUTE BAIANO: Falta de patrocínio leva atletas de MMA a quase desistirem do esporte
NOCAUTE BAIANO: Falta de patrocínio leva atletas de MMA a quase desistirem do esporte
Do Nocaute Baiano, parceiro do Aratu Online
Assistir um mega evento de artes marciais mistas (MMA) pela televisão pode dar a sensação de que chegar àquele octógono foi fácil, afinal, muitas pessoas acreditam que, para ser lutador de MMA, basta ?malhar? para ficar traçado e treinar uma ou duas modalidades esportivas. Se engana quem pensa desta maneira. Para alçar grandes voos, os atletas precisam estudar os esportes separadamente e depois aprender como usá-los de forma unificada nas lutas.
Esses guerreiros chegam a treinar duas ou três vezes por dia. Nada de final de semana e muito menos feriado! A situação é ainda mais complicada para quem divide a tarefa de ser lutador de alto rendimento com outra profissão ou com os estudos. Na situação ideal, todos precisariam de suplementos alimentares, acompanhamentos com nutricionista, ortopedista, fisioterapeuta e psicólogo. Por quê? As lesões são comuns para esses atletas e o lado emocional é fundamental para que o desempenho deles seja positivo. Isso sem contar com os gastos com equipamentos e roupas ? que costumam desgastar rápido, devido à intensidade dos treinos. Ah! Também não falamos sobre as despesas com transporte e com as academias (que muitas vezes abrem mão das mensalidades para ajudar o lutador).
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E é por tudo isso que os lutadores precisam de patrocínio. Esse é o caso do atleta Cristiano ?Greco? Cruz, da equipe Virtude Muay Thai. Com um card de cinco vitórias e nenhuma derrota, o lutador explica que precisa do auxílio para custear a rotina de treinos, preparação, dieta, deslocamento, exames médicos e despesas de viagens para lutas. ?Como preciso treinar três vezes por dia, fica inviável o trabalho formal. Isso sem contar as despesas pessoais com família e moradia?, conta Greco, que tem uma filha recém-nascida, dá aulas de Muay Thai e faz faculdade de educação física.
De acordo com o lutador, os empresários não têm interesse em investir em atletas iniciantes. ?Sinto total descaso e desdém. A esmagadora maioria dos investidores quer encontrar um atleta pronto, já com títulos e uma carreira sólida. No meu caso, por exemplo, fui campeão de um evento nacional, em crescente, com transmissão ao vivo. Nocauteei e não recebi uma proposta sequer. Nada! Isso desmotiva muito?, relata Greco.
Ele ? que começou a treinar Muay Thai aos nove anos e aos 14 foi vice-campeão estadual de luta olímpica, estilo greco-romana -, estreou no MMA, com vitória, em 2015 e, atualmente, está na sétima colocação dos penas, de acordo com o Ranking Nacional. Desde então, dedica-se integralmente às artes marciais, ministrando aulas e treinando de segunda a sábado. ?Hoje, o esporte é minha única fonte de renda. O meu objetivo é ser o melhor da minha geração. Tudo me serve de motivação. Meu foco é um só e nenhum tipo de interferência vai me atrapalhar?, crava o atleta.
Já para Geraldo ?Cocão? Guimarães, da equipe Gardenal Boxing, o problema é que o Brasil não tem a cultura de investir em atletas, e os empresários, sobretudo os baianos, não destinam verba para lutadores de MMA. ?Algumas empresas ainda têm a vontade de patrocinar e descontar no imposto de renda, só que a fiscalização acaba ?pegando no pé? dessas firmas, para ver se esse dinheiro está indo de forma correta, realmente como fundo de ajuda para o atleta. Então, mesmo tendo a vontade, as empresas acabam desistindo por causa da burocracia?, opina.
Aos 24 anos, Cocão possui um cartel de 11 vitórias e seis derrotas, e afirma que nunca teve patrocínio, apenas apoio de amigos e familiares em época de luta, e que, por isso, já pensou em desistir. ?Pensar em parar é frequente na vida do atleta de alto rendimento na Bahia, eu que estou no interior [Vitória da Conquista], é mais comum ainda. A dificuldade em continuar nos força a estagnar. Felizmente, o amor pela luta nos mantém firmes. Mas, infelizmente, o MMA não nos dá garantia de futuro. Podemos decolar no esporte, ou não. Melhor garantir com o que é certeza, o estudo?, analisa Cocão.
Atleta da Equipe Demolição Bad Boy, Mayara ?Marrenta? Borges, parou de treinar há um ano, devido a falta de patrocínio somada a uma lesão no ombro. Atualmente, ela faz faculdade de educação física, estagia em um colégio e trabalha dando aulas da Muay Thai. ?Tive que escolher entre meu sonho e minha realidade. Ou eu treino ou eu trabalho e estudo. Com essa rotina não tenho mais tempo para dedicar ao MMA. Se eu tivesse um patrocínio, ou qualquer apoio, estaria atrás do meu sonho, que é chegar ao UFC?, revela.
Mayara lembra que, antes de parar com os treinos, dependia dos professores para ter dinheiro para transporte. Além disso, por falta de recursos, não tinha suplementação e alimentação corretas. Ela pontua que o espaço para as mulheres ainda é restrito no mundo do MMA. ?Os eventos ainda são machistas. A gente observa isso quando o card tem 12 lutas masculinas e apenas uma feminina. Quando comecei haviam poucas mulheres querendo lutar. Hoje, há um universo de meninas querendo chegar ao UFC?, avalia.
Voltar a treinar faz parte dos planos da ?Marrenta? e parece que não vai demorar muito. ?Meu objetivo é voltar a treinar. Estou apenas esperando a liberação do médico para buscar tempo para me dedicar ao esporte?.
Perseverança
Um exemplo para os atletas, principalmente para as mulheres, é a atual campeã dos galos feminino do UFC, Amanda ?A Leoa? Nunes, que enfrentou muitas dificuldades para conseguir chegar ao seu objetivo. Quando começou a treinar forte e sonhar com a maior organização de MMA do mundo, o UFC, Dana White, atual presidente desta, ainda nem considerava a contratação de mulheres.
Sempre confiante, A Leoa apostava que ele precisaria liberar as lutas femininas para acompanhar os avanços da sociedade. Por isso, deixou família e amigos no Brasil em busca de melhores condições no mundo da luta. ?Eu precisei dormir na academia para não desistir do meu sonho. Quando cheguei nos Estados Unidos, não tinha nem roupa de frio e limpava a academia para me manter lá?, conta.
Hoje, além de ter alcançado o seu objetivo ? a cinta do UFC -, A Leoa tem sido requisitada para palestrar em eventos, compor capas de revistas e participar de programas jornalísticos. Além de estar constituindo família nos EUA e recebendo muitas cartas de fãs.
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