Após decisão judicial expedida pela 12ª Vara Cível, a peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, estrelado pela atriz travesti Renata Carvalho, foi impedida de acontecer em Salvador, nesta sexta-feira (27/10), no Espaço Cultural da Barroquinha, durante o Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia – Fiac Bahia.
Segundo informações do site do Fiac, a cênica já havia sofrido algumas tentativas frustradas de cancelamento das duas sessões que seriam apresentadas no festival. A primeira, na quinta-feira (26/10), chegou a ser realizada e teve ingressos esgotados. Contudo, a citação chegou às 17h desta sexta, “impossibilitando qualquer tentativa de reverter judicialmente a decisão do juiz de primeira instância”.
Abaixo, parte da nota pública divulgada pela organização do Fiac Bahia, disponível no site oficial do evento: “Para a equipe organizadora do Fiac Bahia, a ocorrência constitui-se uma censura explicita à liberdade de expressão, que tenta impedir a reflexão sobre temas importantes para toda a sociedade. É também uma afronta ao direto dos artistas de ocuparem espaços de visibilidade em nossa cidade, exercendo a liberdade de criar e se expressar a partir de narrativas múltiplas”.
Histórico
‘O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu’ está em cartaz há aproximadamente um ano e já foi cancelada em outro momento, no último mês de setembro, na cidade de Jundiaí, em São Paulo, após decisão do juiz Luiz Antonio de Campos Júnior, da 1º Vara cível do município. A polêmica está no fato de o papel principal do espetáculo ser interpretado por uma travesti.
De acordo com o magistrado, “? muito embora o Brasil seja um Estado Laico, não é menos verdadeiro o fato de se obstar que figuras religiosas e até mesmo sagradas sejam expostas ao ridículo, além de ser uma peça de indiscutível mau gosto e desrespeitosa ao extremo, inclusive. De fato, não se olvide da crença religiosa em nosso Estado, que tem JESUS CRISTO como o filho de DEUS, e em se permitindo uma peça em que este HOMEM SAGRADO seja encenado como um travesti, a toda evidência, caracteriza-se ofensa a um sem número de pessoas”.
Na página oficial da peça no Facebook, a produtora e tradutora da obra, Natália Mallo, escreveu um texto no qual critica o cancelamento da apresentação. ?Desde a nossa estreia, há um ano, passamos por diversas situações de violência: ameaças de censura, ameaça física, insultos e difamação na internet, etc. Mas esta é a primeira vez que o espetáculo é impedido de acontecer?.
Para ela, ?o conteúdo da liminar concedida pelo juiz Luiz Antonio de Campos Júnior, da 1º Vara cível de Jundiaí, que resultou no cancelamento, é um tratado de fundamentalismo e preconceito?.
Mallo completou ainda o texto enfatizando a violência e descaso aos quais os travestis são submetidos diariamente no Brasil, e que ?censurar um espetáculo, em nome dos bons costumes, da fé e da família brasileira parece ser, para alguns fariseus, mais importante e prioritário do que olhar para a sociedade e tentar fazer alguma contribuição concreta para mudar o quadro de violência em que estamos todas e todos soterrados?.
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*Publicada originalmente às 9h22 (28/10)