Restrição de celulares: alunos já reconheciam impacto na aprendizagem
Após a restrição do uso de celulares nas escolas, o Nordeste aparece como destaque positivo, representando 87% dos avanços
Por Rosana Bomfim.
Uma pesquisa recentemente revela que, antes do decreto que restringiu o uso de celulares nas escolas, 80% dos alunos já afirmavam que o aparelho prejudicava o desenvolvimento da aprendizagem em sala de aula.
O estudo foi conduzido pelo Equidade.info, iniciativa sem fins lucrativos do Lemann Center da Stanford Graduate School of Education, em parceria com a Frente Parlamentar Mista da Educação (FPME), e trouxe novos dados sobre os impactos da restrição ao uso de celulares em escolas brasileiras.

O relatório, fruto de uma amostra longitudinal e representativa da educação básica, ouviu milhares de alunos, professores e gestores em todas as regiões do país e busca subsidiar políticas públicas educacionais baseadas em evidências.
O estudo revela divergências marcantes entre a percepção dos estudantes e a visão dos educadores sobre a presença e o papel dos celulares no ambiente escolar.
Restrição de celulares: antes e depois do decreto
Antes da entrada em vigor da Lei 15.100/2025, que limitou o uso de celulares em escolas, 80% dos jovens de 15 anos já relatavam que o celular prejudicava sua concentração, sobretudo nas aulas de matemática. Esse dado ajudou a justificar a necessidade da política.

Após a implementação da medida, a percepção dos alunos se inverteu: mais de 80% afirmam prestar mais atenção nas aulas sem o celular. Esse índice alcança 88% no Ensino Fundamental I e 70% no Ensino Médio, indicando que a política tem impacto positivo, mas com diferenças conforme a etapa escolar.
Em relação ao comportamento dos estudantes, o Nordeste aparece como destaque positivo, representando 87% dos avanços. O Centro-Oeste e o Sudeste são as regiões com o menor índice de melhora no ambiente escolar, com 82% indicando que a eficácia das medidas tende a variar segundo fatores regionais.
Divergências na percepção do uso
Segundo os dados, 32% dos alunos que levam celulares à escola afirmaram que nunca mais os utilizam após a restrição. Já entre os professores, apenas 15% acreditam nessa declaração, e entre os gestores, o índice cai para 7%.
Apesar dessa discordância sobre o uso total, existe consenso de que, quando ocorre, o uso é esporádico. Mais de 80% de todos os grupos concordam nesse ponto.
Outro dado mostra que a maioria dos professores (76%) e gestores (82%) considera difícil para os estudantes reduzir o tempo de tela, enquanto pouco mais da metade dos alunos do Ensino Fundamental II e quase dois terços do Ensino Médio reconhecem essa dificuldade.
Propósito do uso do celular
As justificativas para o uso dos aparelhos também se dividem. Alunos afirmam recorrer aos celulares principalmente para se comunicar com a família. Já professores e gestores enxergam a prática como majoritariamente voltada ao entretenimento.
Quando o assunto é aprendizagem, os dados revelam um comportamento curioso: dois em cada três estudantes preferem buscar informações no celular diante de dúvidas de conteúdo, enquanto apenas 34% recorrem ao professor. O contraste é ainda maior no Ensino Médio, onde o uso do celular para sanar dúvidas supera significativamente a busca por apoio docente.
Apoio às restrições e conhecimento das regras
A pesquisa também evidencia divergências quanto ao apoio à restrição. Alunos se mostraram mais favoráveis o uso dos aparelhos: 46% deles defendem a permissão, sendo a taxa mais alta no Ensino Médio (51%) em comparação ao Fundamental II (43%).
Já entre professores (57%) e gestores (58%), a maioria mantém posição contrária ao uso de celulares em sala de aula.
Em escolas de tempo integral, a oposição entre professores e alunos é ainda mais acentuada, enquanto os gestores aparecem divididos.
No que diz respeito ao conhecimento das novas regras, o nível de compreensão é elevado entre professores (84%) e gestores (85%), mas insuficiente entre estudantes: um terço (33%) deles ainda não domina as normas. Entre alunos do Ensino Médio, 60% afirmam compreender as restrições, contra 53% no Ensino Fundamental II.
A pesquisa ouviu 2.840 alunos, 348 professores e 201 gestores no país
Caminho para políticas mais equitativas
O relatório ressalta que essas divergências refletem os desafios de implementação e comunicação das novas normas, mas também revelam tensões mais profundas sobre o papel da tecnologia na escola.
Ao destacar diferenças de percepção entre os grupos, a pesquisa busca apoiar o debate legislativo e a formulação de políticas públicas que promovam maior concentração, reduzam desigualdades educacionais e enfrentem obstáculos no processo de aprendizagem.
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