MEU CARNAVAL: A primeira vez de um repórter que sempre cantou “abraça aí o poeta”
MEU CARNAVAL: A primeira vez de um repórter que sempre cantou “abraça aí o poeta”
Na minha vida inteira, só tinha ido ao Carnaval uma única vez, em 2016. E mesmo assim foram só umas idas tímidas à avenida: vi BaianaSystem, Márcia Castro, Gerônimo e nada mais, deu nem pra molhar o bico. Apesar de adorar uma festa, a folia baiana sempre me intimidou, sempre me pareceu um ambiente caótico e desgovernado. Para alguém medroso como eu, a festa era mais um período de hibernação e Netflix.
No meu primeiro mês como repórter do Aratu Online tive que deixar todos esses meus receios de lado e me jogar na rua todos os dias. Sem massagem quer dizer o quê? Isso mesmo, sem piedade. Já não bastasse minha angústia por não saber se o amor de Léo Santana por Lorena Improta é verdadeiro, mais essa preocupação. Achei que seria uma experiência cansativa e assustadora, mas pela minha cara nesta foto dá pra ver que nem foi:
Cobrir o Carnaval de Salvador me fez olhar a festa pelos bastidores, algo que me revelou coisa demais para contar em 2.000 caracteres. A festa é, como eu imaginava, um turbilhão quase incontrolável, uma muvuca sem precedentes. Mas é incrível como, no final, as coisas funcionam. Sempre é uma agonia para ver Daniela cantar Maimbê, mas é improvável que você não consiga dançar com a Rainha Má no circuito. Os trios sempre demoram de sair do Farol, mas nunca deixam de chegar nas Gordinhas.
(Bem, exceto para Moraes, mas vida que segue.)
O Carnaval tem tudo o que a cidade tem de bom e de ruim exponenciado à enésima potência. Tem a desigualdade social ilustrada pelas cordas — que ainda ensaiam serem largadas. Tem a força e a alegria dos Afoxés e do pagodão, a euforia de uma massa doida a mais de mil decibéis que meu bairrismo impede de crer existir em outra parte do mundo. Tem a brutalidade dos policiais, o descaso com os vendedores ambulantes, a violência aflorada na multidão.
Ajudar a produzir o Carnaval, a contar as mil histórias que surgem durante o Carnaval, é ajudar a entender Salvador, essa metrópole tão bonita quanto armengada, tão plural quanto confusa. Daí a importância de reportar a intimidade ou a antipatia dos artistas com os políticos, dos foliões com os jornalistas, dos ambulantes com quem os consegue ver.
Nos dias nos quais estive na cobertura da folia, que a cada ano fica mais intensa, elétrica e maior, fiquei pertinho de gente que fui aprendendo a admirar a medida que eu ia conhecendo Salvador, de Bell Marques às Filhas de Gandhy, de Márcia Castro aos veteranos do Olodum. Em que outro momento eu ia achar tanta política, arte, cultura e centauros de dreads tudo junto no mesmo lugar? É engraçado que a medida que meus colegas iam ficando cansados com o trabalho pesado, eu fui no fluxo oposto: comecei cansado e fui me energizando.
No fim das contas, a música do Carnaval nem é tão importante assim — embora todos saibamos que Santinha já ganhou há muito tempo.
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