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PERFIL: Campeão Brasileiro pelo Bahia, em dificuldade financeira, jogador hoje é porteiro em Brasília

PERFIL: Campeão Brasileiro pelo Bahia, em dificuldade financeira, jogador hoje é porteiro em Brasília

Por André Uzêda

PERFIL: Campeão Brasileiro pelo Bahia, em dificuldade financeira, jogador hoje é porteiro em BrasíliaMontagem - Acervo Pessoal - EC Bahia

As portas que o futebol abriu para Marcos Antônio da Silva, 53 anos, deixaram de ser metafóricas para se tornar literais.


Em 19 de fevereiro de 1989, Marcos Antônio — rebatizado pelo apelido de Marquinhos no futebol — conquistava o título de campeão brasileiro pelo Bahia no Gigante da Beira Rio, em Porto Alegre. Marquinhos era meia esquerda de um time formado por jogadores modestos, regidos sob a batuta do mestre Evaristo de Macedo.


Em uma época bem diferente do futebol atual, cuja circulação de dinheiro modifica a lógica do esporte e salários astronômicos remuneram atletas questionáveis, poucos jogadores daquele escrete tricolor fizeram fortuna ou mesmo garantiram uma vida cercada de confortos e mordomias.



Ronaldo Passos, goleiro daquele time, hoje é radialista; Charles Fabian, centroavante, foi secretário municipal de esporte em Itapetinga e técnico do Bahia (até ser mandado embora do clube ano passado); Zé Carlos, meia, tentou ser vereador este ano, mas perdeu a disputa eleitoral. Bobô, líder técnico daquele grupo, é um dos poucos que goza de uma vida sem maiores sobressaltos na condição de deputado estadual, pelo PCdoB.


Marquinhos faz parte do plantel daqueles que, atualmente, enfrentam dificuldades financeiras. No entanto, por orgulho, não gosta de admitir isso. O ex-jogador integra o corpo de funcionários da Empresa Fox, sediada em Brasília, especializada em oferecer serviços terceirizados para prédios e condomínios da capital federal.


Ele trabalhava como porteiro folguista (aquele que substitui o titular, de férias) de um prédio na cidade satélite de Taguatinga, quando foi reconhecido por Fábio Mota, administrador de empresas e que integra a Embaixada Bora Bahêa Brasília. Mota relembra que o primeiro contato não foi fácil.


“Eu reconheci de cara… Logo quando entrei na portaria. No início, ele que não quis assumir. Disse que era primo do Marquinhos… Apertei, ele acabou falando. Já convidei ele para assistir jogo na minha casa com uns amigos  e para assistir no local onde a galera da embaixada se reúne, mas ele não se mostrou disposto a ir. Ele é muito na dele. Não gosta muito de se expor, falar do passado”, conta.


O Aratu Online conseguiu o contato do ex-meia e mantivemos uma conversa amistosa. Marquinhos contou como foi sua carreira após deixar o Bahia, em 1991.


“Fui para o Cruzeiro, onde fui campeão sul-americano (ganhou a Supercopa dos Campeões da Libertadores da América) ao lado de Charles naquele mesmo ano. Depois passei pelo Ituano e tive uma passagem meteórica pelo Vitória em 1993, que poucos lembram, mas quase fiz parte daquele time deles que conquistou o vice-campeonato brasileiro. Depois estive rapidamente na Áustria, no Brasiliense e acabei a carreira no Ceilândia, em 2001, mesmo time que me projetou para o futebol brasileiro”, pontua.


Natural de Brasília, ele diz manter contato com praticamente todos os jogadores que conquistaram, ao seu lado, o título brasileiro de 1988. “Temos um grupo no whatts app que mantemos a resenha”, diz, animado.


Casado e pai de dois filhos, de 23 e 28 anos, Marquinhos não gosta de falar abertamente de sua situação atual. “Não ganhei muito dinheiro no futebol. De lá, ficaram só as boas lembranças pelo que fizemos. Mas pouco dinheiro”, diz.


Perguntado sobre o ofício na portaria, desconversa. “Aconteceu lá atrás. Precisei. Mas quero mesmo é trabalhar com o futebol. Tive passagens como auxiliar técnico nos clubes daqui de Brasília e gostaria de uma oportunidade. Até no Bahia, se possível”.


A direção do Bahia disse que vai discutir a situação em uma próxima reunião e ver o que pode fazer para ajudar o ex-campeão brasileiro.


O futebol abriu seu caminho no mundo. A dificuldade impôs catracas e barreiras em sua trajetória.


Mas, quem sabe, a oportunidade não bate novamente sua porta?


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