A ONDA FEMINEJO: Como as mulheres dominaram um dos redutos de música mais machistas do país
A ONDA FEMINEJO: Como as mulheres dominaram um dos redutos de música mais machistas do país
?Hoje eu não tô boa pra beber, hoje eu tô excelente?. ?Eu vou beber até cair e se eu cair continuo bebendo deitada nessa miséria?. ?De copo sempre cheio e coração vazio?.
Estas expressões seriam abominadas pelos manuais femininos dos séculos XIX e até meados do século XX, por exemplo. Mas (para nossa alegria) estamos em 2017 e hoje as mulheres estão mais livres e com o microfone na mão para cantar seus sentimentos. Estamos falando da onda Feminejo. Uma corruptela das palavras “Feminismo” com “Sertanejo”.
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O universo sertanejo sempre foi um ambiente dominado por homens. Onde nomes como Chitãozinho e Xororó, Milionário e Zé Rico, Leandro e Leonardo eram grandes referências. Essa predominância masculina seguiu durante anos, até chegar na contemporaneidade com os unânimes Jorge e Mateus, Luan Santana, Gusttavo Lima e mais recentemente Henrique e Juliano e Matheus e Kauan.
Apesar de o Brasil ter a característica de enxergar nas mulheres a representação musical que transcende épocas (vale aqui rapidamente lembrar de vozes como Elis Regina, Maysa, Cássia Eller, Maria Bethânia, Marisa Monte e Ivete Sangalo), até então, no universo sertanejo nunca dava muito espaço para elas. Ou melhor, até dava. Mas apenas nos bastidores.
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Diz um dito popular, ?por trás de um grande homem, há uma grande mulher?. Quando este ditado foi cunhado certamente cabia às mulheres ficar na retaguarda dos homens promovendo um lar harmonioso para garantir o sucesso e bem-estar de seus companheiros. Assim permaneceu no mundo sertanejo.
Por anos as mulheres garantiram a glória masculina nas paradas de sucesso. Quer prova? Temos! A dupla de maior sucesso da atualidade, Jorge e Matheus, dominou o cenário musical por uma década.
O refrão: ?Calma a sua insegurança não te leva a nada, eu quero ser seu homem e te fazer amada. Amar, amar você até você se amar e me amar…?, parece familiar? Pois é! Um dos maiores hits dos sertanejos foi composto por Marília Mendonça, hoje uma das principais cantoras do gênero musical.
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Marília é responsável pelo sucesso de outras duplas, antes de assumir o microfone e colocar seu vozeirão nas suas letras. ?De copo sempre cheio e coração vazio, tô me tornando um cara solitário e frio. Vai ser difícil eu me apaixonar de novo e a culpa é sua?. Já curtiu muito essa música na voz de Henrique e Juliano, não é? Mas essa letra tem donA… Novamente ela, Marília Mendonça.
Além dela, outras mulheres que agora resolveram sair dos bastidores e decidiram protagonizar suas histórias como as gêmeas Maiara e Maraísa, Paula Matos e Paula Fernandes [uma das maiores compositoras do gênero e que abriu caminho para mudança de papéis]. Elas já tiveram suas letras gravadas por Jorge e Mateus, Thaeme e Thiago, Zezé Di Camargo e Luciano, entre outros.
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Grandes sucessos, a exemplo de ?Cuida bem dela?, ?Ser humano ou anjo?, ?Caso indefinido?, ?Prisão sem grande?, ?Que sorte a nossa?, ?Até você voltar?, ?É com ela que eu estou? e aquela música que você ama e tá curtindo super, assim como essas podem ser de Marília Mendonça, Mariara e Maraisa ou Paula Matos.
TRABALHO DE FORMIGUINHA:
Sempre reprimidas pela sociedade, nunca foi fácil para as mulheres chegarem a qualquer lugar, mas é preciso o primeiro passo para que outras possam caminhar mais tarde. Inezita Barroso, nascida em 1925, São Paulo (SP) aprendeu a tocar viola aos sete anos e sua contribuição na música sertaneja abriu o caminho para muitas outras. As duplas formadas apenas por mulheres eram de grande ousadia, responsáveis por uma revolução que ganharia a força que tem hoje, vale destacar duas delas: Irmãs Galvão e as Marcianas. Roberta Miranda precisou enfrentar a família conservadora para seguir carreira [O Feminejo agradece].
Mas, apesar do avanço, ainda tinha muita estrada pela frente. Foi preciso recuar e recomeçar. Uma estratégia adotada para se ?infiltrar? nos palcos sertanejos foi montando duplas mistas.
O diferencial delas era a mulher como protagonista, ou seja, seu nome vem primeiro e a sua voz também. Para a nova geração feminina que queria cantar suas histórias, eis que surge Maria Cecília. Em 2008 ela formou dupla com Rodolfo e colocou a mulher como a primeira voz, inspirando mais tarde Thaeme [descoberta pelo programa ídolos, ainda no SBT].
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Com personalidade forte e figura principal da marca Thaeme e Thiago, a cantora já está em sua segunda parceria. Começou no universo sertanejo ao lado de Thiago Servo em 2011 e agora segue com Thiago Bertholdo [se chamar Thiago parece um requisito básico para formar dupla com Thaeme].
Já inseridas no mercado pelas duplas mistas e cheias de criatividade em suas composições, agora chegou a vez delas de brilhar e dar voz a suas dores, traições, amores e alegrias. Começa a mudança do perfil da mulher e como os amores são cantados nas rádios brasileiras.
Voltando no tempo… Sandy e Júnior é exemplo de uma dupla mista de sucesso onde a mulher era a liderança. Wanessa Camargo, que reassumiu o nome familiar voltou a apostar no gênero que enriqueceu seu pai e que agora domina o país numa versão mais jovial – universitária, desbancando o Axé, Rock, funk e batendo de frente com o pop.
REVOLUÇÃO FEMININA:
Antes musas inspiradoras e causadoras de sofrimento, agora agentes ativas da ação. Sucessos como ?É o amor? de Zezé Di Camargo e Luciano e ?Solidão? de Leandro e Leonardo são exemplos de canções de homens para mulheres. Quebrando o ciclo, Paula Fernandes tirou do papel suas letras e colocou para fora as letras de amor sob a perspectiva feminina.
Falando do campo em ?Jeito de mato? mostra que a mulher faz parte deste universo e pode muito bem liderar os palcos. Mas em ?Pássaro de fogo? Paula canta usando adjetivo masculino ?ser bem mais que um amigo?, ou seja, pode cantar, mas ainda estamos fazendo música de homens para mulheres [calma, conseguimos avançar].
Então, com a chegada das irmãs baianas Simone e Simaria a coisa muda de figura. Rainhas da sofrência, como são conhecidas traçaram um caminho longo até o topo das paradas. Antes backing vocal de Frank Aguiar, depois cantoras da banda Forró do Muido e finalmente as coleguinhas mais amadas do Brasil adotaram o sertanejo. Com letras finalmente empoderadoras, de liberdade e igualdade, além de denúncias como a música ?Ele bate nela? que fala sobre violência doméstica.
VEJA CLIPE “ELE BATE NELA”:
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Aqui a mulher começa a falar de si, por si e para si. A figura feminina é associada a liberdade, baladas, bebida, superação e claro para ganhar o título de rainhas da sofrência muito ?chifre? curado com a ajuda das amigas, da cachaça ou de novos amores.
A sexualidade também é abordada, algo impensado há tempos. Onde se ouviria uma mulher cantar ?quando o mel é bom a abelha sempre volta? ou ?só queria mais um pouco desse sentimento louco de acordar de madrugada pra fazer de novo?. Está inaugurado o Feminejo!
AGORA QUE SÃO ELAS:
Paula Fernandes foi a artista que mais arrecadou pelo Ecad em 2015. Já no ano passado figuraram a lista de artistas mais tocados: Marília Mendonça, Maiara e Maraisa e Paula Fernandes lideram como compositoras. Como interpretes o sucesso se mantém.
Marília teve a segunda música mais tocada do ano nas rádios com ?Infiel? (67,9 mil execuções). As irmãs gêmeas em quinto com ?Medo Bobo? (63,3 mil execuções) e os ’50 reais mais mal gastos da vida’ de Naiara Azevedo ostentou o oitavo lugar (55,9 mil execuções).
Sinônimo de sucesso onde tem balada ou festival sertanejo é obrigatória a presença do trio que domina o cenário musical atualmente no Brasil, claro que falando apenas do sertanejo. Marília Mendonça, Simone e Simaria e Maiara e Maraisa são nomes disputados para compor as grades de atrações, antes preenchidas apenas por figuras masculinas. A diminuição da força de Jorge e Matheus abre espaço para o reinado do Feminejo.
VEJA VÍDEO FEITO PELO ARATU ONLINE SOBRE O ASSUNTO:
Cansadas de serem cantadas [em todos os sentidos da palavra] as mulheres derrubaram as barreiras e dominam um gênero musical onde antes eram apenas bastidores.
Agora, elas ditam as regras, coleguinhas!
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