Cultura

Casa de Ogum, no Candeal, é o terceiro terreiro tombado como patrimônio histórico de Salvador

A Casa de Ògún é o único espaço de culto à divindade no Brasil, seguindo e mantendo os mesmos ritos como ocorre em África, onde cada região cultua uma divindade da diáspora africana.

Por Da Redação

Casa de Ogum, no Candeal, é o terceiro terreiro tombado como patrimônio histórico de SalvadorBetto Jr./Secom PMS

A Casa de Ogum, como é conhecido o Okutá de Ògún, tradicional terreiro voltado ao culto do orixá guerreiro no bairro do Candeal, foi tombado nesta segunda-feira (13/6) como patrimônio histórico de Salvador. O espaço religioso é o terceiro no seguimento de religiões de matrizes africanas a ser reconhecido desta forma.


Dentre suas particularidades, a Casa de Ògún é o único espaço de culto à divindade no Brasil, seguindo e mantendo os mesmos ritos como ocorre em África, onde cada região cultua uma divindade da diáspora africana. Essa é uma tradição bicentenária, implantada por uma princesa e sacerdotisa nigeriana, que foi responsável pela compra do terreno e da liberdade de um escravizado, com quem se casou.


Ambos realizaram o primeiro casamento na Igreja de Brotas e, ao oficializar a união no Brasil, passaram a ser chamados por Manoel Mendes e Josepha de Sant'Anna, conforme os ritos de batismo da Igreja Católica. Manoel, então, presenteou sua esposa com uma pedra (Okutá) que havia trazido de África. O objeto, que era do tamanho de uma semente de jaca primeiramente, vem crescendo ao longo do tempo.


O processo de tombamento começou em 2019, por meio de solicitação formulada pela Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA). Para Dona Didi, de 103 anos e Mãe de Santo do templo religioso, esse é um grande momento para a Casa de Ogum. "Me sinto honrada de chegar a esta idade ainda à frente desse espaço tão valioso para todos nós. Tenho a felicidade de participar de um momento ímpar com a lucidez garantida por Deus e os orixás".


Antes do Okutá de Ògúm, a FGM já havia tombado outras duas casas de matriz africana: Ile Aşé Kalè Bokùn, em Plataforma, e Vodun Kwe To Zo, no Curuzu. A definição foi feita pela Prefeitura, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM). 


Iniciando a fala com uma saudação ao orixá que rege o terreiro, o compositor Carlinhos Brown, oriundo do bairro e frequentador da casa de santo, aproveitou para falar da importância da resistência da cultura negra da Bahia. "Não temos que ir pelo caminho dos intolerantes, pois o Brasil foi edificado pelo povo negro, e hoje, com este terceiro tombamento, é mais uma forma de reerguer toda a dinastia africana que veio para a Bahia e o Brasil. É um acerto da Prefeitura. Então, que todos que verdadeiramente representam este povo sejam sempre respeitados. É uma honra fazer parte disso tudo que hoje acontece aqui".



REFORMA


Durante o tombamento, o prefeito Bruno Reis (UB) aproveitou a oportunidade para assinar a ordem de serviço que autoriza a reforma e a modernização do campo de futebol da comunidade. A contratação dos serviços é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), e envolve a implantação de grama sintética e manta de embasamento granular. A obra está orçada em R$447 mil e tem prazo de conclusão de 90 dias.


"Este já é o terceiro terreiro que nós tombamos em Salvador, assim como a Pedra de Xangô, em Cajazeiras, que é um símbolo da cultura de matriz africana em Salvador e o grande espaço de enaltecimento desta fé na cidade", disse o gestor.


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