Cultura

A REVOLTA DA SANFONA: Forrozeiros demonstram insatisfação ante invasão de Sertanejos e Anitta

A REVOLTA DA SANFONA: Forrozeiros demonstram insatisfação ante invasão de Sertanejos e Anitta

Por Cris Almeida

A REVOLTA DA SANFONA: Forrozeiros demonstram insatisfação ante invasão de Sertanejos e AnittaArte - Leow Lopes

O friozinho do interior combina com forró, camisa xadrez e uma dose de licor para esquentar o corpo. E se, ao invés do ‘dois pra lá, dois pra cá’, tiver um ‘show das poderosas’ ou até um ‘baile da santinha’ durante o São João, tá valendo?


A programação lançada por algumas prefeituras no interior do Estado deixou claro que o fenômeno da música sertaneja e do pagode baiano vão invadir, mais uma vez, o São João da Bahia, na edição 2017. Até o pop conquistou a festa tradicionalmente forrozeira. Neste ano, como atração principal, a cidade de Conceição do Almeida, a 160 quilômetros de Salvador, vai receber a funkeira Anitta no primeiro dia de festa. O pagodeiro Léo Santana também faz parte da grade de programação do município.


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A 148 quilômetros dali, em Camaçari, a tradicional festa do mês de junho, o ‘Camaforró’, completa 20 anos e será comandada pelas irmãs sertanejas Maiara e Maraísa, além do cantor de trio Saulo. E ninguém vai precisar pagar sequer 50 reais para conferir a apresentação de Naiara Azevedo, também contratada para animar o evento, já que a prefeitura montou um esquema no Espaço Camaçari, centro da cidade, para receber gratuitamente moradores e visitantes.


E para não dizer que a explicação é que as duas cidades são próximas da diversidade de Salvador, a 468 quilômetros da capital, no município de Irecê, a festa junina recebe Marília Mendonça e a dupla sertaneja Jorge e Mateus para celebrar mais um ano de São João da cidade.


SANFONA NELES


Forrozeiro “pé de serra” e sanfoneiro há quase 10 anos, o cantor Jó Miranda vê esse novo formato do São João no interior como um “choque cultural e capitalista”. “Alguns produtores e administradores estão misturando essa questão do tradicional que deveria ser forte nessa época do ano. Eu respeito os artistas de outros segmentos, mas o São João precisa do forró, embora o forró não precise do São João”, declarou Jó.


Para o sanfoneiro, que fará shows nas cidades de Santo Amaro e São Sebastião do Passé, a prática de agregar ritmos à festa tem mudado outras características do São João. “Essa mudança na musicalidade tira os costumes das vestes tipicas da época, a culinária e até a dança. Eu sou a favor da cultura nordestina, do forró autêntico e do pé de serra”.


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Conhecido pelas músicas que embalam as coreografias dos forrozeiros no São João, o cantor Adelmário Coelho foi questionado pelo Aratu Online sobre a adoção de outros gêneros na festa junina e respondeu com outra pergunta. “Qual a trilha sonora da festa?”. Para Adelmário “a dosimetria está errada em muitos momentos”. “As vezes os sanfoneiros da própria cidade ficam fora das grades que se enchem de atrações de fora”, desabafou. O cantor completou com um pedido. “O ideal é que os gestores tenham mais responsabilidade e valorizem a festa seguindo a tradição nordestina, origem do São João”.


Na mesa linha de Jó e Adelmário, o também forrozeiro João Almeida acredita que os contratantes precisam “preservar a tradição”. “Como a Elba Ramalho disse um dia: “o céu é para todos, mas o São João é uma coisa nossa” e os forrozeiros precisam de mais espaço”. João acredita que há um excesso de sertanejo e pagode nas programações. “Não tenho nada contra a diversidade, mas cultura e tradição precisam ser preservadas, senão, o que vai ficar para as próximas gerações?”.


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João vai animar as cidades de Sapeaçu, Feira de Santana e mais dez municípios do interior da Bahia, e garante que não se sente ofendido enquanto forrozeiro. “A música é universal, mas não tem que haver invasão de outros gêneros na nossa festa. Eu tenho consciência que faço parte da cultura, apesar do São João já estar bastante descaracterizado”.


CONTRATANTES


De acordo com o coordenador de eventos da prefeitura de Camaçari e um dos organizadores do ‘Camaforró’, Luiz Mário, o principal motivo de levar Maiara e Maraísa, Saulo e Naiara Azevedo é para tentar resgatar o São João da cidade. “Não abandonamos o forró, só juntamos ritmos, porque o evento sofreu um declínio no últimos anos e as pessoas estavam saindo da cidade para aproveitar o São João em outros lugares. Fizemos um estudo e descobrimos que o nosso público é muito jovem, a iniciativa é para fazer com que o povo fique aqui”. Luiz Mário destaca que haverá o forró tradicional e o “coreto cultural”, que só vão tocar forró pé de serra, com outras atrações durante o evento, mas “foi preciso adotar uma estratégia” para manter os camaçarienses no município. “Queremos agradar todo mundo para preservar o Camaforró”.


O chefe cerimonial da prefeitura de Irecê, Guel Dourado, rebateu as críticas feitas pelos forrozeiros. “Artistas nacionais sempre foram as principais atrações das festas no interior. O forró foi o que predominou durante muitos anos, então já tivemos o forró no auge da mídia, e como o país segue a tendência do que está sendo mostrado, é natural que a gente traga quem está aparecendo. Chiclete com Banana tocou em Irecê durante anos, assim como Elba Ramalho e Waldick Soriano”, explicou.


Segundo o cerimonialista, a prefeitura não tirou as atrações nacionais da grade porque ela são “o elo que chama turista para a cidade”. O prefeito de Irecê, que assumiu o cargo este ano, incluiu mais atrações do gênero característico da festa, se comparado à 2016. Mas quem vai comandar os cinco dias de musica é a sertaneja Marília Mendonça e Jorge e Mateus. “O gestor decidiu manter as apresentações nacionais, mas tentou aumentar o numero de atrações forrozeiras”, disse, se referindo aos mais de 15 artistas que foram contratados para animar o evento. Além do palco principal, Irecê vai recebe também a Orquestra de Sanfonas, novidade no São João da cidade.


Aratu Online tentou entrar em contato com a prefeitura de Conceição do Almeida, para falar sobre a presença de Anitta e Leo Santana no São João da cidade, mas não obteve resposta.


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